sábado, 31 de janeiro de 2009

Descoberto um novo asteróide co-orbital da Terra

Com dimensões que vão desde pequenos grãos de poeira interplanetária até grandes asteróides e cometas com alguns quilómetros de diâmetro, são muitos os objectos que vagueiam pelo espaço interplanetário em órbitas próximas da órbita terrestre. Conhecem-se cerca de 6.000 Objectos Próximos da Terra (ou NEOs, abreviatura de Near Earth Object), 767 dos quais com diâmetro igual ou superior a 1 Km. A maioria mantém uma distância segura da Terra, não constituindo a longo prazo uma ameaça à vida no nosso planeta. Os asteróides que se aproximam a uma distância inferior a 0,05 unidades astronómicas (UA) (1 UA = 149.597.870.691 ± 6 metros) ou que têm um diâmetro médio superior a 150 m são considerados Asteróides Potencialmente Perigosos (ou PHAs, abreviatura de Potentially Hazardous Asteroids). Até hoje já foram identificados 1.019 PHAs.
No passado dia 25 de Janeiro, o asteróide 2009BD fez uma passagem a 0,0046 UA da Terra. A designação provisória do asteróide indica que foi muito recentemente descoberto (2009, o ano da descoberta; B, a segunda quinzena do ano; e D, a quarta descoberta dentro da quinzena). Estima-se que o diâmetro do asteróide não ultrapasse os 13 m, dimensão provavelmente insuficiente para que 2009BD sobrevivesse à passagem pela atmosfera terrestre caso colidisse com a Terra. Todos estes factos tornariam 2009BD um objecto muito pouco interessante, não fosse a sua órbita coincidir quase na perfeição com a da Terra. De facto, a órbita deste asteróide possui características muito semelhantes à órbita terrestre: um semi-eixo maior de 1,00737726 UA, um pouco maior que 1,00000011 UA, o semi-eixo maior da órbita da Terra; e uma excentricidade orbital de 0,028, ligeiramente superior a 0,017, a excentricidade orbital terrestre. Estes números indicam que 2009BD executa uma espécie de dança orbital com o nosso planeta, acelerando ou abrandando na sua órbita relativamente à Terra, consoante se encontra ligeiramente mais próximo ou mais longe do Sol que o nosso planeta. Esta dança orbital faz com que actualmente 2009BD e a Terra se ultrapassem mutuamente, colocando o asteróide alternadamente à frente ou atrás do nosso planeta (ver animação aqui). No entanto, esta alternância de posições é temporária, dada a ligeira diferença no eixo semi-maior das duas órbitas. De facto, 2009BD manter-se-á nas proximidades da Terra apenas até ao fim de 2010, altura em que o nosso planeta ultrapassará o asteróide em definitivo. No futuro prevêem-se novas aproximações entre os dois corpos. No entanto, como em cada aproximação o asteróide passa pelo interior da esfera de Hill terrestre (o domínio gravitacional da Terra), esta configuração orbital irá torna-se rapidamente instável. 2009BD sofrerá no futuro desvios importantes na sua órbita que irão quebrar a relação especial que tem com a Terra.

Representação artística da aproximação de 2009BD à Terra vista da superfície do asteróide. Software utilizado: MicroTerra 0.4.1, Terragen 0.9.19, Celestia 1.5.1 e PaintNet 3.35.
Crédito: Sérgio Paulino.


Não é uma novidade a existência de asteróides em ressonâncias orbitais com a Terra. A 10 de Outubro de 1986, o astrónomo escocês Duncan Waldron descobriu o asteróide 3753 Cruithne, um NEO com ressonância orbital 1:1 com a Terra. Visto do nosso planeta, este pequeno asteróide de diâmetro aproximado de 5 Km, parece descrever um percurso em forma de feijão ou de ferradura, em redor de um ponto que se desloca próximo da órbita terrestre. Embora esta configuração orbital seja comum a outros NEOs, em particular, aos asteróides 54509 YORP e 2002AA29, não o é a 2009BD, facto que por enquanto o torna único entre os asteróides com este tipo de ressonância orbital com a Terra.

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