segunda-feira, 27 de abril de 2009

Gliese 581e: o mais pequeno exoplaneta até hoje descoberto

Uma equipa de astrofísicos liderada pelo astrónomo suíço Michel Mayor do Observatório de Genebra, e da qual faz parte Nuno Santos do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto, anunciou na passada semana a descoberta de um quarto planeta em órbita da estrela Gliese 581, uma anã vermelha situada a cerca de 20,5 anos-luz do sistema solar, na direcção da constelação Balança (ver Mayor et al, 2009). Com pouco mais de 1,9 vezes a massa da Terra, Gliese 581e é o exoplaneta com menor massa até hoje detectado. A espantosa descoberta resulta de mais de 4 anos de observações usando o mais produtivo caçador de exoplanetas de pequena massa, o espectrógrafo HARPS, que se encontra instalado no telescópio de 3,6 metros do Observatório Europeu do Sul (ESO), em La Silla, no Chile.

Representação artística do sistema planetário Gliese 581.
Crédito: ESO/L. Calçada.

Com um período orbital de 3.14942 ± 0.00045 dias, Gliese 581e encontra-se demasiado próximo da sua estrela para poder suster água em estado líquido na sua superfície; no entanto, a sua descoberta vem demonstrar que os avanços tecnológicos realizados na última década nos instrumentos utilizados na procura de pequenos planetas extra-solares telúricos, poderão em breve tornar realidade o sonho de detectar mundos com condições de habitabilidade semelhantes às da Terra.
As observações permitiram ainda à equipa de investigadores determinar com maior precisão os parâmetros orbitais do gigante gasoso Gliese 581b e das duas "super-Terras" Gliese 581c e Gliese 581d, descobertos respectivamente, em 2005 e em 2007. A equipa concluiu que o planeta "d" orbita a sua estrela no interior da Zona de Habitabilidade do sistema. Embora seja provavelmente demasiada massivo para ser constituído exclusivamente por material rochoso, Gliese 581d assume-se agora como o mais sério candidato a "planeta oceânico", um grupo de objectos planetários exóticos, caracterizados pela presença na sua superfície de vastos oceanos extremamente profundos.

Diagrama mostrando o sistema planetário Gliese 581 em comparação com o nosso sistema solar.
Crédito: ESO.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Spirit navega em direcção à colina Von Braun

O robot Spirit em missão na superfície de Marte, tem passado os últimos dois meses a contornar o pequeno planalto Home Plate, de forma a atingir alguns locais interessantes situados mais a sul, antes da chegada do Outono à cratera Gusev. O pequeno robot da NASA parece ter encontrado finalmente um caminho desimpedido em direcção à colina Von Braun, um dos possíveis próximos locais de paragem.
Apesar dos 5 anos de missão e dos recentes problemas com a memória flash, o robot Spirit continua inteiramente operacional, deslocando-se todos os dias vários metros em direcção a novos locais de exploração e, quem sabe, a novas e fascinantes descobertas.

Imagem captada a 8 de Abril de 2009 (sol 1871), pela câmara de navegação do robot Spirit, mostrando a pequena colina Von Braun à esquerda, a cerca de 160 metros de distância.
Crédito: NASA/JPL-Caltech.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Dia da Terra

Comemora-se amanhã o dia da Terra, uma efeméride com centenas de eventos em todo o mundo coordenados pela ONG Earth Day Network, que pretende sensibilizar a sociedade civil, em particular os responsáveis políticos, para os graves problemas ambientais existentes no nosso planeta e para a importância da promoção de iniciativas que visem o desenvolvimento sustentável.

A Terra vista da Lua numa imagem captada pela câmara de vídeo de alta definição a bordo da sonda japonesa Kaguya, a 07 de Novembro de 2007. A imagem foi retirada de um vídeo que mostra o pôr da Terra visto da superfície lunar, numa região próxima do pólo sul da Lua.
Crédito: JAXA/NHK.

domingo, 19 de abril de 2009

Primeiras imagens do telescópio Kepler

O telescópio Kepler da NASA captou as primeiras imagens do vasto campo de estrelas localizado na direcção das constelações do Cisne e da Lira, onde em breve irá começar a procurar planetas telúricos. Uma das imagens publicadas pela NASA mostra a totalidade do campo de visão do telescópio, uma porção do céu com cerca de 100 graus quadrados contendo um número estimado de 4,5 milhões de estrelas. Esta rica região da Via Láctea inclui mais de 100 mil estrelas seleccionadas como candidatas ideais para a procura sistemática dos pequenos planetas telúricos.
Os controladores da missão irão continuar a proceder à calibração do fotómetro e ao alinhamento do telescópio de modo a corrigir a focagem. Terminados estes procedimentos, a missão entrará definitivamente na sua fase de exploração científica, monitorizando milhares de estrelas em busca de pequenas alterações periódicas no seu brilho provocadas por trânsitos planetários.

Imagem mostrando a totalidade do campo de visão do telescópio Kepler. São visíveis em destaque o enxame de estrelas NGC6791 que se encontra a 13 mil anos-luz da Terra, e a estrela TrES-2, onde foi descoberto um gigante gasoso quente em trânsito sobre o disco da estrela, com um período orbital de 2,5 dias.
Crédito: NASA/Ames/JPL-Caltech.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Sondas gémeas STEREO em busca das origens da Lua

O segredo da criação da Lua poderá estar escondido nos pontos de Lagrange L4 e L5 do sistema Terra-Sol, duas regiões opostas no espaço interplanetário, resistentes a perturbações gravitacionais. As duas sondas gémeas STEREO (Solar TErrestrial RElations Observatory) encontram-se neste momento em aproximação a estas duas regiões, ocupando gradualmente posições favoráveis para a procura sistemática de pequenos asteróides em órbitas ressonantes com a Terra. A descoberta e o estudo da composição destas pequenas relíquias do início da formação do Sistema Solar poderá trazer resultados preponderantes que possam apoiar a teoria da formação da Lua actualmente dominante, que explica a sua criação como resultado do impacto entre um planetesimal do tamanho de Marte e a proto-Terra. De acordo com a teoria desenvolvida por Edward Belbruno e por Richard Gott, a formação da Lua poderá ter resultado da coalescência das camadas superiores de ambos os objectos, lançadas no espaço pela violência do impacto, o que explica não só as diferenças nas abundâncias relativas de compostos voláteis como também as semelhanças nos isótopos entre as rochas terrestres e as rochas lunares. Teia, como é denominado o planetesimal, terá sido formado pela acrecção de material acumulado algures num dos pontos de Lagrange L4 e L5, sendo a sua colisão com a Terra precipitada por perturbações gravitacionais geradas por outros proto-planetas em crescimento, como por exemplo, Vénus.

Representação artística da colisão de Teia com a Terra ocorrida à cerca de 4,5 mil milhões de anos.
Crédito: Fahad Sulehria (Nova Celestia).

As duas sondas gémeas que integram a missão STEREO têm como objectivo principal captar imagens 3D do Sol, de forma a estudar em detalhe a natureza das ejecções de massa coronal. Utilizando o telescópio contido no instrumento SECCHI (Sun Earth Connection Coronal and Heliospheric Investigation), as duas sondas irão também, durante os próximos meses, procurar pequenos objectos que tenham sobrevivido ao processo de acrecção de Teia. A teoria de Belbruno e Gott será amplamente apoiada se se confirmar a presença de asteróides com composições semelhantes às da Terra e da Lua.

Representação artística das sondas gémeas STEREO.
Crédito: NASA/Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

O crescente de Titã

Titã é uma das mais belas luas do Sistema Solar. Visto do seu lado nocturno, o perfil deste mundo de grandes lagos de metano e etano surge a pairar no espaço, envolvido por um anel de luz dispersa na sua densa atmosfera alaranjada. Durante a sua missão ao sistema saturniano, a sonda americana Cassini tem tido a oportunidade de captar belíssimas imagens dos crescentes de luz de Titã. A equipa científica da missão publicou hoje mais uma dessas imagens mostrando em toda a sua glória a densa atmosfera alaranjada e a neblina púrpura que a envolve.

Imagens do crescente de Titã captadas pela sonda Cassini. A cor da imagem da direita foi intensificada de forma a tornar mais visível a distinta neblina púpura presente nas camadas superiores da atmosfera de Titã.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Tampa protectora do telescópio Kepler removida

Iniciou-se a sequência de procedimentos que irão colocar o fotómetro do telescópio Kepler a analisar a luz das estrelas em busca de exoplanetas telúricos. Os responsáveis pela missão anunciaram anteontem que a tampa protectora do telescópio foi removida com sucesso, e que a luz estelar foi captada pelos quatro sensores localizados nos cantos do plano focal do fotómetro. Durante as próximas semanas, os controladores da missão irão proceder à calibração dos sensores do fotómetro.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Tesouro encontrado no deserto Núbio

O dia 6 de Outubro de 2008 fica marcado pela descoberta de 2008 TC3, um pequeno asteróide com cerca de 2 a 5 metros de diâmetro, em rota de colisão com a Terra. O facto de ter sido detectado poucas horas antes do impacto com o nosso planeta tornou-se só por si um acontecimento sem precedente na História da Astronomia.

Imagem do impacto do asteróide 2008TC3 captada pelo satélite europeu Meteosat 8.
Crédito: EUMETSAT.

Na madrugada do dia 7 de Outubro, o pequeno asteróide de 80 toneladas entrou na atmosfera terrestre e explodiu a grande altitude sobre o deserto Núbio, no norte do Sudão. A aparatosa bola de fogo observada por alguns locais sugeria que o objecto se havia desintegrado completamente antes de atingir o solo. Na esperança de encontrar alguns pequenos fragmentos sobreviventes da explosão, o Dr. Mauwia Shaddad da Universidade de Cartum, auxiliado pelo Dr. Peter Jenniskens do Instituto SETI e do Centro de Pesquisa de Ames da NASA, organizaram no início de Dezembro uma expedição ao local do impacto. Mohammed Alameen, um dos estudantes sudaneses recrutados para a expedição, encontrou o primeiro fragmento apenas 2 horas após o início das buscas. A equipa recolheu no total cerca de 280 fragmentos com um peso total de 5 Kg, num corredor de cerca de 29 Km. O agora designado meteoro Almahata Sitta constitui o primeiro material de um asteróide conhecido a ser recuperado na Terra, proeza com honras de publicação na revista Nature.

Fragmento Almahata Sitta 15.
Crédito: Peter Jenniskens (Instituto SETI/NASA Ames).

terça-feira, 7 de abril de 2009

A pequena lua de Orco, Vanth

Depois de 2 semanas de espera e mais de 1000 sugestões recebidas, eis que Mike Brown escolhe por fim o nome Vanth para a lua de Orco S/1 90482 (2005). Sendo uma das divindades ctónicas puramente etruscas, Vanth assumia-se como uma das principais hipóteses em escolha para submissão à União Astronómica Internacional. Companheira regular de Charu, o deus etrusco guardião da entrada do submundo (nome importado do grego Caronte), Vanth guiava os mortos até à sua nova morada no inferno. É frequentemente representada em frescos pintados em câmaras tumulares e em sarcófagos etruscos, como uma deusa alada segurando uma tocha acesa.

Fresco etrusco de uma câmara tumular encontrada em Tarquinia, na Toscânia, representando a deusa psicopompa Vanth.
Fonte: Anzio Rizi, Canino.Info, Il Portale Culturale della Tuscia.

A minha sugestão foi Endovélico, um deus lusitano de carácter simultaneamente ctónico e solar, em nada relacionado com Orco, mas cujo culto sobreviveu à invasão da Península Ibérica pelos Romanos. Sabia que seria uma sugestão com poucas hipóteses de ser aceite, uma vez que a sua mitologia não encaixa no perfil que seria admissível para a lua de Orco; no entanto achei que seria uma oportunidade de tentar colocar um pouco de mitologia lusitana nos céus. Talvez no futuro se torne uma escolha de Mike Brown para outros objectos da Cintura de Kuiper.

Aranhas em Marte!

À medida que a Primavera avança no Hemisfério Sul de Marte, o aumento das temperaturas inicia a sublimação da calote polar de dióxido de carbono. Este fenómeno sazonal coincide com o aparecimento de marcas radiais no solo gelado, formadas pela erupção abrupta de gases presos no interior das camadas de dióxido de carbono gelado, que arrastam e depositam na superfície poeira escura. A câmara HiRISE a bordo da sonda americana Mars Reconnaissance Orbiter captou recentemente pormenores de uma destas bonitas estruturas, frequentemente designadas aranhas devido à sua forma.

Imagem captada a 4 de Fevereiro de 2009, pela câmara HiRISE a bordo da sonda Mars Reconnaissance Orbiter, mostrando a estrutura intrincada de uma aranha.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/Universidade do Arizona.