domingo, 28 de fevereiro de 2010

Os gêiseres de Baghdad

Encélado continua a surpreender. A equipa científica de imagem da missão Cassini lançou a semana passada, um conjunto de novas imagens captadas durante a passagem por Encélado, a 21 de Novembro de 2009. Esta foi a última passagem pelo pólo sul da pequena lua de Saturno, antes da longa noite que irá cobrir a região nos próximos 15 anos. Embora mais longínqua que muitas das anteriores, a passagem de Novembro foi planeada para permitir a identificação de novos gêiseres nos quatro sulci que rasgam o pólo sul. Foram observados mais de 30 jactos de água e gelo, incluindo cerca de 20 novos nunca antes observados. Um dos gêiseres mais activos perdeu força desde a passagem anterior! Aparentemente, Encélado é geologicamente mais dinâmico que aquilo que se pensava.
A passagem da Cassini possibilitou ainda a recolha em simultâneo de imagens de alta resolução e de leituras espectrométricas no infravermelho de Baghdad Sulcus, uma das quatro fracturas activas no pólo sul de Encélado. A combinação de dados permitiu à equipa identificar temperaturas superiores a 180 K no interior de um dos segmentos da fractura, temperaturas consideravelmente superiores às identificadas em passagens anteriores. Cada vez mais os dados apontam para a existência de bolsas pressurizadas de água líquida no interior de Encélado. Que mais surpresas nos reservará este pequeno mundo gelado?

Mosaico de um segmento com 40 Km de Baghdad Sulcus, uma das quatro profundas fendas que rasgam o pólo sul de Encélado. Visível em sobreposição encontra-se uma imagem térmica obtida pelo espectrómetro de infravermelhos CIRS (Cassini Composite Infrared Spectrometer). Os dados foram recolhidos durante a passagem da sonda Cassini por Encélado a 21 de Novembro de 2009.
Crédito: NASA/JPL/GSFC/SWRI/SSI.

O crescente de Encélado suspenso acima da Saturno, numa bela imagem captada pela Cassini a 21 de Novembro de 2009. Reparem nos jactos de água e gelo a emanarem do pólo sul da pequena lua.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.

A Sinfonia da Ciência

A Sinfonia da Ciência é um brilhante projecto da autoria de John Boswell, que utiliza frases de cientistas famosos e um processador de audio para compor temas musicais. O último tema lançado, The Poetry of Reality, reúne vozes de personalidades como, Carl Sagan, Richard Feynman, Richard Dawkins, Stephen Hawking, entre outros.
Tal como Dawkins diz, a ciência é a poesia da realidade. Belo e, ao mesmo tempo, verdadeiro... O que acham?

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Um novo olhar sobre uma avalanche marciana

Reconstrução 3D de uma avalanche marciana fotografada pela Mars Reconnaissance Orbiter a 19 de Fevereiro de 2008.
Crédito: NASA/JPL/University of Arizona/modelo 3D por Bernhard Braun.

Em 2008, a sonda Mars Reconnaissance Orbiter surpreendeu um conjunto de avalanches em acção numa escarpa com 700 metros de altura, localizada perto do pólo norte do planeta vermelho.
Bernhard Braun (membro do fórum UnmannedSpaceflight.com) criou, recentemente, uma série de belíssimas prespectivas tridimensionais da famosa avalanche marciana, recorrendo a um novo software por si desenvolvido, capaz de gerar modelos tridimensionais a partir de uma única imagem bidimensional. Geralmente, a reconstrução tridimensional requer pelo menos duas imagens do mesmo local em prespectivas diferentes, ou a combinação de imagens com dados altimétricos. O novo algoritmo de reconstrução 3D fotoclinométrica desenvolvido por Braun permite, no entanto, deduzir a topografia de um local a partir da simples análise do comprimento das sombras.
Vejam aqui o conjunto das maravilhosas prespectivas tridimensionais da avalanche marciana, criadas por Bernhard Braun.

Imagem captada pela câmara HiRISE da sonda Mars Reconnaissance Orbiter, que serviu de base para a reconstrução 3D de Bernhard Braun.
Crédito: NASA/JPL/University of Arizona.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Artigo no AstroPT

Leiam aqui o artigo que escrevi para o blog AstroPT sobre as fontes hidrotermais alcalinas e o seu papel na origem da vida na Terra.

Uma das chaminés das fontes hidrotermais alcalinas de Lost City.
Crédito: University of Washington.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Jápeto à distância

Jápeto visto pela Cassini, no passado dia 19 de Fevereiro de 2010, a aproximadamente 1,5 milhões de quilómetros de distância. Visível a sul, encontra-se Engelier, uma enorme cratera com 504 Km de diâmetro.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/composição a cores por Sérgio Paulino.

Sei que andei na última semana muito voltado para Saturno mas, mais uma vez, não pude deixar de publicar mais uma bela imagem recentemente captada pela Cassini. Desta vez, temos Jápeto, a lua yin-yang de Saturno. A imagem mostra parte do seu hemisfério brilhante.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Mimas, Tétis e a dança orbital de Epimeteu e Jano

Passaram mais de 6 anos desde a chegada da sonda Cassini ao sistema saturniano, e só agora é que tivemos a primeira passagem pela lua Mimas. Situada numa órbita bem próxima da margem exterior do sistema de anéis de Saturno, Mimas constitui um alvo perigoso para a Cassini, pelo que esta primeira passagem será também, muito provavelmente, a última. O voo a pouco mais de 9.500 Km da pequena lua saturniana permitiu não só a captação das primeiras imagens de alta-resolução da hemisfério mais distante de Saturno, como também a recolha de importantes dados relativos à temperatura e composição da superfície.

A lua Mimas numa pose que lembra a Estrela da Morte, a estação espacial imperial da saga "Guerra das Estrelas". A imagem foi captada pela sonda Cassini no passado dia 13 de Fevereiro, a 67.607 Km da superfície de Mimas.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.

A cratera Herschel é, sem dúvida, a estrutura mais surpreendente nas imagens obtidas pela Cassini. Com cerca de 10 Km de profundidade, Herschel é uma das mais profundas crateras de impacto do Sistema Solar. Um dos aspectos mais interessantes desvendados pelas câmaras da Cassini é a impressionante escassez de crateras no seu interior. Aparentemente, Herschel é um adereço recente, em termos geológicos, na superfície de Mimas. A faixa escura visível ao longo das suas paredes constitui um outro aspecto curioso. Será esta faixa um vestígio do calor do impacto que formou Herschel, ou antes, uma camada exposta da estrutura interna de Mimas?

A cratera Herschel, uma gigantesca cicatriz com 139 Km de diâmetro.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.

A rápida visita da Cassini a Mimas possibilitou ainda a passagem por outras luas interiores do sistema saturniano. O périplo iniciou-se em Calipso (vejam a mensagem anterior sobre esta passagem por Calipso) e terminou, horas depois, com uma passagem por Tétis. Pelo meio a Cassini realizou uma passagem por Epimeteu e Jano, duas luas co-orbitais protagonistas de uma complicada dança gravitacional. De 4 em 4 anos, Epimeteu e Jano executam, durante 100 dias, uma troca de posições na sua órbita, que as impedem de se aproximarem demasiado entre si. Esta visita da Cassini coincidiu com esse momento especial da vida das duas pequenas luas.

O hemisfério ocidental de Tétis numa imagem captada pela sonda Cassini, a 13 de Fevereiro de 2010, a uma distância de 172.048 Km da sua superfície. Visível a norte, encontra-se a colossal cratera Odisseus, com 445 Km de diâmetro.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.

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Epimeteu passando em frente de Jano, numa sequência de imagens captadas pela Cassini, a 13 de Fevereiro de 2010.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/animação de Sérgio Paulino.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

O Império Contra-Ataca!

O Deserto do Sahara visto pela nova cúpula recentemente instalada na Estação Espacial Internacional.
Crédito: NASA.

Quando vi esta imagem hoje no site da NASA, lembrei-me instintivamente da vista do cockpit de um Tie Fighter sobre a superfície desértica de Tatooine. Vejam só se não são semelhantes a nova cúpula da Estação Espacial Internacional e a janela do cockpit de um Tie Fighter.

Caça imperial Tie Fighter da saga "Guerra das Estrelas".
Crédito: Jim Bassett (http://www.jrbassett.com/).

As auroras de Saturno vistas pelo Hubble

Sequência de imagens de Saturno, captadas pelo Hubble entre 23 de Janeiro e 7 de Março de 2009, mostrando as auroras boreal e austral saturnianas. Foi usado um filtro de UV distante para tornar as duas auroras mais proeminentes em relação à atmosfera saturniana (a cor azul é uma falsa coloração geralmente usada em imagens obtidas com filtros UV).
Crédito: NASA/ESA/Jonathan Nichols (University of Leicester).

Embora já tivessem sido observadas pela sonda Cassini, as auroras saturnianas nunca tinham sido vistas em simultâneo. Aproveitando a proximidade do equinócio de Saturno, investigadores europeus utilizaram o telescópio espacial Hubble para captar as primeiras imagens do movimento simultâneo das duas auroras do planeta dos anéis. Foram reunidas mais de 600 imagens num único filme de rara beleza, que traduz a actividade das auroras boreal e austral de Saturno, no período entre 23 de Janeiro e 7 de Março de 2009. Os dados obtidos permitiram aos investigadores uma nova compreensão da estrutura do campo magnético saturniano e da sua interacção com o vento solar.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Calipso, a lua troiana de Tétis

Calipso numa imagem a cores captada ontem pela sonda Cassini.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/composição a cores por Sérgio Paulino.

Aqui está uma das melhores imagens de Calipso! Captada ontem pela sonda Cassini, a pouco mais de 21.000 Km de distância, a imagem denuncia uma superfície coberta por uma fina poeira que esconde a maior parte da topografia desta pequena lua saturniana. Calipso é uma das duas luas troianas de Tétis.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

NASA lança observatório solar

Lançamento do foguetão Atlas V com o Solar Dynamics Observatory a bordo, em Cabo Canaveral, na Florida, EUA.
Crédito: United Launch Alliance/Pat Corkery.

Já está no espaço o mais recente observatório solar da NASA. Depois de sucessivos adiamentos do seu lançamento devido a condições atmosféricas adversas, o Solar Dynamics Observatory (SDO) acabou por partir ontem, pelas 10:23 (hora local), a bordo de um foguetão Atlas V. O sofisticado observatório vai agora posicionar-se numa órbita geosincrónica, a cerca de 35.800 Km da Terra.
O SDO foi concebido para estudar em detalhe o interior do Sol e a estrutura e funcionamento do campo magnético solar. A NASA espera que os dados recolhidos durante a missão disponibilizem aos investigadores as ferramentas necessárias para o desenvolvimento de modelos preditivos de tempestades solares, e para o entendimento de outros fenómenos solares que afectam o clima do nosso planeta, e que regularmente interferem com o normal funcionamento de satélites e sondas de exploração no espaço.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Spirit moveu-se!

Para quem tem acompanhado a saga dos últimos meses do robot Spirit na superfície de Marte, ainda não é caso para comemorações. Spirit continua atolado nas areias de Troy.
O recente anúncio da NASA de transformar o robot numa plataforma científica imóvel parece ter acabado com as poucas esperanças que ainda restavam de o manter na sua viagem de exploração. Os responsáveis da missão têm agora canalizado os seus esforços apenas para recolocar o robot numa posição favorável para que possa sobreviver ao Inverno marciano com o máximo de luz incidente nos seus páineis solares. No entanto, um vídeo colocado hoje no YouTube pelo Laboratório de Propulsão a Jacto (JPL) mostra muito movimento nas últimas 3 semanas (cerca de 34 centímetros!); algo que me deixa a pensar se não seria ainda possível salvar Spirit da sua prisão...

Movimentos do robot Spirit entre 14 de Janeiro e 4 de Fevereiro de 2010.
Crédito: NASA/JPL.

Um novo mapa da superfície de Plutão

Mapa da superfície de Plutão construído a partir de imagens obtidas pelo Telescópio Espacial Hubble em 2002 e 2003.
Crédito: NASA/ESA/Marc Buie (Southwest Research Institute).

Marc Buie, do Southwest Research Institute, lançou esta semana o melhor mapa até hoje obtido da superfície de Plutão. Baseado em imagens captadas pelo telescópio espacial Hubble em 2002 e 2003, o novo mapa mostra um pequeno planeta matizado por um conjunto de cores, que oscilam entre o branco, o laranja e o cinzento-escuro. Foram precisos cerca de 4 anos de trabalho contínuo e 20 computadores a operar em simultâneo para processar as imagens e construir o mapa global. Pensa-se que a variedade de cores resulte da presença de compostos orgânicos, formados quando a radiação ultra-violeta solar atinge as moléculas de metano presentes na superfície e na atmosfera extremamente rarefeita de Plutão.

Representação artística da superfície de Plutão, mostrando metano gelado puro a cobrir a superfície. Suspensa no céu, logo acima da superfície, encontra-se Caronte, a maior lua de Plutão.
Crédito: ESO/L. Calçada.

Um dos aspectos mais interessantes do trabalho de Buie é o de permitir identificar alterações profundas na superfície de Plutão, quando se compara o novo mapa com um anterior, obtido a partir de imagens captadas pelo Hubble em 1994. Surpreendentemente, a superfície de Plutão mudou de forma significativa em 8 anos, tornando-se globalmente mais avermelhada, e acumulando mudanças radicais no padrão de distribuição da cor e do brilho. Aparentemente, Plutão é um dos objectos mais dinâmicos do Sistema Solar! Preso numa órbita bastante excêntrica e com uma inclinação do seu eixo de rotação de 119,5º, o pequeno planeta sofre profundas modificações climatéricas sazonais, responsáveis pela redistribuição dos gelos de metano, nitrogénio e monóxido de carbono entre a superfície e a atmosfera. A sublimação dos gelos para a atmosfera poderá ser, de facto, a melhor explicação para as alterações de cor e de brilho observadas (uma hipótese reforçada, ainda, por outras observações, que indicam que a massa da atmosfera de Plutão poderá ter duplicado entre 1988 e 2002).
O novo mapa vai constituir uma importante ferramenta de trabalho para a programação da missão New Horizons, uma missão da NASA que terá como expoente máximo um encontro próximo com o planeta em Julho de 2015.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

NASA prolonga missão Cassini até 2017

A aventura de exploração do sistema saturniano pela sonda Cassini foi hoje prolongada por mais 7 anos. Designada Cassini Solstice Mission, a nova missão vai acompanhar Saturno e as suas luas até poucos meses depois do próximo solstício saturniano, que irá ocorrer em Maio de 2017. Ficam assim programadas para os próximos anos, 155 órbitas adicionais, onde se incluem 54 passagens por Titã e 11 passagens pela lua gelada Encélado. Deixo-vos um gráfico com o calendário destas e de outras passagens pelas luas saturnianas, incluindo as já executadas, as planeadas para o resto da presente missão, e as programadas para a nova missão.

Sumário das passagens da sonda Cassini pelas luas de Saturno, ao longo das três missões (missão primária, missão equinócio e missão solstício).
Crédito: NASA/JPL.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Hubble observa P/2010 A2

Imagem do objecto de aspecto cometário P/2010 A2 (LINEAR), captada pelo telescópio espacial Hubble, a 29 de Janeiro de 2010.
Crédito: NASA/ESA/David Jewitt (UCLA).

Aparentemente, o estranho objecto P/2010 A2 (LINEAR) poderá ter mesmo resultado da violenta colisão entre dois asteróides anteriormente desconhecidos. Imagens do objecto captadas na semana passada, pelo telescópio espacial Hubble, mostram claramente uma complexa estrutura entrelaçada de filamentos de poeira no que parece ser a cauda de um cometa. Ligado à cauda por um denso filamento, encontra-se um pequeno ponto brilhante: provavelmente, um fragmento rochoso com cerca de 140 metros de diâmetro.
Até agora, não foram detectados gases na cauda de P/2010 A2, o que reforça a hipótese deste objecto ser um conjunto de destroços deixados pela colisão entre dois asteróides. Apesar de fazerem parte da vida dos objectos residentes na Cintura de Asteróides, tais colisões são fenómenos extremamente raros, nunca antes observados: um facto que torna P/2010 A2 algo verdadeiramente especial!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

A lua Prometeu

A lua Prometeu, numa imagem captada pela sonda Cassini, a 27 de Janeiro de 2010.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/composição a cores por Sérgio Paulino.

Uau... Certamente, uma das mais belas imagens de Prometeu. Captada na passada semana pela sonda Cassini, a uma distância de cerca de 40.000 Km, a imagem revela não só alguns pormenores da superfície acidentada desta lua pastora do anel F, como também duas faixas escuras na sua face iluminada: provavelmente, as sombras de espirais de poeira originadas por interacções gravitacionais entre Prometeu e o anel F!