sexta-feira, 2 de abril de 2010

Os segredos de Mimas

No mês de Fevereiro, o passeio da sonda Cassini pelo sistema saturniano teve como momento alto um encontro com Mimas. A passagem próxima permitiu a obtenção das primeiras imagens de alta-resolução da superfície da pequena lua, em particular, do hemisfério dominado pela cratera Herschel.

A lua Mimas num mosaico de imagens captadas pela sonda Cassini durante a sua passagem a 13 de Fevereiro de 2010. Ocupando uma extensa área da sua superfície encontra-se a gigantesca cratera de impacto Herschel, uma cicatriz profunda com cerca de 139 Km de diâmetro. Reparem na escassez de crateras no seu interior. Será este um indício de formação recente? Reparem também nas faixas escuras que tingem as porções inferiores de algumas crateras, incluindo Herschel. Os cientistas da missão acreditam que estas faixas são uma evidência da gradual acumulação de impurezas nestas regiões por volatização do gelo de água e de outros materiais voláteis.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.

Esta semana, a NASA tornou público um novo mapa da distribuição das temperaturas na superfície de Mimas, construído com os dados recolhidos pelo espectrómetro de infravermelhos CIRS da Cassini durante esse encontro com a pequena lua. Como já vem sendo vulgar na missão Cassini, novos dados correspondem muitas vezes a resultados inesperados. Desta vez a surpresa surgiu no padrão da distribuição das temperaturas numa das luas de Saturno aparentemente menos interessantes. Para um corpo sem atmosfera como Mimas, seria de esperar a presença de temperaturas relativamente mais elevadas na região equatorial, junto ao ponto em que o Sol se encontra directamente em posição perpendicular à superfície. Na realidade, no caso de Mimas, as temperaturas mais elevadas distribuem-se num bizarro padrão em V que se estende entre os dois pólos nas regiões banhadas pelos primeiros raios solares da manhã.

Os bizarros padrões de distribuição das temperaturas diurnas, obtidos pelo espectrómetro de infravermelhos CIRS existente a bordo da sonda Cassini, durante o encontro com a pequena lua de Saturno no passado dia 13 de Fevereiro de 2010. As leituras mais elevadas encontram-se representadas a amarelo e correspondem a temperaturas próximas de 92 K (- 181 ºC), enquanto que as mais baixas estão representadas a azul e correspondem a temperaturas próximas de 77 K (-196 ºC). O painel superior compara a distribuição de temperaturas esperada para um corpo esferóide sem atmosfera com a distribuição anómala de temperaturas observada pela Cassini. O símbolo branco em forma de Sol representa o local de incidência directa da radiação solar. O painel inferior mostra o alinhamento aproximado da distribuição de temperaturas com o mapa da superfície de Mimas em luz visível.
Crédito: NASA/JPL/GSFC/SWRI/SSI.

Aparentemente, a distribuição das temperaturas não se relaciona directamente com nenhuma das estruturas geológicas reconhecidas na superfície de Mimas, apesar de Herschel se situar próximo do centro da região mais fria. Uma das explicações mais plausíveis relaciona a região fria com a possível presença de grandes quantidades de materiais com elevada condutividade térmica na superfície de Mimas, que poderiam canalizar de forma eficaz o calor da radiação solar para camadas subsuperficiais. Esta hipótese não explica, no entanto, a presença da faixa quente em V e da fronteira bem definida entre as regiões quente e fria. Estes são, por agora, segredos bem guardados, apenas para desvendar no futuro. Com estes novos dados, a equipa científica da missão Cassini irá dar, certamente, nos próximos encontros, mais atenção a esta pequena lua de Saturno.

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