sábado, 25 de setembro de 2010

Fobos poderá ter sido formada após impacto catastrófico em Marte

A pequena lua marciana Fobos numa imagem a cores captada pela câmara HRSC (High Resolution Stereo Camera) da Mars Express, a 22 de Agosto de 2004.
Crédito: ESA/DLR/FU Berlin (G. Neukum).

As duas pequenas luas de Marte sempre intrigaram os astrónomos. A maioria das teorias sobre a sua formação sustenta que Deimos e Fobos são asteróides formados na Cintura de Asteróides e, posteriormente, capturados pela gravidade do planeta vermelho em órbitas progressivamente mais estáveis. No entanto, as respectivas densidades (significativamente inferiores às observadas nos asteróides) evidenciam estruturas demasiado frágeis para que os dois corpos pudessem ter sobrevivido intactos às tensões gravitacionais geradas durante o processo.
Esta semana, dois investigadores europeus anunciaram no Congresso Europeu de Ciência Planetária, em Roma, uma possível solução para este problema. De acordo com os trabalhos apresentados por Marco Giuranna do Instituto Nacional de Astrofísica de Roma, e por Pascal Rosenblatt do Observatório Real da Bélgica, a formação de Fobos deverá ter ocorrido in situ, após um impacto catastrófico em Marte, por re-acreacção de material ejectado da superfície marciana. A surpreendente conclusão resulta da interpretação das observações da superfície de Fobos em comprimentos de onda no infravermelho, realizadas independentemente pela Mars Global Surveyor e pela Mars Express.
Segundo Marco Giuranna, estas observações permitiram a detecção inequívoca, pela primeira vez, da presença de filossilicatos na superfície da lua, particularmente nas áreas a nordeste de Stickney, a maior cratera de Fobos. O achado é deveras intrigante, uma vez que a ocorrência destes minerais implica a interacção de materiais ricos em silicatos com a água em estado líquido, um processo que se sabe, deverá ter ocorrido no passado na superfície de Marte. A presença dos filossilicatos em Fobos parece assim indicar uma íntima ligação entre a pequena lua e as rochas da superfície marciana.

Locais em Fobos onde foi detectada a presença de filossilicatos.
Crédito: Marco Giuranna.

Pascal Rosenblatt reafirmou o cenário da acrecção in situ de Fobos, depois de apresentar a análise das leituras realizadas pelo instrumento MaRS (Mars Radio Science Experiment) que segue a bordo da Mars Express, durante diferentes passagens pela pequena lua. Partindo do estudo das variações na frequência das comunicações rádio entre a sonda europeia e a Terra, a equipa da MaRS reconstruiu com precisão as perturbações gravitacionais induzidas por Fobos na trajectória da Mars Express. Com esses dados, a equipa conseguiu calcular a massa da pequena lua com uma precisão sem precendente, e deduzir a respectiva densidade, limitando-a para valores de 1,86 ± 0,02 g/cm3 (a melhor estimativa de sempre). De acordo com Rosenblatt, os valores obtidos indiciam que a estrutura interna de Fobos deverá ter uma porosidade na ordem dos 25-45%, uma característica que parece confirmar o cenário da formação por re-acrecção.
O veredicto final relativamente ao problema da formação das luas marcianas não está ainda, no entanto, completamente definido. A questão só deverá ficar completamente elucidada com a realização da missão russa Phobos-Grunt, uma missão à superfície de Fobos cujo objectivo principal será a obtenção e devolução à Terra de uma amostra da pequena lua marciana.

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