quarta-feira, 30 de março de 2011

MESSENGER: Primeira imagem obtida a partir da órbita mercuriana

Primeira imagem obtida pela MESSENGER desde a sua chegada a Mercúrio no passado dia 18 de Março. Imagem captada a 29 de Março de 2011 pela câmara de grande angular do instrumento Mercury Dual Imaging System (MDIS).
Crédito: NASA/Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory/Carnegie Institution of Washington.

A sonda MESSENGER obteve ontem de madrugada a primeira imagem da superfície de Mercúrio desde a sua entrada na órbita mercuriana. A imagem cobre grande parte do hemisfério sul do mais pequeno planeta do Sistema Solar, incluindo as regiões em redor da cratera raiada Debussy e da enigmática cratera Matabei, e uma porção da superfície junto ao pólo sul nunca antes observada.

A mesma imagem de cima com algumas crateras assinaladas, incluindo Mendes Pinto, uma cratera com o nome do aventureiro e explorador português do século XVI e autor da emblemática obra Peregrinação Fernão Mendes Pinto. Está ainda indicada a região fotografada pela primeira vez.
Crédito: NASA/Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory/Carnegie Institution of Washington/anotações de Sérgio Paulino.

Durante as 6 horas que se seguiram, a MESSENGER obteve mais 363 imagens, algumas das quais deverão ser apresentadas pela equipa da missão na teleconferência de imprensa que decorrerá logo pelas 19:00 (hora de Lisboa). Nos próximos três dias juntar-se-ão a estas outras 1.185 imagens, que deverão ser captadas com o objectivo principal de verificar o normal funcionamento do sistema de imagem MDIS e dos sistemas de comunicação com a Terra. O mapeamento contínuo da superfície de Mercúrio deverá iniciar-se logo após o arranque da fase operacional da missão, no próximo dia 4 de Abril.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Sol fervilha em actividade

A actividade fervilhante do Sol. Imagem captada a 28 de Março de 2011 pelo instrumento Atmospheric Imaging Assembly do Solar Dynamics Observatory), através do canal de 171 Å (Fe IX).
Crédito: SDO(NASA)/AIA consortium.

A actividade solar entrou aparentemente numa nova fase de dinamismo. Nos últimos dias, uma profusão de manchas solares despoletou uma discreta (mas sustentada) tempestade de emissões rádio na banda dos 180 MHz (oiçam aqui as emissões rádio do Sol captadas ontem pelas 19:30 UT por um radioastrónomo amador). De acordo com a NOAA, espera-se uma intensificação da actividade solar nos próximos dias, com um aumento da probabilidade da ocorrência de erupções solares de classe M e X com origem nas regiões activas AR1176 e AR1183.

Regiões em actividade no disco solar. Imagem captada a 28 de Março de 2011 pelo instrumento Atmospheric Imaging Assembly do Solar Dynamics Observatory), através do canal de 4500 Å.
Crédito: SDO(NASA)/AIA consortium/anotações de Sérgio Paulino.

domingo, 27 de março de 2011

Crateras marcianas com nomes portugueses: a cratera Lisboa

Lisboa (ao centro), mais uma pequena cratera em Chryse Planitia (ver aqui imagem original).
Crédito: ESA/DLR/FU Berlin (G. Neukum).

O périplo pelas crateras marcianas com nomes portuguesas termina hoje na cratera com o nome do porto marítimo da capital de Portugal.
Lisboa é uma pequena cratera com 1,17 quilómetros de diâmetro situada nas proximidades de uma das cristas que forma o sistema de Xanthe Dorsa, em Chryse Planitia. Tal como a cratera Funchal, Lisboa não aparenta ter qualquer característica geológica singular que a torne mais interessante que outras pequenas crateras na região, pelo que deve certamente a sua designação oficial à sua localização nas proximidades do local de amartagem do robot da NASA Viking 1.

A cratera Lisboa e outras pequenas crateras com nomes oficiais nas redondezas. Reparem nas várias cristas de Xanthe Dorsa que rasgam a paisagem nesta região.
Crédito: ESA/DLR/FU Berlin (G. Neukum)/anotações de Sérgio Paulino.

Mapa do local de amartagem do robot Viking 1, construído com imagens captadas pela sonda Viking Orbiter 2 a cerca de 300 km de altitude. Estão assinaladas com as letras A, B, C e D pequenas crateras observadas pelo Viking 1 junto à linha do horizonte.
Crédito: NASA/JPL.

quarta-feira, 23 de março de 2011

A Terra vista por Yuri Gagarin

Comemora-se no próximo dia 12 de Abril os 50 anos da épica viagem de 108 minutos de Yuri Gagarin na órbita terrestre. Para assinalar a data, o produtor de documentários Christopher Riley e a ESA alinharam na criação de um filme que reproduz a visão de Gagarin a partir da sua cápsula espacial Vostok-1 durante o histórico voo orbital. As imagens foram obtidas pelo astronauta italiano Paolo Nespoli através da cúpola da Estação Espacial Internacional, em órbitas muitas semelhantes àquela trilhada pela cápsula soviética, e posteriomente editadas e sincronizadas com as gravações audio originais do diálogo de Gagarin com o centro de controlo da missão.
O filme vai ser disponibilizado gratuitamente na internet a 12 de Abril. Consultem o site FirstOrbit para mais informações.

terça-feira, 22 de março de 2011

Espectacular mapa topográfico da Lua

Já vos tinha mostrado aqui e aqui os magníficos mapas em alta resolução da superfície da Lua recentemente publicados pela equipa da Lunar Reconnaissance Orbiter Camera (LROC). Ambos resultam de mais de 15 mil imagens captadas durante cerca de 16 meses pela câmara de grande angular, em sucessivas órbitas da sonda Lunar Reconnaissance Orbiter (LRO). Como em cada mês a LROC consegue uma cobertura quase total da Lua em condições de iluminação singulares, torna-se possível construir imagens estéreo de quase toda a sua superfície (com excepção das regiões junto dos pólos). Depois de devidamente processadas, estas imagens podem ser reduzidas a um mapa topográfico global da Lua. Foi esta a árdua tarefa realizada pelos membros da equipa da LROC do Deutsches Zentrum für Luft- und Raumfahrt (DLR), e reproduzida neste magnífica animação da Lua em rotação.

Mosaico global da superfície da Lua construído com imagens obtidas pela câmara de grande angular da LROC, e respectiva projecção topográfica derivada das imagens estéreo. As regiões junto aos pólos foram reprojectadas em modelos tridimensionais construídos a partir de dados do Lunar Orbiter Laser Altimeter (LOLA).
Crédito: NASA/GSFC/Arizona State University.

domingo, 20 de março de 2011

SDO observa novo filamento em erupção

Photobucket
Erupção de um enorme filamento de plasma no extremo sudeste do disco solar. Sequência de 22 imagens captadas a 19 de Março de 2011 pelo instrumento Atmospheric Imaging Assembly (AIA) do Solar Dynamics Observatory (SDO), através do canal de 304 Å (He II).
Crédito: SDO(NASA)/AIA consortium/animação de Sérgio Paulino.

O Sol voltou a mostrar a sua força este fim-de-semana, depois de um curto período de relativa calmaria. O Solar Dynamics Observatory registou no passado Sábado intensa actividade no extremo sudeste do disco solar que culminou com a erupção de um gigantesco filamento magnético. A nuvem de plasma lançada no espaço dirige-se para longe da Terra, pelo que não se espera uma intensificação da actividade geomagnética resultante deste fenómeno.

Equinócio da Primavera

Ocorre hoje pelas 23:21 (hora de Lisboa) o equinócio da Privamera. Do ponto de vista astronómico, define-se equinócio como o instante em que o Sol, no seu movimento aparente no céu, cruza o equador celeste. No dia do equinócio, o Sol demora, exactamente, em todo o planeta, 12 horas a percorrer o céu diurno (a palavra equinócio deriva do latim aequus nox e significa "noite igual ao dia").
A Primavera vai prolongar-se por 92,79 dias até ao próximo Solstício que ocorre no dia 21 de Junho, às 18:16 (hora de Lisboa).

A super-Lua de ontem

A super-Lua ao início da noite de ontem.
Crédito: Sérgio Paulino.

Tivemos ontem uma Lua cheia no perigeu, o ponto da órbita lunar mais próximo da Terra, pelo que a Lua aparentava no céu um tamanho ligeiramente superior ao normal. Esta coincidência acontece, geralmente, uma vez por ano.
Deixo esta (modesta) imagem para quem não teve a oportunidade de observar o belo espectáculo proporcionado pela companheira da Terra. Podem ainda visitar a galeria de imagens do AstroPT, ou disfrutar hoje à noite do magnífico luar (ainda muito semelhante ao de ontem à noite).

Crateras marcianas com nomes portugueses: a cratera Funchal

A cratera Funchal (ao centro da imagem), uma entre as muitas pequenas crateras de Chryse Planitia (ver aqui imagem original).
Crédito: ESA/DLR/FU Berlin (G. Neukum).

Trago-vos hoje a cratera marciana com o nome do principal porto da Madeira.
Funchal é uma pequena cratera com 1,62 km de diâmetro, situada em Chryse Planitia, a poucas dezenas de quilómetros do local de amartagem do robot Viking 1. Não fosse essa particularidade, talvez nunca tivesse recebido um nome oficial.

A paisagem de Chryse Planitia vista pelo robot Viking 1.
Crédito: NASA/JPL.

Próxima paragem: cratera Lisboa.

sábado, 19 de março de 2011

Sucesso! MESSENGER está na órbita de Mercúrio

Representação artística da sonda MESSENGER na sua órbita em Mercúrio.
Crédito: NASA/Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory/Carnegie Institution of Washington.

Cumpriu-se um momento histórico na madrugada de sexta-feira! A MESSENGER realizou com sucesso a manobra de inserção orbital em Mercúrio, tornando-se na primeira sonda a orbitar o mais pequeno planeta do Sistema Solar. Seguem-se agora duas semanas de verificação do desempenho da sonda e dos 7 instrumentos científicos, actividade essencial para garantir todas as tarefas programadas para a fase científica, que terá início no próximo dia 4 de Abril. As câmaras do Mercury Dual Imaging System deverão ser ligadas apenas a 29 de Março para a obtenção das primeiras imagens da superfície de Mercúrio.
A missão da MESSENGER consistirá no mapeamento completo da superfície do planeta, no estudo da composição e estrutura da crusta mercuriana, e na determinação da natureza e actividade do campo magnético do planeta, entre outros aspectos. A sonda deverá realizar 730 órbitas até à conclusão da sua missão primária em 2012.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Mercúrio e as maiores luas do Sistema Solar

O planeta Mercúrio e as 7 maiores luas do Sistema Solar. Da esquerda para a direita: Mercúrio (4.879 km de diâmetro), Lua (3.475 km), Io (3.639 km), Europa (3.125 km), Ganimedes (5.265 km), Calisto (4.819 km), Titã (5.150 km) e Tritão (2.706 km).
Crédito: todas as imagens NASA/JPL/Ted Stryk, à excepção da Lua (Alfredo Balreira) e Titã (NASA/JPL/SSI/Emily Lakdawalla).

Depois de 6 anos de viagem pelo Sistema Solar interior, a sonda MESSENGER alcançou finalmente o seu destino: a órbita de Mercúrio. Enquanto não chegam mais pormenores deste feito extraordinário, deixo-vos esta bela colagem da autoria da Emily Lakdawalla, com o mais pequeno planeta do Sistema Solar acompanhado por 7 luas com diâmetros superiores a 2.500 km.
Todos os corpos estão à mesma escala. Como se pode ver na imagem, Ganimedes e Titã são, de facto, maiores que Mercúrio. Titã tem um diâmetro menor que o de Ganimedes, apesar de aparentar um tamanho superior devido à sua espessa atmosfera.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Nova época de eclipses para o SDO

Um gigantesco objecto terminava a sua travessia na frente do disco solar quando o Solar Dynamics Observatory obteve esta imagem no passado dia 13 de Março de 2011.
Crédito: SDO(NASA)/AIA consortium.

Aproxima-se o equinócio de Março, altura do ano em que, ao longo de cerca de três semanas, o Sol e a Terra se alinham na frente do Solar Dynamics Observatory (SDO) uma vez por dia, proporcionando espectaculares eclipses solares. Este é um fenómeno que acontece em todos os equinócios e que resulta da geometria da órbita geostacionária do observatório solar da NASA. Os eclipses ocorrem por volta das 07:00 (hora de Lisboa) e podem durar até 72 minutos, período no qual o SDO interrompe a monitorização da actividade solar.

domingo, 13 de março de 2011

Crateras marcianas com nomes portugueses: a cratera Coimbra

A cratera marciana Coimbra vista pela câmara de alta resolução da sonda europeia Mars Express (ver aqui imagem original).
Crédito: ESA/DLR/FU Berlin (G. Neukum).

Como tinha prometido na semana passada, chegou a altura de vos mostrar uma nova cratera marciana com o nome de uma cidade portuguesa: a cratera Coimbra.
Coimbra é uma cratera de impacto com 34,53 km de diâmetro, situada no extremo sul de Arabia Terra, uma das regiões mais antigas de Marte. Dista algumas dezenas de quilómetros da cratera Vernal, local onde recentemente foram detectados indícios da presença de antigas fontes hidrotermais, e um dos sítios candidatos para a amartagem do robot Curiosity.
Coimbra recebeu o seu nome oficial em 2008. O seu interior encontra-se preenchido por pequenas colinas que mostram um interessante registo estratigráfico de uma altura em que Marte seria muito mais húmido.

Depósitos estratificados no interior da cratera Coimbra. Imagem captada a 07 de Janeiro de 2007 pela câmara HiRISE da sonda Mars Reconnaissance Orbiter (ver aqui imagem original).
Crédito: NASA/JPL/University of Arizona.

Próxima paragem: cratera Funchal.

sábado, 12 de março de 2011

LRO completa o melhor retrato de sempre da superfície da Lua

O lado mais distante da Lua num mosaico que reúne milhares de imagens captadas entre Novembro de 2009 e Fevereiro de 2011 pela câmara de grande angular da sonda Lunar Reconnaissance Orbiter (carreguem aqui para verem a versão com melhor resolução).
Crédito: NASA/GSFC/Arizona State University.

Recordam-se do espectacular mosaico da face visível da Lua publicado aqui no Imperium Solis no mês passado? Pois bem, a equipa da Lunar Reconnaissance Orbiter Camera (LROC) publicou ontem um novo mosaico, desta vez com o lado mais distante da Lua. Fica assim completo o retrato mais detalhado de toda a superfície lunar até hoje realizado, um retrato construído com cerca de 15 mil imagens captadas entre Novembro de 2009 e Fevereiro passado.
A Lua mantém sempre a mesma face voltada para a Terra, devido à coincidência exacta do seu período de rotação com o período de translação em redor do nosso planeta. Como tal, o lado mais distante manteve-se escondido dos olhares humanos até 1959, ano em que a sonda soviética Luna 3 obteve as primeiras imagens da sua superfície.

A primeira imagem do lado mais distante da Lua, captada a 07 de Outubro de 1959 pela sonda soviética Luna 3. Apesar do ruído e da baixa resolução são reconhecíveis pelo menos 4 maria: Mare Crisium, Mare Marginis e Mare Smithii (à esquerda), e Mare Moscoviense (em cima, à direita).
Crédito: NSSDC Photo Gallery.

E que surpreendentes foram as primeiras observações. Radicalmente diferente do lado visível da Terra, o lado mais distante da Lua é dominado por terreno elevado e acidentado, com poucos e pequenos maria. Esta assimetria na geologia dos dois hemisférios é explicada pela presença de uma crusta mais espessa no lado mais distante da Lua, que dificultou, ao longo dos tempos, a erupção de magma na superfície e a consequente formação das bacias de impacto cobertas de basalto que caracterizam os maria do lado visível.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Estranha Miranda

O hemisfério sul de Miranda visto pela Voyager 2. Mosaico construído com imagens captadas em Janeiro de 1986, durante a passagem da sonda americana pelo sistema uraniano.
Crédito: NASA/JPL/processamento de Daniel Macháček.

Encontrei ontem este magnífico mosaico da lua Miranda, da autoria de Daniel Macháček, um dos membros mais activos do fórum UnmannedSpaceflight.com. Mostra detalhes impressionantes do hemisfério sul desta enigmática lua de Urano.
Foi enorme a perplexidade dos cientistas da missão Voyager quando analisaram pela primeira vez as imagens de Miranda, captadas pela sonda Voyager 2 durante a sua passagem pela pequena lua a 24 de Janeiro de 1986. A sua pequena dimensão (cerca de 472 km de diâmetro) não fazia adivinhar quaisquer sinais de actividade geológica recente. No entanto, perante os seus olhos surgia uma estranha superfície que mais parecia uma colagem de pedaços retirados de diferentes corpos do Sistema Solar.
Miranda possui pelo menos três extensas regiões estriadas conhecidas como coronae. Formadas por profundos desfiladeiros paralelos, as coronae interrompem terreno mais elevado coberto por crateras (presumivelmente mais antigo).
Os cientistas discordam quanto à origem da bizarra superfície de Miranda, mas todos aceitam que esta é apenas uma das mais recentes versões da pequena lua. Logo após a passagem da Voyager 2, muitos sugeriram que Miranda deverá ter sido despedaçada por uma colossal colisão, e posteriormente reorganizada pela força da gravidade na sua forma actual. Mais recentemente ganhou preponderância a hipótese da sua superfície ser produto da actividade geológica resultante do efeito de maré provocado por uma ressonância orbital 3:1 transitória com a lua Umbriel.

terça-feira, 8 de março de 2011

Magnífico mosaico da tempestade de Saturno

A gigantesca tempestade do hemisfério norte de Saturno num mosaico construído com 14 imagens captadas a 26 de Fevereiro de 2011 pela câmara de ângulo fechado da sonda Cassini, através de um filtro para o infravermelho próximo (750 nm).
Crédito: NASA/JPL/SSI/mosaico de Astro0.

A sonda Cassini tem estado a enviar para a Terra excelentes pormenores da enorme tempestade que assola as latitudes médias do hemisfério norte de Saturno. Reparem só nos detalhes deste belíssimo panorama construído por Astro0, um dos membros do fórum UnmannedSpaceflight.com (carreguem na imagem para ampliar).

Cassini descobre surpreendente fluxo de energia térmica no pólo sul de Encélado

Damascus Sulcus, uma das fissuras geologicamente activas no pólo sul de Encélado. Vista em perspectiva gerada a partir da combinação de imagens captadas pela Cassini em Agosto de 2008, com um mapa topográfico da região criado por Paul Schenk do Lunar and Planetary Institute, Texas, Estados Unidos (resolução de 12 a 30 metros por pixel).
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/Universities Space Research Association/Lunar and Planetary Institute.

Encélado volta a surpreender. De acordo com um estudo publicado na semana passada na revista Journal of Geophysical Research (consultar artigo aqui), a região mais meridional desta pequena lua de Saturno emite muito mais calor do que o que havia sido estimado anteriormente. Estes resultados baseiam-se numa nova análise dos espectros das emissões térmicas registados em 2008 no pólo sul de Encélado pelo Cassini Composite Infrared Spectrometer (CIRS), um dos 12 instrumentos científicos da sonda Cassini.

Gráfico comparando as emissões térmicas detectadas em 2008 no pólo sul de Encélado pela sonda Cassini (à direita), com as emissões estimadas em estudos anteriores (à esquerda). A energia térmica gerada no interior da lua de Saturno é comparável à produzida por 20 centrais termoeléctricas.
Crédito: NASA/JPL/SWRI/SSI.

De acordo com os autores do estudo, são gerados na região do pólo sul de Encélado cerca de 15,8 GW de energia térmica, cerca de 10 vezes mais do que o previsto em estudos anteriores, um valor que desafia os modelos de produção endógena de calor actualmente aceites. Estes novos resultados têm fortes implicações quanto à presença de água líquida no interior de Encélado. Curiosamente, a existência de um oceano subsuperficial ou de uma bolsa de água salgada na região do pólo sul aumentaria a eficiência na produção de calor pelo efeito de maré, ao permitir uma maior distorção das camadas superficiais de gelo.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Um estranho eclipse visto do espaço

Observem com atenção este eclipse solar parcial registado anteontem pelo Solar Dynamics Observatory (SDO).

Eclipse parcial do Sol visto do espaço. Imagens captadas a 04 de Março de 2011 pelo instrumento Atmospheric Imaging Assembly (AIA) do Solar Dynamics Observatory (canal de 304 Å).
Crédito: SDO(NASA)/AIA consortium.

Tudo parece normal até que... num movimento que aparentemente desafia as leis da Física, a silhueta da Lua desliza sobre o disco solar, pára e retoma o movimento no sentido contrário! O que é que aconteceu?
Nada de estranho. A Lua prosseguiu o seu movimento orbital em redor da Terra; o SDO também. Como faz parte da missão do SDO a contínua observação do Sol, o astro-rei parece permanecer estacionário nas imagens. A Lua, por seu turno, por estar mais próxima, tem o seu movimento aparente afectado pelo movimento orbital do observatório solar. Assim, dependendo do local em que o SDO se encontra na sua órbita, a Lua movimenta-se nas imagens ou para a esquerda ou para a direita. Nesta sequência, o SDO encontrava-se no ponto exacto da sua órbita em que a Lua invertia o seu movimento aparente, criando um efeito visual conhecido por paralaxe.

sábado, 5 de março de 2011

Crateras marcianas com nomes portugueses: a cratera Aveiro

Provavelmente muitos de vós desconhecem o facto de existirem crateras em Marte cuja designação oficial teve origem em localidades portuguesas.
A nomenclatura das formações geológicas dos planetas e satélites do Sistema Solar está a cargo do Working Group for Planetary System Nomenclature (WGPSN) da União Astronómica Internacional (UAI), e respeita um conjunto de regras e convenções bem definidas. No caso do planeta vermelho, as crateras com um diâmetro inferior a 60 km recebem os nomes de cidades e vilas de todo o mundo com menos de 100 mil habitantes. Como demonstra uma rápida busca no site do WGPSN, são 4 as crateras marcianas com nomes de localidades de Portugal. Estes locais não receberam até hoje grande atenção por parte da comunidade científica, mas não deixam ainda assim de estimular a minha curiosidade relativamente ao seu aspecto. Tive de me embrenhar nas bases de dados das diversas missões a Marte para encontrar imagens destas estruturas, e descobrir alguns aspectos interessantes da sua geologia. Foi este o pretexto para iniciar convosco uma pequeno périplo por estes locais, uma viagem com partida na cratera Aveiro.

A cratera Aveiro num mosaico de imagens obtidas a 31 de Março de 2004 pelo instrumento THEMIS da sonda 2001 Mars Odyssey (ver aqui imagem original).
Crédito: NASA/JPL/Arizona State University.

Aveiro é uma cratera de impacto com cerca de 9,11 km de diâmetro, situada a nordeste de Tharsis Montes, a meio caminho entre Kasei Valles e a cratera Fesenkov. A sua formação é posterior às erupções que à cerca de 3,36 mil milhões de anos cobriram de lava toda a planície em redor.
Os numerosos barrancos que sulcam a vertente norte são talvez os pormenores mais interessantes visíveis em toda a cratera. Tal como acontece em outros locais em Marte, estas estruturas aparentam ter sido esculpidas recentemente por água corrente proveniente de lençois de gelo subterrâneos.

Barrancos na vertente norte da cratera Aveiro. Imagem obtida a 14 de Março de 2003 pela sonda Mars Global Surveyor (ver aqui imagem original e imagem de contexto).
Crédito: NASA/JPL/Malin Space Science Systems.

Próxima paragem: cratera Coimbra.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Descoberta uma gigantesca caverna em Oceanus Procellarum

Caverna lunar identificada em imagens captadas pela sonda indiana Chandrayaan-1. À esquerda, a imagem de contexto mostrando o tubo de lava lunar que abriga a gigantesca estrutura. À direita, uma projecção tridimensional do tubo de lava com a secção intacta evidenciada com um rectângulo vermelho.
Crédito: ISRO.

Cientistas indianos afirmam ter encontrado uma enorme caverna no subsolo lunar com potencialidade para ser usada como base para futuras missões humanas na Lua (ver artigo aqui). A estrutura corresponde a uma secção intacta de um tubo de lava situado a norte de Rima Galilaei, na região equatorial de Oceanus Procellarum, e foi identificada em projecções tridimensionais construídas a partir de imagens obtidas pela Terrain Mapping Camera da sonda Chandrayaan-1. Com cerca de 120 metros de diâmetro e 1,72 km de comprimento, esta é a maior caverna lunar até hoje descrita.