sábado, 16 de abril de 2011

Haverá na Galáxia mais Titãs do que Terras?

O hemisfério norte de Titã visto pela Cassini em cores naturais.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.

Foi recentemente publicado um interessante artigo na revista Planetary and Space Science que se debruça sobre as condições que favorecem a presença de metano líquido em planetas e luas fora do Sistema Solar. Os autores Ashley Gilliam e Chris McKay começam por enumerar as condições ambientais actualmente existentes em Titã, para definir, em seguida, as regiões nas órbitas das anãs vermelhas onde estas se pudessem manter estáveis.
Titã é um caso curioso no Sistema Solar. Junto à superfície, a maior lua de Saturno apresenta temperaturas e pressões atmosféricas que rondam, respectivamente, os 94 K e as 1,4 atm - condições próximas do ponto triplo do metano. A sua atmosfera é composta por mais de 90% de azoto, cerca de 5% de metano, e uma pequena mas importante fracção de compostos orgânicos opacos à luz visível, mas transparentes à radiação em comprimentos de onda no infravermelho. Esta última particularidade gera em Titã um eficaz efeito anti-estufa, uma vez que, em contraste com o que acontece na Terra, a atmosfera titaniana bloqueia a entrada de grande parte da radiação solar, mas permite o escape do calor da superfície para o espaço.

Ontarius Lacus, o maior lago de metano do hemisfério sul de Titã. Esta imagem captada a 12 de Janeiro de 2010 pelo radar da sonda Cassini, mostra não só os contornos definidos deste grande lago, mas também alguns rios serpenteando em direcção às suas margens.
Crédito: NASA/JPL-Caltech.

Comparadas com o Sol, as anãs vermelhas são estrelas mais frias e menos luminosas, pelo que qualquer planeta com condições semelhantes às da Terra (em particular, a presença de água líquida capaz de suster uma biosfera semelhante à nossa), teria de se encontrar a distâncias muito curtas da sua estrela - distâncias suficientes para que o efeito de maré obrigasse o planeta a manter a mesma face voltada para a sua estrela. O resultado seria, certamente, a formação de extremos ambientais nos dois hemisférios, condições inóspitas para o florescimento da vida como a conhecemos.
No entanto, apesar da sua fraca luminosidade, as anãs vermelhas emitem uma fracção de luz infravermelha consideravelmente superior à do Sol, a mesma luz que consegue penetrar na densa neblina de compostos orgânicos presente na atmosfera titaniana. Partindo deste presuposto, Gilliam e McKay analisaram as alterações na superfície da lua Titã, se esta fosse colocada na órbita de uma estrela anã vermelha, a uma distância corresponde àquela em que estaria exposta ao mesmo fluxo de radiação infravermelha recebido do Sol na sua actual posição no Sistema Solar. Verificaram que, dentro das possíveis variações de actividade existentes nas anãs vermelhas, planetas do tamanho de Titã manteriam condições favoráveis à presença de metano líquido na sua superfície a distâncias entre 0,24 a 0,52 UA. Curiosamente, se o tamanho desses planetas fosse superior ao de Titã, a distância à sua estrela hospedeira poderia aumentar consideravelmente, devido ao previsível aumento do fluxo de calor interno. Para o caso particular da famosa anã vermelha Gliese 581, Titã poderia manter os seus lagos de metano líquido a uma distância de 1,66 UA!
Tendo em conta que as anãs vermelhas são as estrelas mais abundantes na Via Láctea, conclui-se de imediato que poderão existir mais planetas ou luas semelhantes a Titã do que objectos com ambientes terrestres.
Poderá a vida surgir em condições semelhantes às de Titã? Quem sabe? Talvez a nossa procura por vida devesse considerar essa possibilidade...

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