quarta-feira, 29 de junho de 2011

Erupção em Nabro

O vulcão Nabro a 30 de Janeiro de 2011, antes da erupção.
Crédito: NASA/Michael Carlowicz (expedição 26 à Estação Espacial Internacional).

Nabro é um vulcão africano pouco conhecido, situado na depressão de Afar, no sul da Eritreia, numa região remota perto da fronteira com a Etiópia. No passado dia 12 de Junho, uma nuvem gigantesca de cinzas vulcânicas irrompeu subitamente da caldeira do vulcão. Para além dos problemas provocados no tráfego aéreo da região, os efeitos da erupção lançaram o caos nas populações locais, já fustigadas pelas graves tensões políticas entre os governos da Etiópia e da Eritreia.
Até agora apenas as autoridades eritreias têm emitido declarações oficiais sobre a situação no local. Neste momento estão confirmados 7 mortos e pelo menos 3.500 pessoas afectadas directamente pela erupção. O governo da Eritreia afirma ter posto em prática um plano de evacuação das populações locais e dos seus pertences. No entanto, alguns membros da oposição têm estado a lançar pedidos de ajuda humanitária à comunidade internacional.
À parte do drama humano, Nabro tem manifestado alguns fenómenos interessantes do ponto de vista científico. Até agora a erupção tem estado a ser monitorizada apenas da órbita terrestre, dadas as dificuldades de acesso à região. As melhores imagens do local foram obtidas no passado dia 24 de Junho e mostram uma abundância de cinzas e gases a serem expulsos da caldeira de 8 km de diâmetro. A leste estende-se um fluxo de lava com mais de 20 km de comprimento, 1 km de largura e, segundo testemunhas no local, 15 metros de altura!

Imagem em cores falsas obtida pelo satélite da NASA Earth Observing-1. As regiões a vermelho representam superfícies quentes no interior da caldeira e no fluxo de lava. A sul é possível observar uma região escura correspondente a cinza vulcânica espalhada no solo. As nuvens brancas representam gases libertados pelo vulcão, enquanto que as nuvens mais escuras são cinzas em suspensão na atmosfera.
Crédito: NASA/GSFC.

Pormenor da imagem de cima em cores verdadeiras mostrando a caldeira de Nabro.
Crédito: NASA/GSFC.

domingo, 26 de junho de 2011

Imagens do asteróide 2011 MD

Já tinha referido aqui que o asteróide 2011 MD vai passar amanhã a curta distância da superfície terrestre. Vejam agora algumas das primeiras imagens do pequeno objecto captadas hoje de manhã pelo astrónomo amador australiano Peter Lake através de um telescópio no Novo México, nos Estados Unidos, controlado via o programa on-line Global Rent-a-Scope.

O asteróide 2011 MD numa compilação de 10 imagens com 120 segundos de exposição cada.
Crédito: Peter Lake.

Entretanto, para terem a noção da trajectória de 2011 MD durante o encontro com a Terra, aconselho-vos a ver estas belíssimas animações do astrónomo Pasquale Tricarico.

Um lago em Grímsvötn

A cratera do vulcão islandês Grímsvötn vista pelo satélite Earth Observing-1 a 11 de Junho de 2011.
Crédito: NASA/GSFC.

No final de Maio, o vulcão subglacial Grímsvötn foi protagonista de uma violenta erupção que espalhou cinzas por quase toda a Islândia durante quase uma semana. Com o fim da actividade eruptiva, a caldeira do vulcão encheu-se de água de degelo proveniente do glaciar de Vatnajökull, criando um lago com quase um quilómetro de comprimento.
Como se pode observar na imagem recentemente obtida pelo satélite EO-1, de toda a caldeira de Grímsvötn manteve-se exposta apenas uma estrutura em forma de crescente na margem sul do lago, formada provavelmente por piroclasto proveniente da erupção. Em redor do vulcão é possível ver ainda uma extensa área do glaciar coberta por cinzas vulcânicas.
A erupção de Grímsvötn foi dada como extinta a 28 de Maio, quando se registaram os últimos tremores harmónicos.

sábado, 25 de junho de 2011

Distante Hiperião

A lua Hiperião vista pela sonda Cassini a uma distância de 521 mil quilómetros. Imagem obtida a 22 de Junho de 2011.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.

Hiperião é um estranho mundo exterior à órbita de Titã. Possui uma rotação caótica, uma particularidade única no Sistema Solar, mantida provavelmente pela conjugação de uma excentricidade orbital elevada com uma ressonância orbital 3:4 com a maior lua de Saturno. O fundo das maiores crateras hiperionianas está coberto por um material negro com características espectrais semelhantes ao material observado numa das faces de Jápeto, o que sugere uma origem comum (ver mais sobre este assunto aqui).
Na passada quarta-feira, a sonda Cassini obteve este retrato distante da sua enigmática superfície. Esta passagem longínqua antecede em cerca de dois meses um outro encontro, desta vez a apenas 25 mil quilómetros de distância.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

2011 MD: encontro marcado com a Terra na próxima segunda-feira

A Terra vai receber a visita de mais uma rocha espacial na próxima segunda-feira. Designado provisoriamente 2011 MD, o recém-descoberto asteróide passará a apenas 12 mil quilómetros da superfície terrestre pelas 14:27 (hora de Lisboa), numa região do espaço directamente sobre as latitudes mais meridionais do Atlântico Sul. A sua trajectória mantê-lo-à afastado do anel de Clark, região onde orbitam os satélites geostacionários, pelo que haverá um risco mínimo de colisão com estes objectos.

A trajectória de 2011 MD vista da direcção do Sol. O encontro do próximo dia 27 de Junho será tão próximo que afectará significativamente a sua órbita.
Crédito: NASA/JPL.

2011 MD foi descoberto anteontem pela equipa do programa LINEAR. A análise do seu brilho permitiu estimar um diâmetro de 5 a 20 metros, um tamanho demasiado pequeno para que, caso colidisse com a Terra, sobrevivesse intacto à passagem pela atmosfera.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Curiosity empacotado

O robot Curiosity foi na semana passada cuidadosamente empacotado para seguir viagem até ao seu próximo destino: o Kennedy Space Center, na Florida. Durante quatro dias, uma equipa de engenheiros do Jet Propulsion Laboratory prepararam o robot para a sua jornada derradeira até Marte em Novembro próximo, posicionando-o na sua configuração de lançamento e colocando-o no interior de um contentor para a transferência para o local de lançamento.
Vejam todo o processo compactado num minuto:

Empacotamento do robot Curiosity para a transferência para o Kennedy Space Center, local onde iniciará a sua viagem até Marte em Novembro próximo.
Crédito: NASA/JPL.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Começa hoje o Verão!

O Sol atinge hoje pelas 18:16 (hora de Lisboa) a máxima declinação acima do equador celeste. Este momento corresponde ao Solstício de Verão e marca o início da estação mais quente do ano no Hemisfério Norte. Este ano o Verão vai prolongar-se por 93,66 dias até ao próximo Equinócio que ocorre no dia 23 de Setembro de 2011 às 10:05 (hora de lisboa).
Feliz Solstício!

A bela e misteriosa Helena

A sonda Cassini completou no passado Sábado o segundo encontro próximo com Helena em pouco mais de um ano. Ao contrário do que havia sucedido no primeiro encontro, a equipa da missão conseguiu direccionar a sonda com a precisão necessária para que a pequena lua surgisse bem enquadrada em todas as imagens.
Desta vez foram observadas as regiões junto ao pólo norte e a face mais próxima de Saturno, o que vai permitir a conclusão do primeiro mapa global da maior das quatro luas co-orbitais do sistema saturniano. As novas imagens vão também possibilitar um estudo mais detalhado das estranhas estrias que sulcam grande parte do hemisfério subsaturniano. Formadas provavelmente por derrocadas de fino material particulado nas depressões mais profundas, estas formas geológicas aparentam ser um adereço relativamente recente na superfície de Helena, devido à quase inexistência de crateras nos locais onde se encontram. Curiosamente, o hemisfério antisaturniano apresenta-se coberto de crateras, um aspecto mais consistente com o que seria de esperar de um corpo tão pequeno. A razão para tais diferenças entre as duas faces da pequena lua permanece ainda um mistério.
Vejam em baixo algumas imagens deste encontro.

A face subsaturniana de Helena numa composição em cores contrastadas obtida a partir de imagens captadas a 18 de Junho de 2011 pela sonda Cassini. Reparem nas inúmeras estrias que cobrem esta região.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/composição a cores de Gordan Ugarkovic.

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Os primeiros vinte minutos do encontro de 18 de Junho de 2011 da sonda Cassini com a pequena lua Helena ilustrados numa sequência de 19 imagens.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/animação de Sérgio Paulino.

O crescente irregular de Helena numa imagem obtida pouco antes do ponto mais próximo do encontro, a cerca de 7 mil de quilómetros de distância.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.

Uma das últimas imagens do encontro de 18 de Junho de 2011.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.

domingo, 19 de junho de 2011

Reia e Titã posam para a Cassini

As duas maiores luas de Saturno em cores naturais. Composição a cores construída com três imagens obtidas pela Cassini a 16 de Junho de 2011, através de filtros de luz visível para as cores azul (451 nm), verde (568 nm) e vermelho (650 nm).
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/composição a cores de Sérgio Paulino.

Aqui têm um belo retrato da autoria da sonda Cassini para terminar o fim-de-semana. Obtidas na passada quinta-feira, as imagens que o compõem fazem parte de uma sequência que reproduz a passagem de Titã por detrás da lua Reia.
Vejam aqui outra imagem deste duo.

Vesta: ultrapassada a resolução do Hubble!

Vesta visto pela Dawn a 14 de Junho de 2011, a cerca de 265 mil quilómetros de distância. A resolução da superfície do asteróide atinge agora os 25 km/pixel.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/UCLA/MPS/DLR/IDA.

A Dawn está cada vez mais perto de Vesta. Na sua posição privilegiada, a sonda da NASA consegue agora observar o asteróide com uma resolução superior à do telescópio espacial Hubble!
A imagem que aqui vos trago foi obtida na semana passada e desvenda já alguns aspectos curiosos da sua superfície. Ao contrário de outros objectos de tamanho semelhante do Sistema Solar exterior (por exemplo, Encélado e Mimas), Vesta aparenta ter um contorno muito mais irregular, o que faz adivinhar um terreno muito mais acidentado. No entanto, além de uma cratera profunda nas proximidades do pólo norte, é ainda difícil distinguir mais alguns pormenores da sua topografia. Teremos de aguardar pelas próximas semanas.

sábado, 18 de junho de 2011

Um par improvável

Um alinhamento invulgar da pequena lua marciana Fobos com o distante planeta Júpiter retratado numa sequência de três imagens obtidas pela sonda europeia Mars Express no passado dia 01 de Junho de 2011.
Crédito: ESA/DLR/FU Berlin (G. Neukum).

No início deste mês, a sonda Mars Express observou um fortuito alinhamento de Fobos com o gigante Júpiter. A determinação do exacto momento da passagem da pequena lua de Marte na frente do distante planeta vai permitir à equipa da missão ajustar o conhecimento que tem da posição da órbita de Fobos no sistema. No entanto, confesso que o registo deste raro evento me impressiona mais pela beleza do que pelo seu valor científico.
Vejam o conjunto completo de imagens reunidas pela Mars Express neste vídeo:

A conjunção de Fobos com Júpiter numa sequência de 104 imagens obtidas a 01 de Junho de 2011 pela Mars Express, num período de 68 segundos. Fobos tem um diâmetro médio de 22,1 km e encontrava-se na altura a 11.389 km de distância da sonda europeia. O gigante Júpiter tem 143 mil quilómetros de diâmetro e estava afastado da Mars Express por uns adicionais 529 milhões de quilómetros!
Crédito: ESA/DLR/FU Berlin (G. Neukum).

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Chang'E-2 a caminho de L2

Representação artística da sonda lunar chinesa Chang'e-2.
Crédito: CNSA/CLEP.

De acordo com o serviço noticioso Xinhua, a sonda chinesa Chang'E-2 abandonou definitivamente a órbita lunar no passado dia 09 de Junho em direcção ao ponto de Lagrange L2 do sistema Terra-Sol. Espera-se a chegada a esta região no início de Setembro, depois de uma viagem de cerca de 1,5 milhões de quilómetros. Esta será uma oportunidade única para os cientistas chineses testarem o desempenho da sua tecnologia no espaço interplanetário.
Antes da partida, a Chang'E-2 cumpriu duas tarefas adicionais. A primeira foi obter imagens das regiões polares da Lua. A outra tarefa foi descer, uma última vez, a 15 km de altitude sobre a região de Sinus Iridum para obter mais algumas imagens de alta resolução.
Os cientistas chineses contam poder prolongar a actividade da Chang'E-2 em L2, pelo menos, até ao final do ano. O principal desafio será manter as comunicações com uma sonda que não foi desenhada para visitar uma região tão longínqua.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Imagens do eclipse total da Lua desta noite

Terminou à pouco mais de uma hora o mais longo eclipse total da Lua dos últimos 11 anos. Foi um belo fenómeno que infelizmente não pude acompanhar como gostaria. Consegui ainda assim tirar algumas fotografias para partilhar convosco. Deixo-vos aqui esta montagem de três imagens da Lua parcialmente coberta pela sombra da Terra. Espero que gostem!

Três momentos na fase final do eclipse da Lua de 15 de Junho de 2011.
Crédito: Sérgio Paulino.

Vejam mais imagens deste eclipse aqui.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Vesta à vista!

A NASA publicou (finalmente!) mais imagens de Vesta obtidas pelas lentes da Dawn. Depois de mais de um mês sem qualquer notícia da missão, chega-nos uma animação construída com 20 imagens captadas no passado dia 01 de Junho, quando a sonda se encontrava a 483 mil quilómetros de distância do asteróide.


O vídeo mostra cerca de 1/12 de rotação de Vesta (o equivalente a um período de 30 minutos) repetidos por 5 vezes. A resolução das imagens que o compõem aproxima-se bastante da resolução conseguida nas melhores imagens do asteróide obtidas pelo telescópio espacial Hubble.
São visíveis algumas regiões mais escuras, demasiado pequenas para serem discernidas nesta fase da aproximação. A mancha mais escura ao centro corresponde, provavelmente, a uma cratera com cerca de 100 km de diâmetro - algo que poderemos confirmar nas próximas semanas quando as imagens se tornarem mais nítidas.

Descobertas duas novas luas em Júpiter

Júpiter soma agora 65 satélites conhecidos com a descoberta em Setembro passado de mais duas pequenas luas exteriores. Designadas respectivamente S/2010 J1 e S/2010 J2, os dois novos objectos parecem pertencer a grupos distintos. S/2010 J1 tem cerca de 2 km de diâmetro e deverá fazer parte do grupo de Carme, enquanto que S/2010 J2 não ultrapassa 1 km de diâmetro e aparenta pertencer ao grupo de Pasífae (ver características orbitais aqui e aqui).
Estiveram envolvidos nas duas descobertas diferentes grupos de astrónomos. S/2010 J1 foi identificada por R. Jacobson, M. Brozovic, B. Gladman, and M. Alexandersen através do Palomer 5-m Hale Telescope, na Califórnia. C. Veillet descobriu o segundo objecto com o auxílio do 3,5-m Canada-France-Hawaii Telescope, em Mauna Kea, Hawaii.

domingo, 12 de junho de 2011

Jápeto: novas imagens e uma nova revisão do modelo que explica a formação das suas duas faces

O hemisfério sul de Jápeto em cores naturais, num retrato construído com três imagens captadas a 07 de Junho de 2011 pelo sistema de imagem ISS da sonda Cassini, através de filtros de luz visível para as cores azul (451 nm), verde (568 nm) e vermelho (650 nm).
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/composição a cores de Sérgio Paulino.

Como já tinha referido anteriormente, na semana passada a sonda Cassini aproveitou um encontro distante com a lua Jápeto para realizar três longas sessões de observação do seu hemisfério sul. Esta foi também uma oportunidade para recolher as melhores imagens alguma vez obtidas de grande parte da região a oeste da bacia de impacto Engelier. Aqui fica uma animação com imagens deste encontro.

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O encontro da Cassini com Jápeto numa animação construída com 29 imagens obtidas entre 07 e 10 de Junho de 2011.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/animação de Sérgio Paulino.

Entretanto, na passada quinta-feira foi publicado um novo artigo que introduz alguns elementos interessantes no modelo que explica a formação da discrepância de cores entre os dois hemisférios de Jápeto. Proposto pela primeira vez por Steven Soter em 1974, o modelo atribui uma origem exógena ao material negro que tinge Cassini Regio, uma vasta região localizada no hemisfério voltado directamente para o sentido de movimento da lua ao longo da sua órbita. De acordo com Soter, partículas de poeira em órbitas retrógadas, geradas pelo bombardeamento de micrometeoritos na superfície de Febe, colidiriam preferencialmente com esse hemisfério, tornando-o ao longo do tempo significativamente mais escuro.

Dois retratos globais de Jápeto que ilustram a dicotomia de brilho presente na sua superfície. À esquerda encontram-se o hemisfério directamente voltado para o sentido de movimento da lua ao longo da sua órbita. À direita é visível o hemisfério oposto. Cassini Regio é a região mais escura de Jápeto e ocupa cerca de 40% do total da sua superfície.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.

A descoberta em 2009 de um novo anel em redor de Saturno junto da órbita retrógada de Febe, parecia somar mais alguma consistência ao modelo de Soter. No entanto, no ano passado, um grupo de astrónomos verificou que a coloração observada em Jápeto apresentava propriedades dificilmente explicáveis pela acumulação de partículas de poeira provenientes de Febe. Em primeiro lugar, caso fosse essa a origem da misteriosa coloração, seria de esperar uma transição mais gradual entre as duas regiões - algo que não se verifica nas imagens de alta resolução captadas pela sonda Cassini. Em segundo lugar, as regiões junto aos pólos são praticamente tão brilhantes quanto o hemisfério oposto a Cassini Regio - um aspecto inexplicável à luz do modelo de Soter. Em terceiro lugar, as características espectrais do material escuro de Jápeto diferem consideravelmente das observadas na superfície de Febe. Por último, os limites de Cassino Regio localizam-se a leste e a oeste cerca de 10º além do previsto.
Estas incongruências estimularam a discussão na comunidade científica, pelo que rapidamente surgiram novos elementos para reforçar o modelo de Soter. A transição abrupta entre as duas região de Jápeto foi a primeira a ser explicada. De acordo com a equipa de imagem da Cassini, a absorção de luz pelo material negro de Cassini Regio poderia ser convertida em calor, que por sua vez sublimaria o gelo brilhante em seu redor, expandindo assim os limites desta região. Esta hipótese prevê também a migração de materiais voláteis para o hemisfério oposto, o que acentuaria a diferença de brilho entre os dois hemisférios.

Modelo da migração de gelo em Jápeto induzida pelo aquecimento do material negro que cobre Cassini Regio, e comparação com a sua distribuição actual.
Crédito: Southwest Research Institute/NASA/JPL/Steve Albers, NOAA.

O novo estudo publicado na semana passada analisa uma boa parte das restantes incongruências. De acordo com Tamayo e colegas, a pequena lua irregular Ymir parece ser um contribuinte de partículas de poeira negra tão importante quanto Febe. Outras pequenas luas irregulares aparentam ser também no seu conjunto fontes importantes do material negro observado em Cassini Regio. Esta variedade explica as características espectrais únicas desta região. Curiosamente, estas características são partilhadas pelo material negro observado no fundo das crateras de Hiperião, o que sugere a migração destas partículas para outras luas interiores, incluindo Titã.
Este estudo propôe ainda uma solução para o problema da distribuição do material escuro na superfície de Jápeto. De acordo com os autores do artigo, as partículas de poeira colidem com a superfície da lua em ângulos diferentes do proposto pelo modelo inicial de Soter, como resultado de excentricidades orbitais produzidas pela pressão da radiação solar.
Podem ler mais sobre este trabalho aqui.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Sondas Voyager encontram espuma magnética nas fronteiras do Sistema Solar

Uma nova visão da heliosfera numa representação artística que inclui as bolhas magnéticas observadas pelas sondas Voyager nas fronteiras do Sistema Solar.
Crédito: NASA/Goddard Space Flight Center/CI Lab.

Chegaram notícias inesperadas das regiões mais exteriores do Sistema Solar. As duas sondas Voyager detectaram uma região turbulenta preenchida por bolhas magnéticas com cerca de 160 milhões de quilómetros de comprimento, pouco mais que a distância que separa a Terra do Sol.

Comparação da dimensão das bolhas magnéticas com a distância Terra-Sol.
Crédito: NASA.

A descoberta surpreendeu os investigadores da missão. Aparentemente, a região de interacção entre a heliosfera e o meio interestelar é muito mais complexa que o previsto nos modelos teóricos. Devido ao movimento de rotação do Sol, o campo magnético solar tende a deformar-se como a saia de uma bailarina. Nas distantes regiões onde se encontram as duas sondas Voyager, as dobras do campo magnético são comprimidas e reorganizadas. Ao contrário do que os cientistas pensavam, esta reorganização não é simples nem graciosa. Acumuladas contra o espaço interestelar, as linhas de força magnética entrecruzam-se e reconectam-se, por vezes de forma violenta, gerando a estrutura espumosa observada pelos instrumentos das Voyager.

A nova visão das fronteiras do Sistema Solar (à direita) comparada com o modelo antigo (à esquerda).
Crédito: NASA/Goddard Space Flight Center/CI Lab.

Esta descoberta levanta novas questões quanto à eficácia desta região na defesa do Sistema Solar dos raios cósmicos galácticos. Aparentemente, a heliopausa é mais uma membrana porosa do que uma verdadeira barreira. Os investigadores vão continuar a reunir mais dados, de forma a perceberem qual a verdadeira interacção entre estas estruturas e o meio interestelar.
Assistam a este vídeo da NASA que explica de forma gráfica esta nova descoberta:

Rosetta observa pela primeira vez o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko

A Rosetta terminou anteontem a primeira fase da sua longa jornada de 10 anos até ao cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko. Ao início da manhã, a equipa de controlo da missão enviou um último comando que colocou a sonda europeia numa profunda hibernação que se prolongará por cerca de 31 meses. Durante este longo período, todos os instrumentos científicos e quase todos os sistemas de controlo permanecerão desligados, um procedimento que permitirá poupar energia antes da aproximação final ao cometa em Março de 2014.
Antes de entrar em hibernação, a Rosetta fez uma primeira observação do seu destino.

67P/Churyumov-Gerasimenko surge nesta imagem obtida pela sonda Rosetta como um fraco ponto luminoso perdido num denso campo de estrelas situado na direcção da constelação do Escorpião.
Crédito: ESA 2011 MPS for OSIRIS-Team MPS/UPD/LAM/IAA/RSSD/INTA/UPM/DASP/IDA.

67P/Churyumov-Gerasimenko encontra-se ainda a cerca de 163 milhões de quilómetros de distância da sonda Rosetta, pelo que para localizar o cometa foram necessárias cerca de 13 horas de exposição (repartidas por 52 sessões de 15 minutos cada) e um substancial trabalho de processamento. O resultado foi uma imagem do destino final da missão com poucos pixels de diâmetro - uma proeza que demonstra as magníficas capacidades do sistema de imagem da sonda europeia.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Mais um espectacular vídeo da explosão solar de ontem

Aqui têm mais um vídeo com imagens impressionantes da violenta explosão solar de ontem.

A explosão de ontem vista pelos dois observatórios espaciais SDO e SOHO.
Crédito: NASA/SDO/SOHO.

De acordo com o NOAA, a explosão libertou uma ejecção de massa coronal assimétrica com uma velocidade estimada de 1.155 km.s-1. O fenómeno deverá produzir pequenas tempestades geomagnéticas nos próximos dois dias.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Sol liberta ejecção de massa coronal e tempestade de radiação

Esta manhã, pouco depois das 07:30 (hora de Lisboa), instabilidades nas linhas do campo magnético sobre o complexo de manchas solares 1226-1227 desencadearam a erupção de uma monstruosa proeminência, acompanhada de uma explosão classe M2,5 e de uma violenta ejecção de massa coronal. O fenómeno produziu ainda uma tempestade de radiação classe S1, demasiado fraca para provocar problemas nos satélites em órbita terrestre. Apesar da ejecção de massa coronal ter sido direccionada para longe da Terra, esperam-se nos próximos dias algumas manifestações no campo magnético terrestre resultantes deste evento.
Vejam em baixo algumas imagens impressionantes deste fenómeno.

A explosão de classe M2,5 responsável pela libertação da gigantesca nuvem de plasma sobre o extremo leste do disco solar. Imagem captada hoje, ao início da manhã, pelo instrumento Atmospheric Imaging Assembly (AIA) do Solar Dynamics Observatory (SDO), através do canal de 304 Å (He II).
Crédito: SDO(NASA)/AIA consortium.

Nuvem de plasma pairando sobre a superfície solar poucas horas depois do início da erupção. Imagem captada pelo instrumento Atmospheric Imaging Assembly (AIA) do Solar Dynamics Observatory (SDO), através do canal de 304 Å (He II).
Crédito: SDO(NASA)/AIA consortium.

Ejecção de massa coronal vista pelo coronógrafo LASCO do observatório solar SOHO. Reparem na quantidade de partículas energéticas em colisão com o detector CCD.
Crédito: LASCO/SOHO Consortium/NRL/ESA/NASA.

A sucessão de violentos fenómenos observados hoje no Sol, num vídeo narrado pelos autores do blog The Sun Today.
Crédito: SOHO/SDO/http://www.helioviewer.org/.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Encontro com Jápeto

O hemisfério sul de Jápeto fotografado pela sonda Cassini a 04 de Junho de 2011, a cerca de 1,0 milhões de quilómetros de distância.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.

A sonda Cassini vai passar amanhã pelas 10:30 (UTC) a cerca de 863 mil quilómetros de distância de Jápeto, a mais exterior das grandes luas de Saturno. Este vai ser um dos encontros mais próximos de toda a missão, pelo que a semana de trabalho da Cassini será preenchida com pelo menos três extensas sessões de observação desta lua de aspecto bizarro.
A imagem de cima foi captada no passado Sábado e é uma espécie de aperitivo para o que se segue. Centrada perto do pólo sul de Jápeto, a imagem mostra a superfície brilhante de Saragossa Terra parcialmente submersa na escuridão. São visíveis ainda, em perfil, os picos esbranquiçados de Carcassone Montes e as gigantescas bacias de impacto Engelier e Gerin.

sábado, 4 de junho de 2011

Será 2009 BD um fragmento lunar?

2009 BD é um asteróide co-orbital da Terra. Esta era a sua posição relativa ao nosso planeta a 04 de Junho de 2011.
Crédito: NASA.

Na passada quinta-feira, o pequeno asteróide 2009 BD passou a 0,0023 UA da Terra (o correspondente a 0,90 vezes a distância entre o nosso planeta e a Lua). Embora a probabilidade de impacto fosse praticamente nula, a aproximação da pequena rocha espacial despertou a atenção da comunidade científica devido ao seu muito baixo valor de delta-V relativo à Terra. Objectos com esta particularidade são de grande interesse científico porque podem ter tido origem em ejecta lançado para o espaço por violentos impactos na superfície da Lua.
Neste momento, 2009 BD encontra-se ainda nas proximidades do nosso planeta, devendo afastar-se a mais de 10 vezes a distância Terra-Lua apenas no final deste mês. Desde o final da semana passada, cientistas do Jet Propulsion Laboratory tem estado a aproveitar esta oportunidade única para realizar várias sessões de observação do pequeno asteróide com o radiotelescópio de Goldstone, na Califórnia. Estas observações radar vão proporcionar dados vitais para determinar o real diâmetro de 2009 BD (actualmente estimado em 10 metros). Junto com os dados da pressão da radiação solar, apresentados recentemente por Micheli e colegas na Planetary Defence Conference, passará a ser possível estimar a massa e a densidade do pequeno asteróide, informação indisponível para a grande maioria dos asteróides próximos da Terra (ou NEOs), o que poderá responder à questão da origem de 2009 BD.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

A missão Cassini em filme

Por vezes a Ciência transforma-se em Arte. Vejam o caso deste espectacular filme criado por Chris Abbas da Digital Kitchen com imagens de Saturno, do seu sistema de anéis e das suas luas, captadas pela sonda Cassini.

Primeiro auto-retrato do Curiosity

Convés superior do robot Curiosity num mosaico de imagens obtidas em Março de 2011 pelo "olho" esquerdo da sua Mastcam. A parte da frente do robot encontra-se do lado direito. Na direcção oposta são visíveis, da esquerda para a direita: a cobertura do gerador termoeléctrico de radioisótopos, a antena principal (estrutura em forma de hexágono) e o relógio de sol.
Crédito: NASA/JPL/MSSS.

O robot Curiosity realizou recentemente o seu primeiro auto-retrato durante um exercício de exposição às condições ambientais da superfície de Marte, nas instalações do Jet Propulsion Laboratory. Esta foi uma oportunidade para testar o desempenho da Mastcam, um instrumento que inclui entre outras particularidades, a capacidade de obter imagens a cores e monocromáticas (com diferentes filtros) com pelo menos três vezes a resolução das obtidas pelas câmaras panorâmicas dos robots Spirit e Opportunity.
Ao contrário dos seus antecessores, o Curiosity não possui qualquer painel solar, pelo que o seu convés superior apresenta um aspecto bem distinto. Sem energia solar disponível, o abastecimento de electricidade aos vários instrumentos do robot será garantido por um gerador termoeléctrico de radioisótopos localizado na parte traseira.
Prevê-se o lançamento da missão no final deste ano. Após cumprir uma viagem interplanetária de 10 meses, o robot descerá até à superfície de Marte, onde deverá permanecer em actividade pelo menos durante 2 anos.