sábado, 1 de outubro de 2011

MESSENGER observa surpreendentes evidências de actividade geológica recente em Mercúrio

A equipa científica da missão MESSENGER publicou ontem um conjunto de sete artigos numa secção especial da conceituada revista Science dedicada a Mercúrio. Os trabalhos reúnem análises detalhadas aos mais importantes dados obtidos pela missão durante os primeiros 6 meses na órbita do pequeno planeta, e incluem, entre outros aspectos, a observação de novas evidências da presença de actividade geológica recente na superfície mercuriana.
Num dos artigos, a equipa relata a descoberta de grandes planícies vulcânicas na região do pólo norte de Mercúrio, que se estendem por uma área total superior a 6% da superfície do planeta! De acordo com os autores, as planícies foram formadas por espessos depósitos vulcânicos que cobriram crateras e outros acidentes geológicos, incluindo os locais de erupção. Os depósitos aparentam ser posteriores ao impacto que deu origem à grande bacia de Caloris, o que demonstra que o vulcanismo esteve presente em Mercúrio enquanto processo geológico global, muito depois do "Grande Bombardeamento Tardio".

Ilustração do hemisfério norte de Mercúrio centrada no pólo norte. Estão representadas a vermelho a localização de crateras de impacto com mais de 20 km de diâmetro. As extensas planícies vulcânicas descobertas pelos cientistas da missão encontram-se delimitadas por uma linha preta, e cobrem o correspondente a 4,7 milhões de km2 de superfície. Reparem que o número de crateras no interior das planícies é muito inferior ao das regiões envolventes, o que indica uma formação relativamente recente.
Crédito: Science/AAAS/ Brown University.

Os cientistas estimaram nalguns locais das planícies vulcânicas uma espessura dos depósitos de lava superior a 1 km! Este valor resultou da estimativa da altura das vertentes de crateras fantasma, crateras pré-existentes subterradas pelos depósitos. Podem observar à direita uma estrutura circular com 90 km de diâmetro formada pelo fino contorno de uma dessas crateras. À esquerda encontra-se a cratera Hokusai (114 km de diâmetro) com a sua estrutura conservada, o que permite a medição directa da altura das suas vertentes.
Crédito: NASA/Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory/Carnegie Institution of Washington.

Noutro artigo, membros da equipa dão a conhecer um conjunto de curiosas formações que denunciam a presença de processos geológicos anteriormente desconhecidos em Mercúrio. Apelidadas de "cavidades", estas estruturas são depressões com dezenas de metros a alguns quilómetros de diâmetro, vulgarmente encontradas em grupo no interior de várias crateras por todo o planeta. Muitas apresentam interiores cobertos por depósitos muito brilhantes que aparentemente não acumularam pequenas crateras de impacto, o que indicia uma formação muito recente.
Imagens em alta resolução obtidas pela sonda MESSENGER mostram que as "cavidades" encontram-se associadas a rochas formadas em profundidade e expostas na superfície por violentos impactos, o que leva os autores do artigo a associar a sua génese à libertação de compostos voláteis através de diversos processos que poderão incluir vulcanismo piroclástico, sublimação ou violentas erupções gasosas. A estimativa da taxa de crescimento destas estruturas revela ainda outro aspecto surpreendente: muitas "cavidades" poderão estar ainda em actividade, o que sugere a presença de processos geológicos actuais em Mercúrio - uma imagem radicalmente diferente daquela que emergiu das passagens da sonda Mariner 10 pelo planeta nos anos 70.

A bacia de impacto Raditladi e o seu anel concêntrico brilhante (indicado com uma seta na imagem em cores falsas).
Crédito: NASA/Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory/Carnegie Institution of Washington.

Imagens de porções do interior da bacia de impacto Raditladi mostrando "cavidades" nas montanhas do anel concêntrico (setas amarelas) e no chão da depressão (setas brancas). Estas estruturas surgem nas imagens com baixa resolução (em cima) como formações brilhantes e relativamente azuladas em comparação com o terreno envolvente.
Crédito: Science/AAAS/NASA.

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