terça-feira, 31 de julho de 2012

SDO observa espectacular proeminência eruptiva!

O Sol produziu hoje de manhã uma espectacular proeminência eruptiva. Durante pouco mais de uma hora, um arco de plasma pairou no extremo sudoeste do disco solar, até uma altitude de cerca de 250 mil quilómetros, antes de se projectar violentamente no espaço. Vejam em baixo o vídeo captado pelo Solar Dynamics Observatory:

Proeminência eruptiva vista esta manhã pelo instrumento Atmospheric Imaging Assembly (AIA) do Solar Dynamics Observatory, através do canal de 304 Å (He II).
Crédito: SDO(NASA)/AIA consortium/Helioviewer.

O fenómeno parece ter despoletado uma brilhante ejecção de massa coronal. No entanto, ainda não há qualquer informação disponível relativa à sua velocidade e direcção. Actualização: De acordo com a previsão do NOAA, a ejecção de massa coronal associada à erupção desta proeminência não deverá produzir efeitos geomagnéticos.


A colossal proeminência solar desta manhã minutos antes da sua erupção. Foi incluída uma representação da Terra à escala para comparação de dimensões.
Crédito: SDO (NASA)/AIA consortium/NASA (imagem da Terra)/montagem de Sérgio Paulino.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Os raios brilhantes de Creusa

A lua saturniana Dione vista pela sonda Cassini a 23 de Julho de 2012, a uma distância de cerca de 420 mil quilómetros. Composição a cores construída com imagens obtidas através de filtros para o vermelho, o verde e o azul (imagens originais: N00193083, N00193086 e N00193087).
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/composição a cores de Sérgio Paulino.

Com cerca de 36,2 quilómetros de diâmetro, Creusa não é certamente uma das maiores crateras de Dione. No entanto, o seu extenso sistema de raios torna-a uma das estruturas geológicas mais facilmente reconhecíveis na superfície desta lua de Saturno, como se pode verificar nesta composição obtida recentemente pela sonda Cassini. Com várias centenas de quilómetros de comprimento, os raios de Creusa tingem de um branco gélido uma grande extensão do hemisfério sub-saturniano de Dione, um claro indício da sua juventude. Análises recentes à sua morfologia indicam uma idade inferior a 500 milhões de anos, o que a torna uma das mais recentes estruturas até agora catalogadas na superfície dioniana.

domingo, 29 de julho de 2012

Aranhas marcianas recriadas em laboratório

Aranhas marcianas?... Não, este artigo não é sobre estranhas criaturas verdes com 8 olhos e 8 patas (hmm... na verdade, esses seres existem por cá, na Terra). As aranhas marcianas são antes curiosas estruturas dendríticas com 100 a 1.000 metros de diâmetro, que os cientistas acreditam serem geradas por erupções de gêiseres de dióxido de carbono (CO2) durante a estação primaveril nas superfícies geladas do pólo sul de Marte.
Resumidamente, o que acontece é que, no Inverno, o CO2 solidifica numa camada translúcida sobre as superfícies arenosas das regiões mais meridionais do planeta vermelho. À medida que a Primavera chega a estas regiões, os raios solares atravessam a camada superficial de gelo e aquecem o solo arenoso, provocando a sublimação do CO2 e a sua acumulação abaixo da superfície. Quando o gás pressurizado finalmente vence a resistência da camada de gelo, irrompe numa violenta erupção, produzindo uma rede de fracturas divergentes em seu redor. Com a erupção são arrastadas poeiras escuras das camadas inferiores que se depositam sobre toda a estrutura, conferindo-lhe um aspecto característico que se destaca na paisagem.

Representação artística das erupções primaveris de CO2 na calote polar do pólo sul de Marte.
Crédito: Arizona State University/Ron Miller.

Estruturas dendríticas observadas nas regiões mais meridionais de Promethei Terra. Imagem obtida a 04 de Fevereiro de 2009 pela câmara HiRISE da sonda Mars Reconnaissance Orbiter (largura da imagem correspondente a 1 km).
Crédito: NASA/JPL-Caltech/University of Arizona.

Claro que a sua sazonalidade e o seu aspecto levam alguns cientistas a considerar a possibilidade destas estruturas serem uma evidência de actividade biológica em Marte, uma hipótese também acarinhada pelos mais acérrimos defensores de todo o tipo de teorias de conspiração relativas ao planeta vermelho. Enfim... um novo estudo parece ter afastado irremediavelmente esta hipótese.
Recentemente, um grupo de investigadores liderado por Simon de Villiers (Universidade de Oslo) recriou as aranhas marcianas em laboratório. Usando uma célula de Hele-Shaw preenchida com um fino material granular não consolidado (pequenas esferas de vidro), a equipa conseguiu gerar padrões araneiformes semelhantes às estruturas observadas na superfície de Marte.

Aranhas marcianas (a) e as suas congéneres de laboratório (b) criadas por de Villiers e colegas.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/University of Arizona/S. de Villiers et al., 2012.

Para recriarem as aranhas marcianas, de Villiers e colegas perfuraram a superfície da célula (uma fina película de vidro), puxando-a depois para cima para permitirem a entrada do ar no interior da célula sem perturbarem o material granular. Posteriormente, os investigadores deixaram a superfície regressar à sua posição original, provocando a saída apressada do ar pelo orifício. A repetição de vários ciclos semelhantes conduziu finalmente à formação dos padrões dendríticos característicos das estruturas marcianas. A equipa observou ainda a formação de canais rectilíneos com oscilações quase periódicas, estruturas semelhantes aos meandros observados nos rios terrestres. Com estes resultados, os investigadores concluem que "a experiência demonstra que a erosão do material granular causado pelo fluxo do gás e sua expulsão gera padrões semelhantes aos araneiformes marcianos", o que "suporta a hipótese de que estas estruturas são produzidas por erupções de CO2 durante a Primavera" no pólo sul de Marte.
Este artigo foi publicado este mês na revista Geophysical Research Letters (podem ler o resumo aqui).

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Titã em contra-luz

A lua Titã vista pela Cassini a 24 de Julho de 2012.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/composição a cores de Sérgio Paulino.

A Cassini realizou na passada terça-feira uma passagem a 1.012 quilómetros de distância da superfície de Titã. O encontro teve como principal objectivo a detecção de reflexos especulares de alguns dos muitos lagos de metano que povoam toda a região do pólo norte. A imagem de cima mostra a perspectiva da sonda da NASA durante a sua aproximação pelo lado nocturno de Titã, quando esta se encontrava ainda a uma distância de pouco mais de 170 mil quilómetros.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Um cone vulcânico no extremo leste de Mare Imbrium?

Será esta estrutura uma cratera vulcânica? Obtida pela sonda Lunar Reconnaissance Orbiter a 22 de Junho de 2012, esta imagem mostra uma depressão com 700 metros de diâmetro localizada exactamente no topo de uma colina circular com 3,7 quilómetros de diâmetro (cliquem aqui para a verem na sua máxima ampliação).
Crédito: NASA/GSFC/Arizona State University.

Permanece ambígua a origem de muitas estruturas encontradas nos grandes maria do lado mais próximo da Lua. Com mais de 3 mil milhões de anos de idade, estas vastas planícies basálticas foram severamente fustigadas desde a sua formação pelo incessante bombardeamento de micrometeoritos, pelo que muitas das pequenas formações geológicas aí observadas perderam grande parte das suas características originais.
Aninhado entre o manto de ejecta da cratera Autolycus e as planícies de Palus Putredinis, encontra-se uma colina com 250 metros de altura que exibe uma cratera fortemente erodida centrada no seu topo. Terá esta cratera uma origem vulcânica ou será antes o resultado de um impacto certeiro no cimo desta pequena elevação?

Imagem de contexto mostrando a colina em questão e as planícies adjacentes (cliquem aqui para a verem na sua máxima ampliação).
Crédito: NASA/GSFC/Arizona State University.

A simetria da sua topografia e a presença de ejecta escuro a rodear uma outra pequena cratera situada no seu flanco sugerem que esta estrutura é, de facto, um cone vulcânico. Curiosamente, várias colinas situadas na mesma região possuem crateras no seu topo e uma topografia muito semelhante, características que apontam para uma origem vulcânica. A disposição destas estruturas é também muito similar à observada em complexos vulcânicos já identificados noutros locais da superfície da Lua. Será este um novo complexo até agora não reconhecido?

Colinas na região a sul do manto de ejecta da cratera Autolycus. A seta branca indica a estrutura ilustrada nas imagens de cima (cliquem aqui para verem a imagem na sua máxima ampliação).
Crédito: NASA/GSFC/Arizona State University.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Madeira em chamas

Incêndios na ilha da Madeira. Imagem em cores naturais obtida a 19 de Julho de 2012 pelo sistema MODIS do satélite da NASA Aqua. Estão indicadas a vermelho áreas com temperaturas invulgarmente elevadas.
Crédito: LANCE MODIS Rapid Response Team/Goddard Space Flight Center.

A Madeira tem estado a ser fustigada desde a semana passada por violentos incêndios. As chamas já consumiram vastas áreas de floresta, e obrigaram à evacuação de centenas de pessoas em várias pontos na ilha. Captada a partir da órbita terrestre, a imagem de cima é um testemunho do cenário dantesco vivido pela população madeirense nos últimos dias.

domingo, 22 de julho de 2012

Instabilidade dos satélites interiores de Urano e a tragédia de Cupido

Urano possui talvez a mais invulgar colecção de satélites de todo o Sistema Solar. Os 13 mais interiores formam um grupo muito compacto intimamente associado ao sistema de anéis do planeta, uma estrutura provavelmente remanescente da destruição de um ou mais objectos semelhantes. A este grupo seguem-se as luas Miranda, Ariel, Umbriel, Titânia e Oberon, de longe os 5 satélites mais massivos do sistema. A grande distância da órbita de Oberon encontram-se 9 pequenos satélites irregulares, objectos provavelmente capturados por Urano logo após a sua formação.

Representação esquemática das órbitas das luas interiores (a azul) e do sistema de anéis (a vermelho) de Urano. Estão evidenciadas as duas luas Mab e Cupido e os dois anéis ν e μ fotografados pelo telescópio espacial Hubble em 2005.
Crédito: NASA, ESA, and A. Feild (STScI).

A distribuição das órbitas dos 13 satélites mais interiores tem intrigado os astrónomos desde que foram descobertos os primeiros 10 durante a passagem da Voyager 2 pelo sistema em 1986. Com raios orbitais compreendidos entre 49,8 e 97,7 mil quilómetros, este grupo de luas forma um sistema extremamente sensível a perturbações gravitacionais mútuas. A análise das múltiplas observações realizadas pela Voyager 2 e pelo telescópio Hubble demonstraram que as órbitas destes pequenos objectos são variáveis em períodos inferiores a duas décadas, o que de acordo com alguns investigadores poderá ser um prelúdio da instabilidade do sistema a longo a prazo.

Os três satélites vizinhos Portia (1986 U1), Créssida (1986 U3) e Rosalinda (1986 U4) numa imagem obtida a 18 de Janeiro de 1986 pela sonda Voyager 2. É ainda visível o anel ε, o mais exterior dos anéis uranianos até então conhecidos.
Crédito: NASA/JPL.

Recentemente, os astrónomos Robert French e Mark Showalter do SETI Institute verificaram a estabilidade a longo termo dos satélites interiores de Urano, realizando uma série de simulações da evolução das suas órbitas. Como muitos dos parâmetros físicos destes objectos são ainda muito imprecisos, os dois investigadores tiveram de integrar numerosas combinações para estes parâmetros nos seus modelos de forma a cobrirem todas as possibilidades. O que descobriram foi chocante. Todas as simulações realizadas mostram instabilidades e cruzamentos de órbitas numa escala de tempo muito inferior ao tempo de vida do sistema uraniano. A órbita de Cupido é particularmente precária devido às interacções ressonantes com a órbita de Belinda. Os investigadores estimam que as duas órbitas se deverão cruzar dentro de 100 mil a 10 milhões de anos, conduzindo inevitavelmente à destruição de Cupido, o mais pequeno dos dois objectos. As simulações mostram ainda uma outra intersecção nas órbitas de Créssida e Desdémona num período de 1 a 10 milhões de anos. As órbitas destes dois pares cruzar-se-ão eventualmente mais tarde (dentro de menos de mil milhões de anos), respectivamente, com as órbitas de Perdita e de Julieta, podendo na altura provocar a disrupção catastrófica dos primeiros.
Partindo destes resultados, os investigadores concluem que a actual configuração do sistema de satélites interiores de Urano não é certamente a original. Tal como as personagens que lhes deram o nome, estas pequenas luas parecem estar destinadas a um fim trágico, provavelmente acabando por formar novos anéis na órbita do planeta.
Este trabalho teve a sua publicação on-line em Junho passado na revista Icarus (podem encontrar o artigo integral aqui).

sábado, 21 de julho de 2012

Cassini fotografa relâmpagos gigantescos no hemisfério diurno de Saturno

Recordam-se da supertempestade que eclodiu no hemisfério norte de Saturno em Dezembro de 2010? Com cerca de 300 mil quilómetros de comprimento no seu pico de actividade, foi o mais espectacular fenómeno meteorológico saturniano alguma vez observado pela Cassini. Durante cerca de 200 dias, a sonda da NASA obteve magníficas imagens de formações de nuvens esbranquiçadas contorcendo-se ao sabor de violentos ventos, e detectou fortes emissões de rádio provenientes de relâmpagos em actividade no interior da tempestade.
Esta semana, a equipa de imagem da missão divulgou uma nova imagem da tempestade onde se vislumbra pela primeira vez em luz visível um desses relâmpagos. Vejam em baixo:

Mosaicos em cores falsas mostrando um relâmpago no interior da supertempestade de Saturno do ano passado. As duas composições foram construídas com imagens obtidas através de filtros para o azul, o verde e o infravermelho próximo. O fenómeno é visível no mosaico da esquerda como um ponto azulado surgindo no meio das nuvens. O mosaico da direita é composto por imagens obtidas 30 minutos depois, altura em que o clarão do relâmpago já havia desaparecido. O evento foi breve e foi apenas registado através do filtro sensível para a luz azul, o que explica a sua cor azulada.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/Space Science Institute.

Esta foi a primeira vez que a Cassini fotografou um relâmpago no hemisfério diurno de Saturno. A intensidade do clarão registado na imagem é muito semelhante à observada nos clarões dos relâmpagos terrestres mais intensos. Os cientistas da missão estimam que a energia visível libertada pelo fenómeno deverá ter atingido os 3 mil milhões de watts em apenas 1 segundo! O clarão possuía cerca de 200 quilómetros de diâmetro no momento em que emergiu do interior das nuvens, e deverá ter tido origem numa camada de nuvens mais interior, numa região onde as gotículas de água da atmosfera saturniana solidificam. Na Terra, os relâmpagos são formados numa camada atmosférica com características semelhantes, o que sugere que este fenómeno tem muitas analogias com os seus congéneres terrestres.
Podem ler a notícia original aqui.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Região activa 1520 despede-se com uma poderosa explosão!

A região activa 1520 despediu-se hoje do lado mais próximo do Sol com uma espectacular fulguração classe-M7,7. O fenómeno atingiu o seu pico de intensidade pelas 06:58 (hora de Lisboa), altura em que acelerou um fluxo contínuo de protões altamente energéticos na direcção da Terra, dando início a uma pequena tempestade de radiação solar, neste momento ainda em actividade.

Fulguração classe-M de longa duração observada hoje pelo instrumento Atmospheric Imaging Assembly do Solar Dynamics Observatory, através de um filtro para o ultravioleta extremo (131 Å).
Crédito: SDO(NASA)/AIA consortium/Helioviewer.org.

A explosão esteve ainda na origem de uma brilhante ejecção de massa coronal. A nuvem de plasma viaja neste momento para oeste do disco solar, pelo que deverá evitar a Terra.

Ejecção de massa coronal observada esta manhã pelo coronógrafo LASCO do observatório espacial SOHO.
Crédito: LASCO/SOHO Consortium/NRL/ESA/NASA.

Espectaculares vistas sobre Giordano Bruno

Giordano Bruno é uma cratera copernicana com cerca de 21 km de diâmetro, situada no lado mais distante da Lua. A sua estrutura bem conservada, o seu imenso manto de ejecta e os seus belíssimos longos raios fazem desta cratera um alvo frequente das câmaras da Lunar Reconnaissance Orbiter (LRO). Anteontem, a equipa de imagem da missão divulgou esta espectacular perspectiva sobre a sua vertente sul. Vejam:

A cratera Giordano Bruno numa imagem obtida pela sonda LRO a 27 de Janeiro de 2010, a cerca de 53 km de altitude da superfície lunar (cliquem aqui para a verem na sua máxima ampliação).
Crédito: NASA/GSFC/Arizona State University.

Apesar de ser reconhecidamente a mais jovem das grandes crateras lunares, desconhece-se ainda a idade exacta de Giordano Bruno. Nos anos 70, o geólogo americano Jack Hartung sugeriu que o impacto que a formou poderá ter sido documentado nas crónicas medievais de Gervásio de Canterbury. De acordo com o cronista do século XII, no dia 18 de Junho de 1178, cerca de uma hora após o pôr-do-sol, cinco monges da abadia de Canterbury testemunharam um fenómeno bizarro sobre o crescente iluminado da Lua. Subitamente, o corno superior do crescente foi separado em dois e do meio da divisão alastrou uma tocha flamejante cuspindo a considerável distância fogo, carvão escaldante e faíscas, relata Gervásio nos seus escritos. Estará mesmo este evento relacionado com Giordano Bruno?
Uma recente contagem de crateras no seu manto de ejecta em imagens obtidas pela sonda japonesa Kaguya parece contrariar esta hipótese ao colocar uma data de formação num passado mais distante, há 1 a 10 milhões de anos. Uma nova análise realizada em imagens da LRO sugere, no entanto, que a abundância de crateras secundárias ao impacto possa ter sobrestimado tal datação, pelo que não é de excluir uma data de formação mais recente.
Quando teremos uma resposta definitiva para este problema? Provavelmente, a resposta surgirá apenas quando forem realizadas datações radiométricas em amostras de ejecta e dos raios de Giordano Bruno. Até lá resta-nos apreciar os belos retratos desta estrutura que nos vão chegando da órbita da Lua.
Vejam em baixo mais algumas imagens deste magnífico exemplar de uma cratera de impacto lunar:

Pôr-do-sol sobre a vertente norte de Giordano Bruno. Imagem obtida pela LRO a 13 de Julho de 2011 (cliquem aqui para a verem na sua máxima ampliação). Reparem no terraço formado pela derrocada de uma pequena secção da vertente nordeste.
Crédito: NASA/GSFC/Arizona State University.

O interior de Giordano Bruno num mosaico de 8 imagens obtidas pela sonda LRO (cliquem aqui para verem esta imagem na sua máxima ampliação).
Crédito: NASA/GSFC/Arizona State University.

Passagem sobre a cratera Giordano Bruno num vídeo captado pela câmara HDTV da sonda japonesa Kaguya.
Crédito: JAXA/NHK.

terça-feira, 17 de julho de 2012

O regresso de Machholz

O cometa periódico 96P/Machholz 1 completou ontem a sua quarta aparição de sempre no campo de visão do coronógrafo LASCO do SOHO. Descoberto a 12 de Maio de 1986 pelo astrónomo amador Donald Machholz, este pequeno objecto é um dos cometas mais fascinantes do Sistema Solar. Alguns elementos da sua órbita colocam-no no seio de uma extensa e complexa família onde se incluem o asteróide 2003 EH1, os cometas rasantes ao Sol dos grupos Marsden e Kracht, e os progenitores dos meteoróides das Quadrantidas, das δ-Aquaridas do Sul e das Arietidas diurnas.

O cometa Machholz visto pelo coronógrafo C2 do SOHO durante a sua passagem pelo periélio a 14 de Julho de 2012.
Crédito: LASCO/SOHO Consortium/NRL/ESA/NASA/anotações de Sérgio Paulino.

No entanto, o seu parentesco com tamanha variedade de objectos é apenas um dos aspectos que tornam este objecto particularmente invulgar. Alguns investigadores suspeitam que Machholz é um exilado de um outro sistema planetário, posteriormente capturado numa órbita heliocêntrica. Os indícios chegam-nos num trabalho publicado em 2007 pelo astrónomo David Schleicher do Observatório Lowell. Partindo da análise espectrográfica das comas cometárias de 150 cometas, Schleicher descobriu que Machholz apresenta uma invulgar deficiência em compostos moleculares de carbono, em particular de cianetos e de compostos orgânicos C2 e C3.
Será este cometa um fragmento de um antigo visitante de outras paragens da Galáxia? Apreciem em baixo este vídeo mostrando a sua mais recente passagem pelo periélio e leiam aqui mais sobre a família deste curioso objecto.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Sol produz espectacular fulguração classe-X!

A gigantesca mancha solar 1520 produziu ontem ao final da tarde uma espectacular fulguração classe-X1,4 de longa duração. A poderosa explosão atingiu o seu pico de intensidade pelas 17:49 (hora de Lisboa), altura em que enviou um pulso de radiação electromagnética (raios X e UV extremo) na direcção da Terra que ionizou parcialmente as camadas superiores da atmosfera terrestre, provocando distúrbios na normal propagação de ondas rádio no hemisfério diurno durante cerca de 1 hora.

A fulguração classe-X de ontem numa sequência de imagens obtidas durante cerca de 3 horas pelo instrumento Atmospheric Imaging Assembly do Solar Dynamics Observatory, através de um filtro para o ultravioleta extremo (131 Å).
Crédito: SDO(NASA)/AIA consortium.

O fenómeno esteve ainda associado a uma pequena tempestade de radiação solar (ainda em actividade) e à libertação de uma brilhante ejecção de massa coronal que deverá atingir a Terra amanhã (Sábado) pelas 11:20 ± 7 horas (hora de Lisboa). O impacto da nuvem de plasma na magnetosfera terrestre deverá despoletar uma tempestade geomagnética moderada a severa, com a manifestação de auroras em latitudes invulgarmente baixas (provavelmente até à Europa Central).

Modelo informático da propagação da ejecção de massa coronal no Sistema Solar interior, criado pelo NASA Goddard Space Weather Center com base em dados recolhidos pelos observatórios STEREO e SDO.
Crédito: NASA Goddard Space Weather Center.

A região 1520 mantém uma complexa configuração magnética beta-gama-delta, pelo que se espera mais acção para os próximos dias.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Cassini descobre um vórtice atmosférico no pólo sul de Titã

Já vos tinha dado conta aqui do aparecimento de um curioso sistema de nuvens sobre a região do pólo sul de Titã. Na altura especulei se essa enorme estrutura não seria uma tempestade polar. Ontem, a equipa de imagem da missão Cassini pronunciou-se finalmente sobre o assunto. O novo adorno de Titã é um impressionante vórtice polar!

Vórtice circumpolar titaniano descoberto pela Cassini. Imagem em cores naturais obtida a 27 de Junho de 2012.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/Space Science Institute.

Os vórtices polares são gigantescos ciclones formados sobre as regiões polares de planetas com atmosferas significativas. Terra, Vénus e os gigantes Júpiter e Saturno têm as suas respectivas versões. O vórtice polar de Titã tem cerca de 784 km de comprimento e 575 km de largura e parece executar uma rotação completa em apenas 9 horas (muito mais rápido que os 16 dias do período de rotação titaniano). A sua súbita formação parece estar de alguma forma relacionada com a aproximação do Inverno no hemisfério sul.
Os instrumentos da Cassini reuniram nas últimas semanas alguns dados intrigantes relativos à sua composição química. Aparentemente, a estrutura é formada por aerossóis de materiais orgânicos condensados em densas nuvens situadas a cerca de 300 km de altitude. Os cientistas da missão interpretam a intrincada organização destas nuvens como a assinatura da presença de uma célula de convecção sobre o pólo sul de Titã. Normalmente, as células de convecção são fenómenos caracterizados pelo movimento descendente de ar na zona central da célula em simultâneo com movimentos ascendentes na periferia e consequente formação de nuvens periféricas. No vórtice polar titaniano, a equipa de imagem não conseguiu ainda observar as camadas mais inferiores, pelo que não lhes é possível nesta fase perceber exactamente todos os mecanismos em jogo. Resta-nos agora aguardar por novas observações nos próximos meses. Até lá apreciem esta magnífica animação.

Animação mostrando a rotação do vórtice polar de Titã vista pela sonda Cassini.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/Space Science Institute.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Descoberta a quinta lua de Plutão!

E a contagem continua a aumentar! Foi hoje anunciada a descoberta de um novo satélite de Plutão! Designado provisoriamente S/2012 (134340) 1, o novo objecto foi identificado em 9 conjuntos distintos de imagens obtidas pelo telescópio espacial Hubble entre 26 de Junho e 9 de Julho.

O sistema plutoniano numa imagem obtida pelo telescópio espacial Hubble no dia 07 de Julho de 2012. A nova lua de Plutão (aqui identificada informalmente como P5) está assinalada com um círculo verde.
Crédito: NASA/ESA/M. Showalter (SETI Institute).

Aparentemente, S/2012 (134340) 1 é a mais pequena das cinco luas de Plutão até agora conhecidas. O seu diâmetro deverá situar-se entre os 10 e os 25 km (assumindo um albedo geométrico entre 0,04 e 0,35), um tamanho ligeiramente inferior ao de S/2011 (134340) 1, até agora o mais pequeno objecto do sistema. O seu movimento é consistente com uma órbita quase circular e provavelmente coplanar com as órbitas das restantes luas, com um período de apenas 20,2 ± 0,1 dias. Estes valores colocam S/2012 (134340) 1 a uma distância média de 42.000 ± 2.000 km do baricentro do sistema, próxima de uma ressonância orbital 1:3 com Caronte.
A nova descoberta resulta de uma campanha sistemática de monitorização do sistema de Plutão, realizada como suporte à missão New Horizons. A equipa da missão espera desvendar o maior número de objectos na órbita do pequeno planeta antes da passagem da sua sonda em 2015. O objectivo primário desta campanha é o de mapear regiões de concentração de detritos orbitais que possam constituir um potencial perigo para os sistemas vitais da New Horizons quando esta atravessar o sistema a mais de 48 mil quilómetros por hora de velocidade.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Redemoinhos em Mare Ingenii

Já tinha escrito aqui sobre os enigmáticos redemoinhos lunares (swirls, em inglês). Recentemente, a Lunar Reconnaissance Orbiter obteve esta bela panorâmica sobre um dos mais impressionantes conjuntos destas formações, localizado nas planícies basálticas de Mare Ingenii. Vejam:

Uma panorâmica oblíqua sobre a região central de Mare Ingenii obtida pela sonda Lunar Reconnaissance Orbiter a 16 de Maio de 2012 (cliquem na imagem para a ampliarem). São visíveis ao centro as montanhas que delimitam as crateras Thompson e Thompson M. Os redemoinhos surgem nesta imagem como estruturas sinuosas e brilhantes que atravessam todo cenário, aparentemente indiferentes à topografia local.
Crédito: NASA/GSFC/Arizona State University.

Imagem de contexto mostrando toda a extensão de Mare Ingenii. O quadrado branco mostra a região ilustrada na imagem de cima.
Crédito: NASA/GSFC/Arizona State University.

domingo, 8 de julho de 2012

Sol produz fulguração classe-X!

Durante a última semana, a região activa 1515 produziu uma sequência impressionante de fulgurações classe-C e classe-M. A configuração magnética exibida pela região nos últimos 4 dias fazia adivinhar que estaria eminente uma explosão muito mais forte. Ontem, pelas 00:08 (hora de Lisboa), a região disparou finalmente uma fulguração classe-X1! O fenómeno produziu uma pequena tempestade de radiação solar em simultâneo com a libertação de uma ejecção de massa coronal no espaço. De acordo com as imagens obtidas pelo SOHO, a nuvem de plasma dirige-se para sudoeste e não deverá provocar efeitos significativos na Terra.

A fulguração classe-X de ontem em diferentes comprimentos de onda no ultravioleta extremo. Imagens obtidas pelo instrumento Atmospheric Imaging Assembly do Solar Dynamics Observatory.
Crédito: SDO(NASA)/AIA consortium.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Fogo de artifício solar

O Sol tem estado a providenciar durante toda a semana um verdadeiro espectáculo pirotécnico. Entre 2 e 5 de Julho contaram-se nem mais nem menos que 18 fulgurações classe-M no hemisfério voltado para a Terra! A maioria teve origem na região activa 1515, um complexo sistema de manchas solares que se estende ao longo de 100 mil quilómetros na superfície do Sol, o equivalente a 8 vezes o diâmetro do nosso planeta! A mais intensa destas fulgurações ocorreu ontem pelas 12:44 (hora de Lisboa) e atingiu o nível M6,1 (ainda um pouco distante da classe X). A região foi ainda responsável pela produção de numerosas pequenas ejecções de massa coronal, a maioria movendo-se para sul do plano das órbitas dos planetas. Apenas uma parece deslocar-se na direcção da Terra, devendo atingir o nosso planeta amanhã ao início da manhã.

Actividade solar de 2 a 5 de Julho de 2012, vista pelo instrumento Atmospheric Imaging Assembly do Solar Dynamics Observatory, através de filtros para o ultravioleta extremo (respectivamente, 304 Å e 131 Å).
Crédito: SDO(NASA)/AIA consortium.

Fluxo de raios X solares medidos de 02 a 05 de Julho de 2012 pelo satélite GOES 15 nas bandas de 1 a 8 Å (0.1-0.8 nm) e de 0.5 a 4.0 Å (0.05-0.4 nm). Estão assinaladas com setas a preto todas as fulgurações classe-M visíveis no vídeo de cima.
Crédito: NOAA/SWPC.

Mas ainda poderá haver mais nos próximos dias! A região 1515 continua a aumentar ligeiramente de tamanho e a manter uma configuração magnética beta-gama-delta com energia suficiente para mais fulgurações. O NOAA estima para hoje probabilidades de 80% para a ocorrência de fulgurações classe-M, e de 25% para a ocorrência das mais energéticas de classe-X. A região vizinha 1513 também se mantém muito activa e com energia para mais fulgurações classe-M.
Haverá alguma razão para nos preocuparmos?
Não. O Sol apenas volta a apresentar níveis normais de actividade tendo em conta a fase do ciclo em que se encontra. Durante os próximos dias teremos certamente períodos isolados de forte actividade geomagnética com a manifestação de auroras nas latitudes mais elevadas.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Além do gigante

Os dois maiores objectos do sistema saturniano vistos pela Cassini a 01 de Julho de 2012. Composição em cores naturais construída com imagens obtidas através de filtros para o azul, o verde e o vermelho (imagens originais: N00192089, N00192090 e N00192091).
Crédito:NASA/JPL/Space Science Institute/composição a cores de Sérgio Paulino.

Titã tinha acabado de emergir detrás do gigante Saturno quando a Cassini apontou o sistema de imagem na sua direcção. Mesmo a uma distância de pouco mais de 1,7 milhões de quilómetros, a sonda da NASA conseguiu resolver detalhes impressionantes da atmosfera desta enorme lua, incluindo o intrigante sistema de nuvens que nas últimas semanas paira sobre a região do pólo sul.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Região 1515 produz duas fortes fulgurações

Depois de um período de alguns dias de fraca actividade, o Sol voltou ontem a exibir o seu poder com duas fulgurações classe M na região activa 1515. A primeira ocorreu pelas 11:52 (hora de Lisboa) e esteve associada a distúrbios temporários na propagação de ondas rádio de baixa frequência por toda a Europa, e à libertação de uma ejecção de massa coronal direccionada para sul do plano das órbitas dos planetas. A segunda fulguração ocorreu há poucas horas, pelas 21:07 (hora de Lisboa), e foi consideravelmente mais fraca que a primeira. A região mantém uma configuração magnética beta-gama-delta, pelo que se espera mais acção nos próximos dias.

 
A fulguração classe M5,6 da manhã de ontem vista pelo Solar Dynamics Observatory no ultravioleta extremo (131 Å).
Crédito: SDO(NASA)/AIA consortium.

domingo, 1 de julho de 2012

Cassini fotografa o novo adorno de Titã

A região do pólo sul de Titã vista pela sonda Cassini a 26 de Junho de 2012. Composição em cores naturais construída com imagens obtidas através de filtros para as cores azul, verde e vermelho (imagens originais: N00191625, N00191626 e N00191627).
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/composição de Sérgio Paulino.

A Cassini sobrevoou na semana passada o pólo sul de Titã a uma distância de pouco mais de 450 mil quilómetros. A equipa da missão aproveitou esta passagem distante para realizar uma longa sessão de observação do complexo sistema de nuvens que nos últimos dois meses tem pairado sobre esta região. Durante um período de cerca de 13 horas, o espectrómetro CIRS analisou a composição química da atmosfera, medindo a pressão de nitrilos e de outros compostos orgânicos azotados enquanto as câmaras da sonda obtinham imagens através de diferentes filtros.
Os detalhes presentes nas imagens são fabulosos, mas o que me impressionou mais é que esta estrutura gira sobre si própria! Vejam só a animação em baixo:

Titan south pole cloud seen by Cassini 
O sistema de nuvens estratosféricas do pólo sul de Titã numa animação composta por nove imagens obtidas pela sonda Cassini a 26 e 27 de Junho de 2012, através de um filtro para o azul.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/animação de Sérgio Paulino.