domingo, 29 de setembro de 2013

Espectacular vista sobre Reiner Gama

Formação de Reiner Gama vista pela Lunar Reconnaissance Orbiter, a 04 de Julho de 2013.
Crédito: NASA/GSFC/Arizona State University.

Reiner Gama é um redemoinho lunar com centenas de quilómetros de comprimento, situado a norte da cratera Reiner, em Oceanus Procellarum. A imagem de cima mostra a porção central desta formação, vista num ângulo de 58º a partir da vertical, numa perspectiva semelhante à de um astronauta sobrevoando a superfície lunar.

Os redemoinhos lunares são faixas sinuosas de terreno brilhante sem relação aparente com a topografia local. A maioria destas formações ocorre em regiões com anomalias magnéticas, o que sugere um papel importante dos campos magnéticos na sua formação.

Podem ler mais sobre estas enigmáticas estruturas aqui.

sábado, 28 de setembro de 2013

Teria sido a Terra nos seus primórdios semelhante a Io?

Io vista pela Voyager 1, a 04 de Março de 1979.
Crédito: NASA/JPL/Ted Stryk.

Um trabalho publicado anteontem na revista Nature sugere que a Terra foi, na sua infância, muito semelhante a Io, a lua vulcânica de Júpiter. O novo estudo descreve como terão ocorrido transferências de calor do interior do planeta para a superfície, num período em que a crusta terrestre tinha já solidificado, mas não dispunha ainda de placas tectónicas.

A Terra formou-se há cerca de 4,5 mil milhões de anos, a partir de violentas colisões entre fragmentos proto-planetários. Na altura, o calor gerado por estes eventos foi suficiente para derreter grande parte do interior do jovem planeta, o que criou as condições necessárias à segregação de um denso núcleo metálico. A formação do núcleo terrestre promoveu a libertação de mais calor, e a concentração de elementos radioactivos no centro do planeta assegurou que a fornalha interior permaneceria quente por muito tempo.

Restam apenas alguns cristais das rochas formadas nessa época remota, o Hadeano. As primeiras rochas completas presentes nos registos geológicos datam da era seguinte, o Arqueano, um éon que teve o seu início há 4 mil milhões de anos. Contra todas as expectativas, estas rochas revelam que a crusta continental dessa época não era mais quente que a crusta terrestre dos nossos dias. Esta aparente contradição é conhecida por "paradoxo do Arqueano".

Como conseguia, então, a Terra livrar-se do intenso calor interno? William Moore e Alexander Webb encontraram uma solução para este problema. Os dois investigadores americanos criaram um modelo simples e elegante, que explica como o calor interno do planeta escapou pela crusta através de tubos de calor.

Em termos práticos, os tubos de calor são buracos na litosfera de um planeta preenchidos por materiais pouco consistentes. O magma quente ascende com rapidez através destas condutas e flui na superfície sob a forma de lava, o que permite que o calor interno se escape directamente para o espaço, num mecanismo muito semelhante ao que ocorre na lua joviana Io.

De acordo com Moore e Webb, na primeira metade do Arqueano, ter-se-ão formado tantos tubos de calor na litosfera da jovem Terra, que a superfície terrestre acabou por ficar coberta por sucessivas camadas de lava, a uma taxa de 1 a 2 milímetros de espessura por ano. A constante acumulação de materiais na superfície teve como consequência o afundamento gradual da crusta, e a reposição desses materiais no manto. Este mecanismo terá sido suficiente para extrair o calor do interior do planeta, e suprimir por completo a formação de placas tectónicas durante os primeiros mil milhões de anos de existência da Terra.

Há cerca de 3,5 mil milhões de anos, a Terra tornou-se fria o suficiente para que as placas tectónicas assumissem o controlo, e moldassem a face do planeta até aos dias de hoje.

A teoria de Moore e Webb é consistente com o registo geológico da época, que é dominado por rochas vulcânicas formadas a grande profundidade, exibindo sinais de interacção com a água e sedimentos da superfície.

Podem ler mais sobre este trabalho aqui e aqui.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Uma vista oblíqua sobre Hokusai

A cratera Hokusai vista pela sonda MESSENGER a 17 de Setembro de 2013.
Crédito: NASA/Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory/Carnegie Institution of Washington.

Esta imagem obtida recentemente pela sonda MESSENGER mostra Hokusai, uma jovem cratera com cerca de 114 quilómetros de diâmetro. Localizada no hemisfério norte de Mercúrio, Hokusai distingue-se entre outras crateras de dimensões semelhantes pelo seu proeminente sistema de raios, alguns dos quais com quase 1.000 quilómetros de extensão.

domingo, 22 de setembro de 2013

Missão Curiosity: novos resultados sugerem ausência de metano na atmosfera marciana

Auto-retrato do robot Curiosity na cratera Gale, obtido pela câmara MAHLI a 03 de Fevereiro de 2013 (sol 177 da missão).
Crédito: NASA/JPL-Caltech/MSSS.

Dados obtidos pelo robot Curiosity revelaram uma ausência praticamente total de metano na atmosfera do planeta vermelho. Estes resultados surpreenderam os investigadores da missão porque, aparentemente, contradizem leituras obtidas por outras missões a partir da órbita marciana.

A presença de metano na atmosfera de Marte é uma questão de grande interesse para os cientistas. Na Terra, o metano tem origem tanto em fenómenos geológicos, como também em processos biológicos.

"Este importante resultado irá ajudar-nos a direccionar os esforços na determinação da possibilidade de vida em Marte", disse Michael Meyer, investigador responsável pelo programa de exploração do planeta vermelho da NASA. "Reduz a probabilidade da presença de micróbios marcianos produtores de metano, mas diz apenas respeito a este tipo de metabolismo microbiano. Como sabemos, existem muitos tipos de micróbios terrestres que não geram metano."

O Curiosity mediu por seis vezes a concentração de metano em amostras da atmosfera marciana, no período compreendido entre Outubro de 2012 e Junho deste ano. Em nenhuma das vezes, o robot detectou a sua presença. Dada a elevada sensibilidade do instrumento usado, o espectrómetro laser sintonizável que segue a bordo do robot, os cientistas calculam que a concentração de metano atmosférico em Marte não deverá ultrapassar as 1,3 partes por milhar de milhão. Este valor corresponde a cerca de um sexto de algumas das estimativas anteriores.

"Teria sido emocionante encontrar metano, mas nós temos grande confiança nas nossas medições, e o progresso na expansão do conhecimento é o que é realmente importante", afirmou Chris Webster, o primeiro autor do artigo publicado na revista Science onde são apresentados estes resultados. "Fizemos medições repetidas, desde a Primavera marciana até ao fim do Verão, mas sem qualquer detecção de metano."

O espectrómetro usado nas medições é parte integrante do laboratório Sample Analysis at Mars (SAM), e pode ser especificamente programado para detectar quantidades vestigiais de metano. O SAM tem, ainda, a capacidade de concentrar o metano das amostras, o que aumenta a sensibilidade do espectrómetro laser sintonizável na sua detecção. No futuro, a equipa responsável pelo SAM irá usar este método para detectar concentrações muito inferiores a 1 parte por milhar de milhão.

Resultados anteriores sugeriam a presença de concentrações localizadas de metano atmosférico com valores que atingiam as 45 partes por milhar de milhão. Esta descoberta despoletou o interesse dos cientistas pela possibilidade de uma origem biológica para o metano detectado. No entanto, as medições do Curiosity não são consistentes com tais concentrações, mesmo se o metano se tivesse, entretanto, dispersado por todo o planeta.

"Não existe nenhum processo conhecido que levasse o metano a desaparecer com rapidez da atmosfera", disse Sushil Atreya, um dos co-autores deste trabalho. "O metano é persistente. Duraria por centenas de anos na atmosfera marciana. Sem uma forma de o remover com rapidez da atmosfera, as nossas medições indicam que não pode haver muito metano a ser libertado na atmosfera por qualquer mecanismo, quer seja biológico, geológico, ou por degradação pela acção da radiação ultravioleta em compostos orgânicos levados pela queda de meteoritos ou de partículas de poeira interplanetária."

Baseado nos resultados do Curiosity, Atreya estima que, anualmente, não entram mais de 10 a 20 toneladas de metano na atmosfera do planeta vermelho. Este valor corresponde a apenas 1/500.000.000 do aporte anual de metano na atmosfera terrestre.

Podem encontrar mais pormenores deste trabalho aqui.

Começa hoje o Outono

Pôr-do-sol no Guincho, junto a Cascais, no dia 21 de Setembro de 2013. Nos dias próximos dos equinócios, o Sol põe-se directamente na direcção oeste.
Crédito: Sérgio Paulino.

Ocorre hoje, pelas 21:44 (hora de Lisboa), o equinócio de Outono, o momento em que o Sol, no seu movimento aparente anual, cruza o equador celeste em direcção a Sul. Este instante marca o início do Outono no hemisfério norte, uma estação que este ano se prolonga por 90,85 dias, até ao próximo solstício, que ocorrerá no dia 21 de Dezembro, pelas 17:11 (hora de Lisboa).

A palavra equinócio deriva da expressão latina aequus nox, que significa "noite igual ao dia", uma alusão ao facto de nestas datas dia e noite terem igual duração.

sábado, 21 de setembro de 2013

Terminou a missão Deep Impact

Impacto deliberado de um projéctil de cobre na superfície do cometa Tempel 1. Imagem obtida pela sonda Deep Impact a 04 de Julho de 2005.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/UMD.

A NASA anunciou ontem o fim da missão Deep Impact/EPOXI. A decisão foi tomada depois da equipa da missão ter falhado sucessivas tentativas de reatar as comunicações com a sonda. O último contacto com a Terra tinha ocorrido no passado dia 08 de Agosto.

Durante as últimas semanas, os controladores da missão tentaram enviar por diversas vezes comandos para reactivar os sistemas de bordo. Uma análise anterior tinha revelado uma potencial anomalia no relógio do computador da Deep Impact, um problema que poderia comprometer a orientação da sonda no espaço, impedindo o correcto posicionamento das antenas de rádio e dos painéis solares.

"Apesar do final inesperado, a Deep Impact alcançou muito mais do que havíamos alguma vez imaginado", disse Lindsey Johnson, responsável do projecto Deep Impact, na conferência de imprensa de ontem na sede da NASA. "A Deep Impact deu uma volta completa a tudo aquilo que pensávamos saber acerca de cometas, e também providenciou um tesouro de ciência planetária adicional que fornecerá dados de investigação por muitos anos."

Em quase 9 anos, a Deep Impact percorreu cerca de 7,58 mil milhões de quilómetros no espaço interplanetário, uma viagem que teve como momentos altos as passagens a curta distância dos cometas Tempel 1, em 2005, e Hartley 2, em 2010. Pelo caminho, a sonda observou, ainda, seis estrelas diferentes para confirmar a presença de planetas na sua órbita, e recolheu dados e imagens da Terra, da Lua, de Marte e dos cometas C/2009 P1 (Garradd) e ISON.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Estranhas texturas nos glaciares marcianos

"Terreno-cérebro" visto pela sonda Mars Reconnaissance Orbiter, a 23 de Agosto de 2013 (resolução da imagem original: 30,3 cm/pixel).
Crédito: NASA/JPL/University of Arizona.

Esta imagem obtida recentemente pela Mars Reconaissance Orbiter mostra a intrincada textura que adorna o sopé de uma pequena colina, na região setentrional de Arabia Terra, em Marte. Apelidados de "terreno-cérebro", estes estranhos padrões são observados com frequência na superfície de estruturas lobadas, constituídas quase na totalidade por gelo puro.

Os cientistas desconhecem, ainda, se estes depósitos se comportam como os glaciares terrestres. Tal conhecimento seria um importante contributo para a compreensão do clima marciano e da sua evolução ao longo do tempo. Os padrões visíveis na imagem poderão estar relacionados com o fluxo do gelo, mas não existe ainda uma explicação definitiva para este fenómeno.

Podem ler mais sobre estas texturas glaciares aqui.

sábado, 14 de setembro de 2013

Aram Chaos criado pelo colapso catastrófico de um lago gelado

Representação artística do colapso catastrófico responsável pela formação de Aram Chaos.
Crédito: Faculdade de Geociências, Universidade de Utrecht.

Um grupo de cientistas europeus liderados por Manuel Roda da Universidade de Utrecht descobriu evidências da fusão e drenagem catastróficas de um gigantesco lago gelado subterrâneo em Aram Chaos, uma depressão circular com 280 km de diâmetro, situada a leste de Valles Marineris, em Marte. O estudo combinou observações realizadas pela sonda Mars Express com modelos que explicam os processos de fusão de extensas massas de gelo subterrâneas.

Os terrenos caóticos são unidades geológicas complexas distintivas do planeta vermelho. Com dimensões que podem atingir as centenas de quilómetros, estas vastas estruturas apresentam uma geomorfologia típica que inclui superfícies irregulares com mesas elevadas, colinas de variados tamanhos e profundas depressões. Os mecanismos envolvidos na sua formação são ainda alvo de debate científico.

Aram Chaos é uma estrutura particularmente interessante porque se encontra ligada a Ares Vallis por um canal cavado com 15 km de largura e 2,5 km de profundidade. Dados providenciados pela câmara HRSC da sonda Mars Express sugerem que o terreno caótico de Aram Chaos era originalmente uma grande cratera de impacto, que foi preenchida quase na totalidade, antes de ocorrerem os eventos catastróficos responsáveis pela sua actual morfologia.

Mapa topográfico da região de Aram Chaos. É possível ver à direita o canal que liga a cratera a Ares Vallis.
Crédito: Faculdade de Geociências, Universidade de Utrecht.

"À cerca de 3,5 mil milhões de anos, a jovem cratera de impacto Aram foi parcialmente preenchida com gelo de água, que [por sua vez] foi sepultado por baixo de uma camada de sedimentos com 2 quilómetros de espessura", afirmou ontem Manuel Roda no Congresso Europeu de Ciência Planetária, em Londres. "Esta camada isolava o gelo das temperaturas da superfície, mas foi gradualmente fundido durante um período de milhões de anos pelo calor libertado pelo planeta. Os sedimentos que cobriam a água fluída ficaram instáveis e colapsaram."

O resultado deste processo foi a libertação massiva de cem mil quilómetros cúbicos de água, o equivalente a quatro vezes o volume de água do Lago Baikal, o maior lago de água doce da Terra. Em apenas um mês, a revoltosa massa de água rasgou o canal profundo que liga a cratera a Ares Vallis, deixando para trás o padrão caótico que hoje observamos em Aram Chaos.

"Uma consequência entusiasmante é que as unidades de gelo e rocha estão ainda, possivelmente, presentes abaixo da superfície", disse Roda. "Estas nunca atingiram as condições de fusão, ou derreteram em apenas uma fina camada, insuficiente para resultar num evento catastrófico completo. Os lagos gelados subsuperficiais são um testemunho das rápidas alterações que transformaram Marte num planeta gelado (...). Estes lagos poderão providenciar locais potencialmente favoráveis para a vida, protegidos da radiação ultravioleta nociva da superfície."

Podem ler mais sobre este trabalho aqui.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Espectacular fotografia: rã lançada com a sonda LADEE

Rã elevando-se no ar no momento da partida da sonda lunar LADEE.
Crédito: NASA Wallops Flight Facility/Chris Perry.

Uma câmara remota captou uma imagem intrigante durante o lançamento da LADEE, no passado dia 6 de Setembro. A imagem mostra uma rã a ser projectada no ar pela descolagem do foguetão Minotaur V que transportava a sonda lunar.

A NASA já confirmou que a fotografia é genuína, e que não sofreu qualquer manipulação. O destino da rã permanece incerto.

As instalações da NASA na ilha de Wallops, na Virginia, situam-se numa área pantanosa, onde habitam uma variedade de espécies animais, incluindo os simpáticos anuros. A plataforma onde foi lançado o foguetão com a sonda LADEE está ligada a um reservatório de água, que alimenta a estrutura durante os lançamentos para protegê-la de danos e suprimir o intenso ruído produzido pelos foguetões. Aparentemente, a pequena rã deverá ter julgado que este seria o local ideal para levar uma vida sem sobressaltos.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Um olhar sobre o hemisfério norte de Dione

Dione numa composição em cores naturais construída com imagens obtidas pela sonda Cassini a 10 de Setembro de 2013, através de filtros para as cores azul, verde e vermelho.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/Sérgio Paulino.

A Cassini realizou anteontem uma observação distante do hemisfério norte de Dione, a quarta maior lua de Saturno. A imagem de cima foi obtida nessa sessão e mostra toda a extensão de Padua Chasmata e Eurotas Chasmata, dois complexos sistemas de desfiladeiros visíveis do lado direito, e a região do pólo norte dioniano, visível no lado esquerdo, entre as duas crateras degradadas Phorbas e Haemon e o extremo setentrional de Tibur Chasmata.

3200 Faetonte: um asteróide com dupla personalidade

Faetonte e a sua cauda, numa imagem obtida pelo instrumento SECCHI HI do observatório STEREO-A.
Crédito: Jewitt, Li, Agarwal /NASA/STEREO.

3200 Faetonte revelou, recentemente, a sua natureza única, ao exibir uma cauda semelhante à dos cometas. Imagens obtidas pelo observatório STEREO-A, nas proximidades do periélio, mostram um fluxo de partículas de poeira a serem projectadas do asteróide na direcção anti-solar. Estas observações e as respectivas interpretações foram apresentadas ontem pelo astrónomo David Jewitt no Congresso Europeu de Ciência Planetária 2013, em Londres.

Faetonte é um asteróide com cerca de 5 quilómetros de diâmetro, pertencente ao grupo Apolo (objectos com órbitas que cruzam a órbita da Terra), e um membro provável da família Palas, asteróides carbonáceos primitivos ricos em compostos orgânicos voláteis. Com uma órbita extremamente alongada, Faetonte atravessa com regularidade as órbitas dos quatro planetas interiores do Sistema Solar (Mercúrio, Vénus, Terra e Marte), atingindo o periélio a apenas 0,140 UA. A tão curta distância do Sol, a superfície do asteróide aquece até temperaturas próximas dos 750ºC.

Os astrónomos cedo se aperceberam que a órbita de Faetonte está dinamicamente associada aos enxames de meteoróides progenitores das Geminidas, e a um grupo de pequenos asteróides conhecido por Complexo Faetonte-Geminidas (CFG). As Geminidas ocorrem anualmente em Dezembro, e contam-se entre as mais espectaculares chuvas de estrelas observadas nos céus terrestres. A maioria das chuvas de estrelas têm uma origem cometária, mais concretamente na perda de massa pelo núcleo cometário, através da sublimação do gelo das camadas mais superficiais. Faetonte é dinamicamente um asteróide, o que levanta questões quanto aos mecanismos envolvidos na formação dos enxames de meteoróides responsáveis pelas Geminidas.

Geminidas sobre Pendleton, no Oregon, EUA.
Crédito: Thomas W. Earle.

Duas décadas de observações passaram sem qualquer indício de actividade em Faetonte, que pudesse esclarecer o mistério das Geminidas. A sorte mudou, porém, em 2010, quando Jewitt e colegas notaram um aumento anómalo do brilho do asteróide nas proximidades do Sol. A chave do sucesso foi usar o STEREO-A, um observatório espacial que monitoriza o Sol, para realizar observações impossíveis de concretizar com outros telescópios. Imagens obtidas em 2009 e 2012 confirmaram a presença de uma cauda em Faetonte, nas proximidades do periélio.

"A cauda dá-nos evidências incontestáveis que Faetonte ejecta poeira", afirmou Jewitt. "Isso deixa ainda uma questão: porquê? Os cometas fazem-no porque contêm gelo que vaporiza pela acção do calor do Sol, criando um vento que sopra partículas de poeira do núcleo. A passagem de Faetonte mais próxima do Sol é equivalente a apenas 14% da distância média entre a Terra e o Sol (1 UA). Isso significa que Faetonte atingirá temperaturas superiores a 700ºC - demasiado quente para o gelo sobreviver."

A equipa sugere que as partículas de poeira da cauda poderão ser libertadas a partir de fracturas na superfície de Faetonte formadas pelo stress térmico a que o asteróide é sujeito no periélio. Estas partículas não terão mais de 2 µm de diâmetro, pelo que sofrem rapidamente a influência da pressão de radiação exercida pela luz solar, projectando-se no espaço sob a forma de uma cauda anti-solar.

Será, então, Faetonte um cometa ou um asteróide? "Pela forma da sua órbita, Faetonte é definitivamente um asteróide", disse Jewitt. "Porém, ao ejectar poeira, comporta-se como um cometa de rocha."

Podem ler mais sobre este trabalho aqui.

sábado, 7 de setembro de 2013

LADEE a caminho da Lua

Lançamento da sonda LADEE, esta madrugada.
Crédito: NASA/Chris Perry.

Eram 04:27 (hora de Lisboa) quando a NASA concretizou o lançamento da sonda LADEE, a partir das Instalações de Voo de Wallops, na Virgínia. De acordo com a equipa da missão, a sonda completou com sucesso a separação do foguetão Minotaur V, e encontra-se neste momento a comunicar com o centro de operações da missão, no Centro de Investigação de Ames,em Moffett Field, na Califórnia.

Vejam em baixo o vídeo do lançamento:



Durante as verificações técnicas, a LADEE desactivou as suas rodas de reacção, dispositivos usados para posicionar e estabilizar a sonda. "A sonda LADEE está a funcionar de acordo com o que seria esperado nestas condições - não existe qualquer indicação de algo errado com as rodas de reacção ou com a sonda", afirmou Simon P. Worden, director do Centro de Investigação de Ames. "A LADEE está a comunicar e é muito robusta. A equipa da missão tem muito tempo para resolver este problema, antes da sonda atingir a órbita lunar."

A situação está, neste momento, sob escrutínio. Normalmente, as verificações técnicas levam alguns dias até estarem concluídas. Esta anomalia deverá adicionar mais alguns dias ao procedimento. "Este não é um evento invulgar numa sonda" disse Worden. "Planeamos completar as verificações da sonda nos próximos dias."

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Sonda LADEE preparada para o lançamento

Representação artística da sonda LADEE na órbita lunar.
Crédito: NASA Ames / Dana Berry.

Já se encontra posicionado na plataforma de lançamentos 0B das instalações da NASA, na ilha de Wallops, na costa atlântica dos EUA, o foguetão Minotaur V que irá transportar a sonda Lunar Atmosphere and Dust Environment Explorer (LADEE) até à órbita terrestre. O seu lançamento deverá ocorrer dentro de poucas horas, pelas 04:27 da madrugada (hora de Lisboa).

A nova missão da NASA tem como objectivos científicos principais: determinar a densidade global, composição e variabilidade da exosfera lunar (a ténue atmosfera da Lua); investigar os processos que controlam a sua distribuição e variabilidade espacial e temporal; medir a densidade de partículas de poeira exosféricas, e caracterizar a sua variabilidade e impacto na exosfera lunar; determinar as dimensões, carga e distribuição espacial dos grãos de poeira transportados electrostaticamente desde a superfície lunar, e avaliar os seus efeitos nos veículos e fatos espaciais.

A LADEE irá testar também várias tecnologias inovadoras, incluindo o seu sistema de montagem modular, uma arquitectura que poderá vir a reduzir significativamente os custos de futuras missões interplanetárias. A missão demonstrará ainda a eficiência das comunicações a laser com a Lua.

O período de lançamento da LADEE estender-se-á até 10 de Setembro, havendo em cada dia uma janela de lançamento de aproximadamente 15 minutos. Depois de se separar do veículo de lançamento, a LADEE executará três órbitas completas em redor da Terra. Durante esta fase, os propulsores da sonda serão accionados em cada perigeu, de forma a elevar o apogeu seguinte.

A LADEE deverá abandonar a órbita terrestre cerca de 24 dias após o lançamento. A viagem até à Lua demorará quase uma semana e culminará com uma inserção numa órbita retrógrada com um período de 24 horas. A sonda levará, depois, 40 a 60 dias a ajustar a sua trajectória para alcançar a órbita científica - uma órbita quase circular a cerca de 50 quilómetros de distância da superfície lunar, com aproximadamente 113 minutos de período. A fase científica da missão terminará 100 dias depois, quando se esgotar o combustível da sonda e a sua órbita começar a decair.

Podem assistir ao lançamento da LADEE aqui.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Um olhar distante sobre Jápeto

A lua Jápeto numa composição em cores naturais construída com imagens obtidas pela Cassini a 30 de Agosto de 2013, através de filtros para o azul, o verde e o vermelho.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/Sérgio Paulino.

Na passada sexta-feira, a sonda Cassini aproveitou uma passagem a cerca de 2,49 milhões de quilómetros de Jápeto para fotografar o seu hemisfério subsaturniano.

Na imagem de cima é possível observar os limites orientais de Cassini Regio, uma vasta área coberta por um enigmático material escuro (leiam mais aqui sobre a origem desta misteriosa coloração). Nesta região distinguem-se os contornos de Turgis, uma bacia de impacto com 580 quilómetros de diâmetro, o correspondente a cerca de 40% do diâmetro de Jápeto. A leste encontra-se a grande cratera Naimon, facilmente distinguível pela coloração escura que tinge as suas vertentes.