quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Será a rocha recentemente observada pelo Opportunity uma evidência de vida em Marte? Esperem aí...

Pinnacle Island vista em cores naturais pelo robot Opoortunity a 26 de Janeiro de 2014.
Crédito: NASA/JPL/Sérgio Paulino.

E pronto. O já conhecido Journal of Cosmology voltou à carga com mais um artigo anunciando a descoberta de vida extraterrestre. O texto é assinado por Rhawn Joseph, um acérrimo defensor da ideia, no mínimo, controversa da panspermia direccionada, e versa sobre a pequena rocha que, no início de Janeiro, apareceu misteriosamente junto ao robot Opportunity.

De acordo com Joseph, as imagens disponibilizadas pela NASA são uma "evidência de actividade biológica" na superfície do planeta vermelho". Porquê? Nas palavras do autor, "a misteriosa estrutura em forma de taça, que apareceu em Marte, não se parece com uma rocha ou meteorito, mas com um líquen, que na Terra é conhecido por Apothecia".

Antes de mais, convém esclarecer o seguinte pormenor: não existem líquenes do género Apothecia. Os líquenes são associações simbióticas estáveis entre um fungo (o micobionte) e, pelo menos, um parceiro fotossintético (o fotobionte), que pode ser uma microalga, uma cianobactéria, ou ambos. Algumas espécies fúngicas liquenizadas produzem apotecas (em inglês, apothecia), que são pequenas estruturas reprodutivas em forma de taça.

Apotecas em Xantoria parietina, um líquen foliáceo comum na Europa.
Crédito: Umberto Salvagnin.

Após esta confusão inicial, Joseph tenta fundamentar a sua convicção, fazendo comparações entre as imagens obtidas pelo Opportunity e algumas imagens e esquemas de apotecas. Joseph afirma, ainda, que "a ausência de um campo de detritos ou perturbações no solo marciano ou pequenas rochas na vizinhança da estrutura exclui meteoros (não seriam meteoritos?) ou uma rocha que possa ter sido deslocada de outro sítio", pelo que a súbita aparição desta curiosa estrutura só poderia ser explicada pela exposição de um líquen marciano a humidade, e consequente formação de uma apoteca.

Obviamente, que esta interpretação não tem qualquer suporte nos dados disponibilizados pela NASA. Não só as imagens mostram, claramente, uma estrutura rochosa, como são simples e claras as hipóteses providenciadas pela equipa da missão para o seu súbito aparecimento junto ao Opportunity. Ao contrário do que é afirmado por Joseph, a rocha foi estudada em detalhe pelo robot da NASA, inclusive com a sua pequena câmara microscópica (como podem confirmar aqui), pelo que é completamente desajustado o role de acusações com que Joseph preenche a pretensa discussão do artigo.

Enfim... Vida em Marte? Nunca é demais relembrar a ilustre frase de Carl Sagan: "afirmações extraordinárias requerem provas extraordinárias".

Actualização:

Rhawn Joseph não conteve a sua indignação para com a ausência de uma resposta oficial da equipa científica da missão Mars Exploration Rovers (MER) relativamente às suas alegações, e avançou anteontem com uma acção judicial contra a NASA e o seu administrador Charles Bolden. Joseph acusa John Callas (director do projecto MER), Steven Squyres (investigador principal da MER), Charles Bolden e outros administradores da NASA de negligenciarem os seus apelos, e exige que a NASA "cumpra um dever público, científico e legal, que é fotografar de perto, e examinar e investigar com todo o detalhe científico, um putativo organismo biológico". Num expoente máximo de deselegância, Joseph afirma, ainda, que "qualquer adulto inteligente, adolescente, criança, chimpanzé, macaco, cão ou roedor com uma réstia de curiosidade, aproximar-se-ia, investigaria e examinaria de perto" a misteriosa estrutura em forma de taça, e que a NASA em vez de investigar, avança com uma explicação que é "bizarra, absurda, ignorante e pouco mais do que pensamento mágico".

Podem desfrutar de todo o conteúdo desta acção aqui.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Herschel descobre colunas de vapor de água na superfície de Ceres

Representação artística do planeta-anão Ceres e da sua fina atmosfera de vapor de água.
Crédito: ESA/ATG medialab.

Há muito que os cientistas suspeitam da presença de quantidades substanciais de água no interior de Ceres. Dados recentemente obtidos pelo observatório espacial europeu Herschel vêm agora demonstrar que a superfície do planeta-anão emite periodicamente vapor de água.

Com cerca de 952 quilómetros de diâmetro, Ceres é o maior objecto da Cintura de Asteróides. Ao contrário da grande maioria dos objectos que povoam esta vasta região, Ceres apresenta um corpo quase esférico, provavelmente, diferenciado num núcleo rochoso e num espesso manto exterior, rico em compostos voláteis. Estes materiais datam dos primeiros milhões de anos de existência do Sistema Solar, e foram acumulados antes da formação dos planetas.

As características espectrais de Ceres sugerem a presença de minerais hidratados na sua superfície. No entanto, até agora, não havia sido detectada de forma conclusiva a presença de água nestas paragens. Foi necessária a acuidade visual no infra-vermelho distante do espectrómetro HIFI (Heterodyne Instrument for the Far-Infrared) do observatório Herschel para os cientistas observarem, pela primeira vez, a assinatura espectral inequívoca do vapor de água pairando acima da superfície cereriana.

"Esta foi a primeira vez que foi detectado vapor de água em Ceres ou em qualquer outro objecto da Cintura de Asteróides, e providencia provas de que Ceres tem uma superfície gelada e uma atmosfera", afirma Michael Küppers, autor principal deste trabalho, publicado ontem na revista Nature.

Apesar das observações realizadas pelo HIFI serem demasiado grosseiras para permitirem a identificação detalhes na superfície de Ceres, a equipa de astrónomos liderada por Küppers conseguiu localizar com precisão as fontes de emissão do vapor de água, através do registo das variações do sinal detectado ao longo do período de rotação de Ceres - aproximadamente 9 horas. Os dados sugerem que o vapor de água escapa para espaço, predominantemente, em duas áreas com diâmetros aproximados de 60 quilómetros, coincidentes com duas manchas escuras anteriormente identificadas em imagens obtidas pelo telescópio Hubble e por telescópios terrestres.

Variabilidade da intensidade do sinal detectado para o espectro de absorção da água, no dia 06 de Março de 2013. As leituras mais elevadas coincidem com as longitudes onde se localizam duas manchas escuras, conhecidas por Piazzi e Região A.
Crédito: adaptado de Küppers et al.

"Estimamos que estejam a ser produzidos aproximadamente 6 kg de vapor de água por segundo, o que requer que apenas se encontre coberta com gelo uma minúscula fracção de Ceres, o que liga lindamente com as duas fontes localizadas por nós observadas", afirma Laurence O'Rourke, segundo autor do artigo, e investigador principal do programa MACH-11, um programa de observação de asteróides e de cometas protagonizado pelo Herschel, onde se integram estas observações.

Estes resultados são de alguma forma inesperados, uma vez que, ao contrário dos cometas, os asteróides não exibem este tipo de comportamento. A explicação mais provável é a de que o vapor de água é produzido pela sublimação de pequenos reservatórios subsuperficiais de gelo de água, expostos pelas repetidas erupções, num processo autossustentado. As duas manchas escuras deverão ser mais eficientes a libertar vapor de água porque absorvem mais radiação solar, o que as torna nas áreas mais quentes da superfície de Ceres. A sonda Dawn terá a possibilidade de investigar estas regiões quando alcançar o planeta-anão, em Março ou Abril de 2015.

A presença e abundância de água no interior dos asteróides é um assunto de extrema relevância para a compreensão da evolução do Sistema Solar. Há cerca de 4,6 mil milhões de anos, a região central do Sistema Solar era demasiado quente para que a água condensasse nos locais de formação dos quatro planetas interiores (Mercúrio, Vénus, Terra e Marte). A água e outros materiais voláteis terão sido transportados até estes planetas mais tarde, durante o Intenso Bombardeamento Tardio, um período de violentos impactos de asteróides e cometas ocorrido há aproximadamente 3,9 mil milhões de anos.

"A descoberta de vapor de água a ser expelido por Ceres dá-nos novas informações acerca da forma como a água se encontra distribuída no Sistema Solar" afirma Göran Pilbratt, investigador da missão Herschel. "Uma vez que Ceres constitui cerca de 1/3 da massa total da Cintura de Asteróides, este achado torna-se importante, não só para o estudo dos pequenos objectos do Sistema Solar em geral, mas também para um melhor conhecimento acerca da origem da água na Terra."

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Mirtilos em Marte

"Mirtilos" marcianos numa imagem obtida pelo robot Opportunity, a 08 de Setembro de 2004 (sol 222).
Crédito: NASA/JPL/Cornell/USGS.

"Existem estruturas neste solo diferentes de tudo aquilo que observámos até hoje em Marte", afirmou Steve Squyres, investigador principal da missão Mars Exploration Rovers, depois de examinar as primeiras imagens detalhadas do solo marciano obtidas pelo Opportunity em Fevereiro de 2004, poucos dias depois da chegada do robot da NASA a Meridiani Planum. Squyres e a sua equipa estavam particularmente intrigados com as pequenas esferas acinzentadas que ornamentavam o interior da pequena cratera Eagle, local para onde o robot tinha rolado após atingir a superfície marciana.

Ricos em hematite, os "mirtilos" marcianos são pequenas concreções com poucos milímetros de diâmetro, formadas no interior das rochas sedimentares de Meridiani Planum. O curioso nome, escolhido pelos cientistas da missão, evoca a característica tonalidade azulada exibida por estas pequenas esferas nas imagens em cores falsas divulgadas pela NASA. Desalojadas da sua matriz rochosa pela acção erosiva dos ventos marcianos, os "mirtilos" foram uma presença constante na paisagem em redor do robot Opportunity, durante os primeiros anos da sua odisseia na superfície do planeta vermelho.

Rochas cobertas de "mirtilos", junto à orla da cratera Endurance. Panorama obtido pelo robot Opportunity, a 19 de Maio de 2004 (sol 114).
Crédito: NASA/JPL/Cornell.

A hematite é um mineral constituído por cristais de óxido de ferro (III) (Fe2O3), tipicamente formado na presença de água líquida, pelo que a descoberta dos "mirtilos" em Meridiani Planum forneceu aos cientistas pistas fundamentais acerca do passado húmido da região. A sua distribuição aleatória no seio de estratos sedimentares ricos em sais de sulfato sugere que foram precipitados quando lençóis subterrâneos de água extremamente ácida ensoparam depósitos de arenitos basálticos ricos em goethite, um mineral formado por cristais de óxido de ferro hidratado FeO(OH).

Este fenómeno deverá ter sido, no entanto, limitado a um período relativamente curto. Dados obtidos a partir da órbita marciana mostram que as rochas ricas em hematite de Meridiani Planum se concentram num estreito conjunto de estratos geológicos formados num passado muito distante, pelo que a presença de água nesta região deverá corresponder a um breve episódio na história do planeta vermelho.

Rocha aparece misteriosamente em frente do robot Opportunity

Misteriosa rocha observada pelo robot Opportunity em Solander Point, a 08 de Janeiro de 2014 (sol 3540).
Crédito: NASA/JPL/Stuart Atkinson.

Foram muitas as descobertas realizadas pelos dois robots da missão Mars Exploration Rovers na superfície marciana. No entanto, nenhuma foi mais intrigante que a pequena rocha recentemente observada a poucos metros do robot Opportunity.

Denominada "Pinnacle Island" pela equipa da missão, a estranha rocha surgiu, aparentemente, vinda do nada, num local onde não se encontrava 12 sóis antes. "Marte continua a lançar-nos coisas novas", afirmou o investigador principal da missão Steve Squyres, no encontro de celebração do 10º aniversário da chegada do Spirit e do Opportunity ao planeta vermelho.

De acordo com Squyres, o misterioso objecto tem uma camada esbranquiçada no exterior, e apresenta no centro uma concavidade vermelha escura. "E apareceu", disse Squyres. "Simplesmente apareceu, e nós não nos deslocámos até esse ponto."

Comparação de duas imagens do local onde agora repousa a rocha "Pinnacle Island", obtidas pelo robot Opportunity antes e depois do seu súbito aparecimento.
Crédito: NASA/JPL.

O achado é um verdadeiro quebra-cabeças. No entanto, os cientistas da missão conseguiram encontrar duas explicações plausíveis.

A primeira é a de que a rocha terá sido movida durante uma das manobras do Opportunity. O motor que acciona a roda dianteira direita deixou de funcionar, pelo que a roda arrasta-se pela superfície rochosa sempre que o robot muda de direcção."Manobrámos a um ou dois metros de distância do local, e talvez uma das rodas a tenha arrancado do chão", afirmou Squyres. "Esta é a explicação mais provável."

A segunda sugere que a pequena rocha possa ter sido arremessada pelo impacto de um meteoróide nas proximidades. "Poderá ter sido formada uma cratera nas redondezas, e isto poderá ser material ejectado", explicou Squyres. "No entanto, esta explicação é menos provável."

A rocha assemelha-se a um donut com recheio de compota, sendo que a compota corresponde à concavidade central. "A parte correspondente à compota é diferente de tudo aquilo que até hoje observámos em Marte." afirmou Squyres. "É muito rica em enxofre e magnésio, e tem o dobro da quantidade de manganésio alguma vez observada por nós. Não sei o que significa qualquer uma destas coisas. Estamos completamente confusos. Todos na equipa discutem e argumentam. Estamos a divertir-nos imenso."

A pequena rocha parece estar voltada ao contrário, o que sugere que a concavidade central poderá ter estado protegida da atmosfera marciana, provavelmente, durante milhões de anos. A equipa da missão planeia executar análises adicionais, antes de girar o robot sobre si, em busca de outras mudanças na paisagem.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Missão chinesa Chang'E-3: novidades e novas imagens do primeiro dia lunar

A Chang'E-3 e o pequeno Yutu foram reactivados após um longo período de hibernação, que coincidiu com a primeira noite lunar da missão. De acordo com a agência noticiosa Xinhua, o Yutu "acordou" de forma autónoma anteontem, pelas 21:09 (hora de Lisboa), reiniciando a exploração da superfície lunar pouco depois de ter estabelecido contacto com o Centro de Controlo Aeroespacial de Pequim (CCAP), na China. A Chang'E-3 reactivou-se no início da madrugada de hoje, pelas 00:21 (hora de Lisboa), e encontra-se, neste momento, em condições normais de funcionamento.

"Durante a noite lunar, a sonda e o rover estiveram desligados, e as comunicações com a Terra foram também interrompidas", afirmou à agência Xinhua Zhou Jianliang, engenheiro-chefe da CCAP. "Quando a noite termina, a sonda e o rover reiniciam com a energia providenciada pela luz solar, e retomam as operações e comunicações seguindo uma sequência pré-programada."

Entretanto, a equipa da missão publicou novas imagens em alta-resolução obtidas durante o primeiro dia lunar. Apreciem:

A superfície lunar em duas imagens obtidas a 14 de Dezembro de 2013, pela câmara de descida da Chang'E-3, quando esta se encontrava, respectivamente, a 99 e a 7,9 metros de altitude.
Crédito: Academia Chinesa de Ciências.

Primeira imagem do local de alunagem, obtida pela Chang'E-3, a 15 de Dezembro de 2013.
Crédito: Academia Chinesa de Ciências.

A Chang'E-3 vista pelo Yutu, a 15 de Dezembro de 2013.
Crédito: Academia Chinesa de Ciências.

Chang'E-3 vista pelo Yutu, a 16 de Dezembro de 2013.
Crédito: Academia Chinesa de Ciências.

O rover Yutu visto da Chang'E-3, a 16 de Dezembro de 2013.
Crédito: Academia Chinesa de Ciências.

A paisagem de Mare Imbrium, numa imagem obtida a 17 de Dezembro de 2013, pela sonda Chang'E-3.
Crédito: Academia Chinesa de Ciências.

Cinturas de radiação em redor da Terra, vistas pela câmara de ultravioleta extremo da Chang'E-3, a 24 de Dezembro de 2013, através de um filtro para a banda dos 63 nm.
Crédito: Academia Chinesa de Ciências.

A Terra vista da superfície lunar. Imagem obtida pela Chang'E-3, a 24 de Dezembro de 2013.
Crédito: Academia Chinesa de Ciências.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

HiRISE espia os mais recentes progressos do Curiosity

Rastos do robot Curiosity na paisagem de Aeolis Palus, no interior da cratera Gale. Imagem obtida a 11 de Dezembro de 2013, pela câmara HiRISE da sonda Mars Reconnaissance Orbiter.
Crédito: NASA/JPL/University of Arizona.

Em Julho passado, o Curiosity despediu-se de Yellowknife Bay, retomando o caminho que o levará a um acesso seguro à base do monte Sharp, o seu próximo grande objectivo no interior da cratera Gale. Na imagem de cima podemos ver as marcas deixadas pelas rodas do explorador da NASA nas suas mais recentes deambulações, alguns quilómetros a sudoeste de Yellowknife Bay. Os rastos sinuosos denunciam os esforços da equipa da missão em evitar os inúmeros obstáculos que povoam a paisagem em redor.

Imagem monocromática mostrando a posição do Curiosity no dia 11 de Dezembro de 2013. Conseguem vê-lo?
Crédito: NASA/JPL/University of Arizona.

O Curiosity aproxima-se agora de uma área mais escura, onde a saltação dos grãos de areia mantém a superfície rochosa relativamente livre de partículas de poeiras brilhantes. O robot da NASA soma já mais de 4.663 metros percorridos desde a sua chegada ao planeta vermelho, uma marca que começa a reflectir-se na integridade dos aros de alumínio das suas seis rodas.

domingo, 5 de janeiro de 2014

Asteróide 2014 AA não sobrevive a encontro com a Terra

Asteróide 2014 AA em quatro imagens diferentes obtidas pelo Catalina Sky Survey, a 01 de Janeiro de 2014.
Crédito: CSS/LPL/UA.

Na manhã de quarta-feira passada, o programa Catalina Sky Survey detectou um pequeno asteróide numa trajectória que culminaria com um potencial impacto na Terra. As primeiras imagens mostravam que o objecto não teria mais de 2 a 3 metros de diâmetro, pelo que se colidisse com o nosso planeta seria certamente destruído na atmosfera.

Denominado 2014 AA, este foi o primeiro asteróide a ser descoberto em 2014. Usando as poucas observações disponíveis, Bill Gray, do Minor Planet Center, e Steve Chesley, do Near-Earth Object Program, da NASA, realizaram três previsões independentes da sua possível órbita. As três mostravam que 2014 AA colidiria com a Terra apenas 22 horas após a sua descoberta, num ponto situado algures no interior de uma estreita elipse que se estenderia desde o Mar Vermelho até ao Panamá, na América Central.

Trajectória final do asteróide 2014 AA.
Crédito: NASA/JPL-Caltech.

Dados obtidos pela rede de estações de detecção de infra-sons de baixa frequência da Organização do Tratado de Interdição Completa de Ensaios Nucleares (CTBTO) revelaram uma pequena explosão atmosférica no interior da elipse de incerteza, no dia 2 de Janeiro, por volta das 04:02 (hora de Lisboa), o que confirma as previsões dos dois astrónomos. De acordo com os sinais detectados, o impacto deverá ter ocorrido num ponto situado em pleno Oceano Atlântico, a cerca de 1.700 quilómetros a norte da cidade de Fortaleza, no Brasil.

Mapa mostrando os possíveis locais de impacto do asteróide 2014 AA. A vermelho está indicado o ponto mais provável de impacto, calculado com base nos dados da rede de estações de detecção de infra-sons de baixa frequência da CTBTO.
Crédito: NASA/JPL-Caltech.

"É muito difícil estimar com grande precisão a energia libertada - os sinais são todos muito fracos", afirmou à revista Sky and Telescope Peter Brown da Universidade do Ontário Ocidental, no Canadá. A partir da análise dos infra-sons, Brown estima que a energia do impacto deverá ter sido equivalente à libertada pela explosão de 500 a 1.000 toneladas de TNT, o que implica que o objecto não seria maior que um pequeno automóvel. "Não foi nenhum Chelyabinsk", disse Brown.

Esta foi apenas a segunda vez que um asteróide foi detectado antes de atingir a Terra. O primeiro foi o asteróide 2008 TC3, um objecto com 80 toneladas de massa e 4,1 metros de diâmetro, que explodiu a 7 de Outubro de 2008, sobre o Deserto da Núbia, no Sudão. Na altura, foram recuperados cerca de 600 meteoritos, totalizando aproximadamente 10,5 kg de material.

sábado, 4 de janeiro de 2014

Cassini começa o ano com espectaculares imagens de Titã

Na quarta-feira passada, a Cassini sobrevoou a superfície de Titã, a uma altitude de apenas 1.400 quilómetros. O encontro teve como principal objectivo o mapeamento em infravermelho dos territórios equatoriais a leste de Adiri, com o instrumento Visible and Infrared Mapping Spectrometer (VIMS). No entanto, a trajectória seguida pela sonda da NASA permitiu também a observação, com as duas câmaras do subsistema de imagem, da região dos grandes lagos e mares de metano, no pólo norte, e das regiões mais meridionais do hemisfério anti-saturniano.

Apreciem em baixo algumas das imagens obtidas durante este encontro.

O hemisfério norte de Titã numa composição em cores naturais construída com imagens obtidas pela Cassini, a 01 de Janeiro de 2014. Notem a espessa camada de neblina que cobre toda a região do pólo norte.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/Sérgio Paulino.

Pormenor da região do pólo norte de Titã, obtido a 39,6 mil quilómetros de altitude, pela câmara de grande angular da sonda Cassini, através de um filtro para uma estreita janela na banda do infravermelho onde a atmosfera é transparente. A cruz marca o local do pólo norte.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/Sérgio Paulino.

Estrutura das camadas superiores da atmosfera titaniana vista através de um filtro para o violeta (420 nm).
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.

Hemisfério sul de Titã em cores naturais. Composição construída com imagens obtidas durante a fase de egresso do encontro.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/Sérgio Paulino.

O próximo encontro com Titã está agendado para 02 de Fevereiro.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Chang'E-3 e Yutu fotografados pela Lunar Reconnaissance Orbiter

No passado dia 14 de Dezembro, a sonda Chang'E-3 e seu pequeno companheiro Yutu alcançaram a superfície lunar, marcando assim mais um momento histórico no programa espacial da China. Na altura, a Lunar Reconnaissance Orbiter encontrava-se longe do local de alunagem, pelo que não pode testemunhar a chegada dos novos visitantes chineses. A oportunidade só se concretizou 10 dias depois, quando a sonda da NASA passou directamente sobre a região.

A sonda Chang'E-3 e o robot Yutu em Mare Imbrium, na Lua. Imagem obtida a 25 de Dezembro de 2013, pela Lunar Reconnaissance Orbiter (resolução aproximada: 1,5 metros/pixel).
Crédito: NASA/GSFC/Arizona State University.

Comparação entre duas imagens do mesmo local, obtidas antes e depois da alunagem da Chang'E-3.
Crédito: NASA/GSFC/Arizona State University.

A sonda chinesa e o pequeno robot surgem nas imagens como pontos brilhantes, projectando distintas sombras na paisagem. Ambos repousam sobre um espesso depósito de materiais vulcânicos, em pontos situados a poucas dezenas de metros de distância da orla de uma cratera sem nome, com um diâmetro aproximado de 450 metros e uma profundidade de 40 metros.

Imagem de contexto mostrando o local de alunagem da Chang'E-3 (seta branca grande). As setas brancas pequenas assinalam uma crista sinuosa criada pelo arrefecimento e contracção da lava basáltica que preenche Mare Imbrium. As setas negras mostram a fronteira entre duas unidades geológicas com diferentes propriedades espectrais. A unidade onde poisou a Chang'E-3 distingue-se da unidade vizinha pela presença de quantidades significativas de ilmenite, um mineral formado por óxido de ferro e titânio.
Crédito: NASA/GSFC/Arizona State University.