sábado, 29 de março de 2014

Rosetta espreita cometa 67P/Churyumov–Gerasimenko

O cometa 67P/Churyumov–Gerasimenko visto pela câmara de grande angular do sistema OSIRIS da sonda Rosetta, a 20 de Março de 2014. Esta imagem tem cerca de 25 vezes o diâmetro angular da Lua cheia, e mostra em pano de fundo nuvens de hidrogénio e poeira na constelação do Ofiúco.
Crédito: OSIRIS-Team MPS/UPD/LAM/IAA/SSO/INTA/UPM/DASP/IDA.

A Rosetta obteve na semana passada o primeiro vislumbre do cometa 67P/Churyumov–Gerasimenko, desde que saiu de hibernação no passado dia 20 de Janeiro. Usando as câmaras do sistema OSIRIS, a sonda europeia captou duas novas imagens do seu cometa de destino, quando este se encontrava a 5 milhões de quilómetros de distância.

"É uma sensação extraordinária vermos finalmente o nosso alvo após uma viagem de 10 anos através do espaço", afirmou o investigador principal do OSIRIS Holger Sierks. "Estas primeiras imagens, obtidas de uma tão grande distância, mostram-nos que o OSIRIS está preparado para a aventura que se aproxima."

As novas imagens fazem parte de uma série de actividades dedicadas a preparar os instrumentos da Rosetta para o encontro com o cometa no próximo mês de Agosto. Esta fase de preparação estender-se-á por cerca de 6 semanas, e incluiu já, ontem, a activação do Philae, o pequeno robot de 100 kg que acompanha a sonda europeia, e que poisará no núcleo do cometa em Novembro próximo.

O cometa 67P/Churyumov–Gerasimenko numa imagem obtida a 21 de Março de 2014, pela câmara de ângulo fechado do sistema OSIRIS. O campo de visão desta imagem abrange a mesma área representada pelo rectângulo visível na primeira imagem. Ao lado do cometa encontra-se o enxame globular de estrelas M107.
Crédito: OSIRIS-Team MPS/UPD/LAM/IAA/SSO/INTA/UPM/DASP/IDA.

"Este é um óptimo arranque para o nosso período de comissionamento dos instrumentos", disse Matt Taylor, cientista da missão Rosetta. "Estamos ansiosos para ter os 11 instrumentos mais o robot Philae de novo on-line e prontos para a chegada ao cometa dentro de alguns meses."

O cometa é ainda um pequeno ponto com menos de 1 pixel de diâmetro no campo de visão do OSIRIS. Para 67P/Churyumov–Gerasimenko aparecer nas imagens foi necessário completar séries de exposições com uma duração de 60 a 300 segundos.

A Rosetta irá obter novas imagens ao longo das próximas semanas, com o objectivo de ajustar a sua trajectória em direcção ao cometa. Neste momento, a sonda europeia viaja numa órbita em redor do Sol que, se não for alterada, a projectará numa passagem a 50 mil quilómetros de distância do seu alvo, a uma velocidade relativa de 2880 km/h.

A equipa da missão tem programadas uma série de manobras críticas para o próximo mês de Maio, que irão reduzir a velocidade relativa da Rosetta para apenas 3,6 km/h, e transportá-la para um encontro com o cometa na primeira semana de Agosto, a uma distância de cerca de 100 km. Entre Maio e Agosto, o núcleo de 67P/Churyumov–Gerasimenko deverá crescer gradualmente no campo de visão do OSIRIS, desde o diâmetro actual de menos de 1 pixel até um tamanho superior a 2000 pixels - o equivalente a uma resolução de 2 metros/pixel. Estas primeiras observações serão cruciais para caracterizar a forma e o período de rotação do núcleo, dados fundamentais para a equipa da missão programar as manobras seguintes, que levarão a sonda europeia a estabelecer uma órbita estável em redor do cometa.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Hubble detecta jactos de poeira no núcleo do cometa Siding Spring

Cometa Siding Spring visto pelo telescópio espacial Hubble, a 29 de Outubro de 2013, e a 21 de Janeiro e 11 de Março de 2014. As imagens de baixo foram processadas de forma a tornar mais evidentes as variações subtis do brilho da cabeleira.
Crédito: NASA/ESA/Z. Levay (STScI).

Imagens recentemente obtidas pelo telescópio espacial Hubble mostram o que aparenta serem jactos de poeira partindo de pontos opostos do núcleo do cometa C/2013 A1 (Siding Spring). No dia 19 de Outubro, Siding Spring fará uma passagem a cerca de 132 mil quilómetros de distância da superfície de Marte - o equivalente a aproximadamente 1/3 da distância média entre a Terra e a Lua. Os astrónomos prevêem que o planeta vermelho passe no interior da sua cabeleira, pelo que existe a distinta possibilidade das sondas na órbita marciana serem bombardeadas por partículas de poeira provenientes do cometa.

As observações realizadas pelo Hubble estão a ajudar os cientistas a desvendar detalhes importantes do comportamento de Siding Spring. Imagens captadas a 11 de Março revelam a presença de dois jactos de poeira em extremos opostos do núcleo. Estas estruturas foram observadas pela primeiras vez em imagens obtidas pelo telescópio espacial a 29 de Outubro de 2013, e deverão fornecer aos astrónomos dados suficientes para determinarem a direcção do eixo de rotação do núcleo.

O Hubble realizou ainda uma observação adicional a 21 de Janeiro, no momento em que a Terra cruzava o plano da órbita de Siding Spring. Na altura, o posicionamento dos dois corpos possibilitou a determinação da velocidade a que as partículas são ejectadas da superfície do núcleo.

"Estas são informações críticas que necessitamos para determinar se, ou até que nível, os grãos de poeira da cabeleira do cometa vão colidir com Marte ou com as sondas situadas nas proximidades do planeta", afirmou Jian-Yang Li, investigador do Instituto de Ciência Planetária, em Tucson, nos Estados Unidos.

Apesar de possuírem, na sua maioria, dimensões microscópicas, as partículas de poeira libertadas pelo núcleo de Siding Spring deverão viajar em direcção a Marte, a uma velocidade de cerca de 200 mil quilómetros por hora - aproximadamente 8 vezes a velocidade típica do lixo espacial que se encontra à deriva na órbita terrestre. A esta velocidade, mesmo as mais finas partículas têm energia cinética suficiente para danificarem componentes vitais das sondas na órbita do planeta vermelho.

Siding Spring viaja numa órbita com um período de cerca de 1 milhão de anos. O cometa fará uma passagem pelo periélio a 25 de Outubro, a 1,4 UA de distância do Sol - num ponto exterior à órbita da Terra. Nessa altura, o seu brilho deverá permanecer abaixo do limiar da visibilidade a olho nu.

quarta-feira, 26 de março de 2014

Descoberto primeiro sistema de anéis em torno de um asteróide

Representação artística do sistema de anéis de Chariklo.
Crédito: ESO/L. Calçada/M. Kornmesser/Nick Risinger.

Observações obtidas em observatórios da América do Sul, incluindo o Observatório de La Silla do ESO, levaram à descoberta surpreendente de que o asteróide remoto 10199 Chariklo (um centauro) se encontra rodeado por dois anéis densos e estreitos. Este é o objeto mais pequeno com anéis até agora descoberto, e apenas o quinto corpo no Sistema Solar – depois dos planetas Júpiter, Saturno, Urano e Neptuno – que apresenta esta característica.

A origem dos anéis permanece um mistério. Os astrónomos ponderam a hipótese destas estruturas terem sido criadas por uma colisão na superfície de Chariklo. Os novos resultados foram hoje publicados na revista Nature.

Podem ler todos os pormenores desta descoberta aqui.

Descoberto um novo objecto nos confins do Sistema Solar

Imagens da descoberta de 2012 VP113, obtidas a 5 de Novembro de 2012, com cerca de 2 horas intervalo.
Crédito: Scott Sheppard/Carnegie Institution for Science.

Astrónomos anunciaram hoje a descoberta de um novo objecto nos limites conhecidos do Sistema Solar. Usando o telescópio de 4 metros do Observatório Nacional de Astronomia Óptica, no Chile, Scott Sheppard e Chadwick Trujillo descobriram um corpo gelado com cerca de 450 metros de diâmetro, numa órbita longínqua com uma periélio situado a cerca de 80 UA de distância do Sol. O novo objecto foi denominado provisoriamente 2012 VP113, e é o segundo membro, depois de Sedna, a ser identificado na região interior da nuvem de Oort.

Podem ler tudo sobre esta importante descoberta aqui.

domingo, 23 de março de 2014

Chegada a Kimberley

As colinas de Kimberley emolduradas pelas faldas do monte Sharp, num retrato obtido pelo robot Curiosity, a 15 de Março de 2014 (sol 571 da missão). Esta imagem é apenas uma fracção de um extenso mosaico que inclui a quase totalidade da paisagem em redor do robot da NASA.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/MSSS/Sérgio Paulino.

Nas últimas semanas, o Curiosity avançou a bom ritmo em direcção a Kimberley, um grupo de pequenas colinas com afloramentos rochosos adequados para a recolha e análise de amostras. Será neste local que o robot da NASA deverá permanecer durante as próximas semanas.

Esta curta paragem não terá, no entanto, objectivos meramente científicos. Durante a permanência em Kimberley, a equipa da missão irá analisar imagens da região, obtidas a partir da órbita marciana, para definirem uma rota segura pelo terreno traiçoeiro que separa o robot da NASA do seu destino principal - as encostas do monte Sharp.

A caminho de Kimberley, o Curiosity obteve este espectacular mosaico que abarca grande parte da paisagem em seu redor. Apreciem:


Panorama sobre o monte Sharp obtido pelo Curiosity, a 15 de Março de 2014 (sol 571 da missão).
Crédito: NASA/JPL-Caltech/MSSS/Sérgio Paulino.

sexta-feira, 21 de março de 2014

Jogos de luz em Saturno

Saturno em cores naturais, numa composição construída com imagens obtidas pela sonda Cassini a 19 de Março de 2014.
Crédito:NASA/JPL/Space Science Institute/Sérgio Paulino.

O lado nocturno do hemisfério norte de Saturno surge timidamente iluminado pela luz do Sol reflectida pelo sistema de anéis do planeta, nesta imagem obtida anteontem pela Cassini. Na altura, a sonda da NASA encontrava-se a 1,71 milhões de quilómetros de distância de Saturno.

Com a aproximação do solstício de Maio de 2017, o lado diurno do planeta tem conquistado cada vez mais territórios na região do pólo norte. Neste momento, o vórtice polar que paira sobre a região encontra-se já completamente banhado pela luz solar.

quinta-feira, 20 de março de 2014

Começa hoje a Pimavera

O pôr-do-Sol na lagoa de Óbidos no dia 13 de Março de 2010, com as Berlengas como pano de fundo. No dia do equinócio o Sol pôe-se exactamente a oeste.
Crédito: Sérgio Paulino.

Hoje, pelas 16:57 (hora de Lisboa), o Sol cruzará a linha imaginária do equador celeste (a linha definida pela projecção do plano equatorial terrestre na esfera celeste) em direcção a norte. Este momento corresponde ao primeiro equinócio do ano e marca o início da Primavera no hemisfério norte, e do Outono no hemisfério sul. A nova estação irá prolongar-se por 91,75 dias, até ao próximo solstício que ocorrerá a 21 de Junho, pelas 11:51 (hora de Lisboa).

A palavra Equinócio deriva da expressão latina aequus nox, que significa "noite igual ao dia", uma alusão ao facto de, nestas datas, dia e noite terem praticamente a mesma duração.

terça-feira, 18 de março de 2014

Dados da MESSENGER sugerem que Mercúrio encolheu mais do que se pensava

Mercúrio em cores naturais numa composição construída com imagens obtidas pela sonda MESSENGER a 14 de Janeiro de 2008.
Crédito: NASA/JHUAPL/Gordan Ugarkovic.

Dados obtidos pela sonda MESSENGER sugerem que o planeta Mercúrio reduziu o seu raio em cerca de 7 quilómetros nos últimos 3,8 mil milhões de anos. Os novos resultados baseiam-se na caracterização de mais de 5900 estruturas espalhadas pela superfície do planeta, e contrariam estimativas anteriores, calculadas a partir de observações realizadas pela sonda Mariner 10 há cerca de 40 anos.

Antes da chegada da MESSENGER, os cientistas conheciam apenas 45% da superfície de Mercúrio. Três encontros com o planeta mais próximo do Sol tinham permitido à Mariner 10 obter imagens nunca antes vistas de um pequeno mundo crivado de crateras, algumas recortadas por escarpas lobadas e cristas de enrugamento. Estas primeiras observações sugeriam que Mercúrio tinha contraído radialmente entre 0,8 e 3 quilómetros, valores muito inferiores aos previstos pelos modelos de evolução térmica dos planetas.

Um dos mais proeminentes cinturões orogénicos observados em Mercúrio. Este sistema tem cerca de 1700 quilómetros de comprimento e consiste num conjunto de escarpas lobadas e cristas de enrugamento, que incluem Victoria Rupes, Endeavour Rupes e Antoniadi Dorsum.
Crédito: NASA/JHUAPL/Byrne et al.

"Esta discrepância entre a teoria e a observação, um quebra-cabeças com 4 décadas, foi finalmente resolvida", afirmou Sean Solomon, investigador principal da missão MESSENGER. "É genuinamente maravilhoso ver que a nossa compreensão teórica é, por fim, coincidente com as evidências geológicas."

Usando imagens de alta-resolução e dados topográficos recolhidos pela sonda da NASA, os investigadores da missão construíram uma mapa global das estruturas tectónicas visíveis na superfície do planeta. Ao todo foram identificadas 5934 escarpas e cristas, com comprimentos entre os 9 e os 900 quilómetros. Os novos dados sugerem que Mercúrio contraiu radialmente entre 4,6 a 7 quilómetros, um intervalo semelhante ao previsto pelos modelos teóricos - aproximadamente 5 a 10 quilómetros.

Mapa mostrando a totalidade das escarpas e cristas identificadas pelos autores do trabalho.
Crédito: NASA/JHUAPL/Byrne et al.

"Estes novos resultados resolvem um paradoxo com décadas, entre os modelos de evolução térmica e as estimativas da contracção de Mercúrio", disse Paul Byrne, primeiro autor deste trabalho. "Agora, a história da produção e perda de calor, e contracção global são consistentes. Curiosamente, as nossas observações são também reminiscentes de modelos, agora obsoletos, de como ocorreram deformações geológicas de larga escala na Terra, numa altura em que a comunidade científica pensava que a Terra teria apenas uma placa tectónica. Esses modelos foram desenvolvidos no século XIX para explicar a construção de montanhas e a actividade tectónica, antes do aparecimento da teoria da tectónica de placas."

Com as suas múltiplas placas tectónicas, a Terra é um caso único no Sistema Solar. Distinta da crusta terrestre, a camada mais exterior de Mercúrio é formada por uma única estrutura rígida. Esta descoberta poderá, assim, providenciar um modelo de estudo para compreender como um planeta arrefece ao longo do tempo - um modelo que poderá ser aplicado não só aos planetas telúricos do Sistema Solar como também a outros planetas na órbita de outras estrelas.

Podem ler mais sobre este trabalho aqui.

domingo, 16 de março de 2014

Gema minúscula confirma presença de vastos reservatórios de água nas entranhas da Terra

JUc29, um diamante com 5 mm de comprimento que contém no seu interior uma minúscula gema de ringwoodito.
Crédito: Richard Siemens/University of Alberta.

Cientistas descobriram um cristal microscópico de um mineral nunca antes visto na Terra, que aponta para a presença de vastos reservatórios de água no interior da Terra. A minúscula gema foi encontrada no interior de um pequeno diamante brasileiro e constitui a primeira amostra da zona de transição do manto terrestre, uma região localizada entre os 410 e os 660 quilómetros de profundidade.

"Esta amostra providencia, na verdade, uma confirmação extremamente consistente de que existem locais húmidos nesta área, a grande profundidade na Terra", afirmou Graham Pearson, investigador da Universidade de Alberta, no Canadá, e primeiro autor deste trabalho. "Essa zona da Terra, em particular, a zona de transição, poderá conter tanta água quanto a contida por todos os oceanos do mundo juntos."

O mineral identificado pela equipa de Pearson denomina-se ringwoodito e é uma forma polimórfica de olivina forjada a pressões e temperaturas típicas da zona de transição do manto terrestre. Os cientistas tinham já identificado este mineral em meteoritos sujeitos a pressões elevadas produzidas por violentas colisões no espaço.

Graham Pearson segurando o pequeno diamante JUc29.
Crédito: Richard Siemens/University of Alberta.

A amostra agora descoberta tem cerca de 40 µm de diâmetro e é uma das muitas impurezas encontradas pela equipa de Pearson no interior de um diamante "ultra-profundo" de baixo valor comercial, com cerca de 0,09 g de peso. Usando a espectroscopia de infravermelhos, os investigadores descobriram que a pequena impureza contém uma quantidade significativa de água - cerca de 1,5 % da sua massa - um valor que confirma as teorias científicas que prevêem vastos volumes de água aprisionados na zona de transição do manto.

"A maioria dos diamantes formam-se a profundidades entre os 150 e os 200 quilómetros, mas os diamantes "ultra-profundos" vêm de uma região do manto conhecida por zona de transição, 410 a 660 quilómetros abaixo da superfície", disse Pearson. "Estes diamantes formados a grande pressão dão-nos uma janela para o interior da Terra."

O pequeno diamante foi descoberto em depósitos de aluvião do rio 21 de Abril, nas proximidades de Juína, no estado de Mato Grosso, no Brasil, e foi adquirido pela equipa de Pearson por apenas 20 dólares, com o objectivo de detectarem a presença de outro mineral. Estes depósitos contêm grandes quantidades de diamantes trazidos à superfície por uma rocha vulcânica conhecida por kimberlito - uma rocha formada no manto a grandes profundidades.

A descoberta da minúscula gema foi acidental, e foi protagonizada em 2009 pelo doutorando de Pearson, o investigador John McNeill. "É tão pequena, esta inclusão, que seria extremamente difícil de a encontrar, se a quiséssemos procurar, pelo que foi uma sorte, tal como são muitas descobertas científicas", afirmou Pearson.

A quantidade de água detectada no interior da gema de ringwoodito não é necessariamente representativa de toda a zona de transição. Estudos geofísicos anteriores produziram resultados conflituosos, o que sugere que a água da zona de transição do manto se encontra concentrada em regiões muito pontuais. "A nossa amostra parece vir de um desses pontos húmidos", disse Pearson.

Esta descoberta tem profundas implicações no estudo do vulcanismo e da tectónica de placas. A presença de vastos reservatórios de água no interior da Terra afecta a forma como o magma arrefece, se funde e circula abaixo da crusta terrestre. "Uma das razões pelas quais a Terra é um planeta tão dinâmico é a presença de água no seu interior", afirmou Pearson. "A água modela a forma como o planeta funciona."

Podem ler mais sobre este trabalho aqui e aqui.

sábado, 15 de março de 2014

Sonda europeia observa glória nas nuvens de Vénus

Uma glória nas nuvens de Vénus. Composição construída com imagens obtidas a 24 de Julho de 2011 pela sonda Venus Express, através de filtros para comprimentos de onda no ultravioleta, no visível e no infravermelho próximo.
Crédito: ESA/MPS/DLR/IDA.

Pela primeira vez, um fenómeno óptico denominado glória foi fotografado na atmosfera de outro planeta. O feito foi alcançado pela sonda europeia Venus Express, actualmente em missão na órbita de Vénus, e poderá tornar-se um contributo importante para a compreensão das condições presentes no topo das nuvens do nosso vizinho planetário.

As glórias são essencialmente imagens do Sol altamente distorcidas, reflectidas por gotículas de água ou outros aerossóis. Distintas dos arco-íris, as glórias manifestam-se no ponto anti-solar, sob a forma de pequenos anéis concêntricos coloridos, centrados num núcleo brilhante. Na Terra são observadas com frequência a partir dos aviões, rodeando a sua sombra nas nuvens mais abaixo.

O mecanismo responsável pela formação das glórias só foi esclarecido nos anos 80, quando o físico brasileiro Herch Moysés Nussenzveig demonstrou que a principal causa seria um processo conhecido por acoplamento de ondas evanescentes. Ao contrário do que acontece no arco-íris, na glória, a radiação reflectida pelas gotículas não chega a entrar no seu interior. Ao invés, a luz reflectida é emitida por ondas electromagnéticas induzidas dentro das gotículas pela radiação que passa nas proximidades.

Para uma glória se formar são necessárias nuvens constituídas por gotículas esféricas com tamanho idêntico. Em Vénus, as camadas superiores da atmosfera contêm gotículas ricas em ácido sulfúrico. Ao fotografarem as nuvens com o Sol directamente atrás da Venus Express, os cientistas da missão esperavam identificar uma glória que pudesse revelar importantes características das gotículas das nuvens.

Simulação do aspecto de uma glória em Vénus (à esquerda) e na Terra (à direita).
Crédito: C. Wilson/P. Laven.

A 24 de Julho de 2011, a sonda europeia teve finalmente sucesso. Viajando a uma altitude de cerca de 6000 km, a Venus Express fotografou uma glória no topo das nuvens, aproximadamente 70 km acima da superfície do planeta. Vista daquela altitude, a glória tinha cerca de 1200 km de diâmetro.

Estas observações sugerem que as gotículas das nuvens de Vénus têm cerca de 1,2 µm de diâmetro, o equivalente a um quinquagésimo da largura de um cabelo humano. O facto da glória possuir um diâmetro de 1200 km significa que as gotículas no topo das nuvens são uniformes, pelo menos a esta escala.

As variações no brilho dos anéis da glória são diferentes daquelas que seriam de esperar se as nuvens fossem formadas por uma mistura simples de ácido sulfúrico e água, o que sugere uma composição química mais complexa. Os cientistas da missão pensam que as gotículas terão um núcleo de cloreto de ferro ou uma camada exterior de enxofre elementar. O enxofre está relacionado com o vulcanismo e tem um papel importante no efeito estufa gerado pela atmosfera do planeta. A presença do cloreto de ferro a tão grande altitude representa um problema, pois não se conhecem mecanismos que possam bombear tal substância até esta região da atmosfera.

Podem ler mais sobre este trabalho aqui.

sábado, 8 de março de 2014

A monotonia de Planum Boreum

Padrões repetitivos na superfície de Planum Boreum, em Marte. Imagem obtida a 05 de Fevereiro de 2014 pela sonda Mars Reconnaissance Orbiter.
Crédito: NASA/JPL/University of Arizona.

Planum Boreum é uma vasta planície gelada localizada na região do pólo norte de Marte. Com cerca de 1200 quilómetros de diâmetro, esta região abriga uma calota de gelo permanente com aproximadamente 1,2 milhões de km3 de volume, o equivalente a metade do volume da calota de gelo da Gronelândia. Esta estrutura tem uma profundidade máxima de 3 quilómetros e é composta maioritariamente por gelo de água.

O lençol de gelo de Planum Boreum fica coberto durante todo o Inverno por uma camada de gelo de dióxido de carbono e de água com aproximadamente 1 metro de espessura. Esta fina cobertura acaba por desaparecer apenas no final da Primavera, deixando expostos os padrões repetitivos visíveis na imagem de cima.

A região do pólo norte de Marte vista no princípio do Verão. Imagem obtida a 13 de Março de 1999, pela sonda Mars Global Surveyor.
Crédito: NASA/JPL/Malin Space Science Systems.

As planícies do pólo norte marciano seriam péssimos locais para nos perdermos. Planum Boreum é uma das regiões mais planas do planeta vermelho, pelo que não existem pontos de referência visíveis na paisagem. Os monótonos padrões da superfície estendem-se por centenas de quilómetros em todas as direcções e são formados por pequenas cristas escuras separadas por cavidades com 1 metro de profundidade e cerca de 20 metros de diâmetro. Os cientistas desconhecem ainda o que torna estes padrões tão uniformes ao longo de áreas tão grandes.

Hubble testemunha a desintegração de um asteróide

Desintegração do asteróide P/2013 R3 observada pelo telescópio espacial Hubble.
Crédito: NASA/ESA/D. Jewitt (UCLA).

Astrónomos observaram um fenómeno nunca antes visto na Cintura de Asteróides. Usando o telescópio espacial Hubble, uma equipa liderada por David Jewitt da Universidade da Califórnia testemunhou, pela primeira vez, a fragmentação de um asteróide em pelo menos 10 pedaços. Os resultados desta observação foram divulgados anteontem na revista Astrophysical Journal Letters.

Denominado P/2013 R3 (Catalina-Pan-STARRS), o estranho objecto foi descoberto a 15 de Setembro de 2013, em imagens obtidas através de telescópios dos projectos Catalina Sky Survey e Pan-STARRS. Na altura, os astrónomos notaram que, apesar de se encontrar numa órbita típica de um objecto da Cintura de Asteróides, P/2013 R3 exibia uma cauda difusa muito semelhante à dos cometas. Observações realizadas duas semanas depois, através do telescópio de 10 metros do Observatório W. M. Keck, no Hawaii, revelaram a presença de três objectos a moverem-se no interior de uma nuvem de poeira com um diâmetro aproximado ao da Terra.

"O Keck mostrou-nos que esta coisa merecia uma observação através do Hubble", disse Jewitt. Com um poder de resolução superior, o Hubble permitiu a identificação de um total de 10 objectos, cada um com uma cauda de poeira apontando na direcção anti-solar. O maior dos fragmentos tem cerca de 400 metros de diâmetro.

Os dados obtidos pelo Hubble mostram, ainda, que os diferentes componentes de P/2013 R3 estão a afastar-se lentamente uns dos outros, a uma velocidade de 0,7 a 1,8 km.h-1. O seu movimento sugere que a fragmentação terá ocorrido algures entre Fevereiro e Setembro de 2013.

"Nunca tínhamos visto nada assim", afirmou Jessica Agarwal, investigadora do Instituto Max-Planck para a Investigação do Sistema Solar, na Alemanha, e co-autora deste trabalho. "A fragmentação poderá ter várias causas diferentes, no entanto as observações do Hubble são suficientemente detalhadas para podermos determinar com exactidão o processo responsável."

A contínua descoberta de mais fragmentos torna pouco provável a possibilidade do fenómeno ter tido origem numa colisão. Um choque violento entre dois asteróides geraria, certamente, detritos viajando a velocidades muito superiores às observadas.

É também improvável que P/2013 R3 se tenha fragmentado devido à pressão gerada pelo aquecimento e vaporização de bolsas de gelo subsuperficiais. O asteróide encontra-se demasiado longe do Sol para que os gelos no seu interior sublimem de forma significativa.

Ilustração do processo mais provável de desintegração do asteróide P/2013 R3.
Crédito: NASA/ESA/D. Jewitt (UCLA)/A. Feild (STScI).

Isto deixa um único cenário possível. P/2013 R3 deverá ter-se desintegrado devido a uma instabilidade rotacional causada por um fenómeno conhecido por efeito Yarkovsky–O'Keefe–Radzievskii–Paddack (YORP). Este efeito ocorre quando a luz solar é absorvida por um objecto e reemitida para o espaço sob a forma de calor. Em objectos irregulares como os pequenos asteróides, esta libertação de calor varia de acordo com a região, o que produz um pequeno mas constante momento de força que acelera lentamente a velocidade de rotação até ao ponto do objecto sucumbir à força centrífuga. A desintegração de P/2013 R3 sugere que o objecto original teria uma estrutura frágil, provavelmente resultante de numerosas antigas colisões com outros asteróides.

A nuvem de detritos que rodeia os fragmentos sobreviventes tem uma massa de cerca de 200 mil toneladas, e é composta por partículas com aproximadamente 10 milímetros de diâmetro. A maioria destes meteoróides rumará no futuro em direcção ao Sol, mas uma fracção cruzar-se-á com o nosso planeta, mergulhando na atmosfera terrestre sob a forma de meteoros.

"Esta é a mais recente de uma linha de descobertas de estranhos asteróides, na qual está incluído o asteróide activo P/2013 P5 (...), afirmou Agarwal. "Isto indica que o Sol poderá desempenhar um papel importante na desintegração destes pequenos corpos do Sistema Solar, ao colocar pressão na sua superfície através da luz solar."

Podem ler mais acerca deste trabalho aqui.

quarta-feira, 5 de março de 2014

Espectacular perspectiva sobre o terreno montanhoso a oeste de Caloris

Terreno montanhoso a norte da cratera Nawahi, no extremo ocidental da bacia de Caloris. Imagem obtida pela sonda MESSENGER a 27 de Abril de 2012.
Crédito: NASA/Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory/Carnegie Institution of Washington.

Caloris é uma gigantesca cicatriz criada na superfície de Mercúrio há aproximadamente 3,9 mil milhões de anos, pelo impacto de um objecto com cerca de 100 km de diâmetro. Na imagem de cima podemos ver parte do terreno montanhoso que se estende a ocidente desta magnífica bacia mercuriana. Erguida pelos materiais arremessados durante a sua formação, esta região contrasta com as áreas mais planas visíveis a leste.

domingo, 2 de março de 2014

Cientistas descobrem estruturas intrigantes em rocha proveniente de Marte

Microtúneis numa fina secção polida do meteorito Yamato 000593, numa imagem de microscopia electrónica de varrimento.
Crédito: NASA.

Cientistas da NASA anunciaram na semana passada a descoberta de evidências de interacções da matriz rochosa de um meteorito marciano com água líquida, quando este se encontrava na superfície do planeta vermelho. A equipa relata ainda a presença de estruturas com uma morfologia e composição semelhantes a depósitos e estruturas tubulares de origem biológica observados no interior de rochas terrestres.

A descoberta foi divulgada na edição de Fevereiro da revista Astrobiology e promete relançar o debate no seio da comunidade científica sobre a possibilidade de existência de vida na superfície marciana. Entre os autores deste trabalho encontram-se o falecido David McKay e os seus colegas Everett Gibson e Kathie Thomas-Keprta, três investigadores da NASA que integraram a equipa de cientistas que em 1996 publicou um controverso artigo na revista Science anunciando a descoberta de microfósseis no meteorito marciano Allan Hills 84001.

O meteorito Yamato 000593.
Crédito: NASA.

O novo estudo foca-se em estruturas observadas no interior do meteorito Yamato 000593 (Y000593), uma rocha com 13,7 kg de peso descoberta por uma expedição japonesa em 2000, no glaciar Yamato, na Antártida. Análises realizadas em 2002 e 2003 revelaram que Y000593 é um meteorito de origem marciana, pertencente ao subgrupo dos nakhlitos - rochas ígneas formadas há 1,3 mil milhões de anos, a partir de fluxos de magma basáltico na superfície do planeta vermelho. Estas rochas foram ejectadas de Marte pelo impacto de um objecto há pouco mais de uma dezena de milhões de anos. Alguns exemplares atingiram a Terra, caindo em regiões tão distintas como a Antártida e o Norte de África. Y000593 é o maior representante de um desses fragmentos, um meteoróide que terá chegado ao nosso planeta há cerca de 50 mil anos.

"Embora as missões robóticas a Marte continuem a lançar luz sobre a história do planeta, os meteoritos marcianos são as únicas amostras de Marte disponíveis para estudo na Terra" afirmou Lauren White, investigadora do Laboratório de Propulsão a Jacto, nos EUA, e primeira autora do artigo. "Na Terra podemos usar múltiplas técnicas analíticas para olharmos de forma mais aprofundada para o interior dos meteoritos (...). Estas amostras oferecem pistas para a antiga habitabilidade do planeta."

Imagem de microscopia óptica mostrando veios ricos em iddingsito numa fina secção do meteorito Yamato 000593.
Crédito: NASA.

White e colegas observaram no interior de Y000593 uma rede de veios de cor acastanhada com centenas de micrómetros de comprimento, seccionando os cristais de olivina que formam parte da matriz do meteorito. Partindo destas estruturas, os investigadores encontraram microtúneis perpendiculares preenchidos por iddingsito, um mineral resultante da exposição da olivina a fluídos aquosos. Estas estruturas apresentam formas curvilíneas com dezenas de micrómetros de comprimento, semelhantes a estruturas de origem biológica descritas em vidros basálticos terrestres.

Estruturas esféricas embebidas numa camada de iddingsito, numa imagem de microscopia electrónica de varrimento. A área marcada a vermelho tem mais carbono que a área sem esférulas, marcada mais acima a azul.
Crédito: NASA.

A equipa liderada por White descobriu ainda aglomerados de esférulas embebidas em múltiplas camadas de iddingsito, com composição distinta dos carbonatos e das camadas vizinhas de silicatos. Estas formações têm entre 0,1 e 0,5 µm de diâmetro e são significativamente mais ricas em carbono que os minerais que as rodeiam. Estruturas idênticas foram também descritas no meteorito marciano Nakhla, um objecto que atingiu o Egipto em 1911, e que foi recuperado pouco tempo depois da sua queda.

De acordo com os investigadores, é possível que as esférulas de Y000593 tenham sido criadas por mecanismos abióticos. No entanto, a sua semelhança em tamanho, forma e composição a formações de origem biológica encontradas em amostras terrestres, deixa no ar a intrigante possibilidade destas estruturas poderem ser vestígios de antiga actividade biológica na superfície de Marte.

"Esta não é uma prova definitiva", disse White. "Nunca podemos eliminar a possibilidade de contaminação em nenhum meteorito. No entanto, estas estruturas são interessantes e mostram que estes meteoritos deverão continuar a ser estudados."

Podem ler mais sobre este trabalho aqui.