terça-feira, 29 de setembro de 2015

Descobertas evidências indiretas de fluídos hipersalinos transientes em encostas íngremes na superfície de Marte

Linhas de declive recorrentes com cerca de 100 metros de comprimento no pico central da cratera Horowitz, em Marte. Modelo tridimensional construído com imagens obtidas pela câmara HiRISE da sonda Mars Reconnaissance Orbiter, a 21 de outubro de 2007.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/Univ. of Arizona.

Cientistas da NASA anunciaram ontem a descoberta de novas evidências indiretas da presença transitória de pequenas quantidades de água líquida na superfície de Marte. Usando dados obtidos pelo instrumento Compact Reconnaissance Imaging Spectrometer for Mars (CRISM) da sonda Mars Reconnaissance Orbiter, a equipa liderada por Lujendra Ojha do Instituto de Tecnologia da Geórgia, nos Estados Unidos, detetou as assinaturas espetrais de minerais hidratados em encostas onde sazonalmente se formam estrias escuras denominadas linhas de declive recorrentes. Estas estruturas tendem a surgir nas vertentes mais soalheiras no interior de crateras e vales profundos, e tornam-se mais escuras e proeminentes durante a primavera e o verão, quando as temperaturas ultrapassam os -23 ºC.

Os cientistas tinham já sugerido a possibilidade das linhas de declive recorrentes poderem estar de alguma forma relacionadas com a formação de fluxos temporários de água líquida na superfície do planeta vermelho. Esta nova descoberta suporta de forma inequívoca essa hipótese. "Encontrámos sais hidratados apenas quando as estruturas sazonais eram mais amplas, o que sugere que as estrias escuras, ou um processo responsável pela sua formação, são a fonte da hidratação", explicou Ojha. "Em qualquer dos casos, a deteção de sais hidratados nestes declives significa que a água desempenha um papel vital na formação destas estrias."

Ojha e colegas observaram bandas específicas de hidratação em áreas muito circunscritas nos picos centrais das crateras Horowitz e Hale e nas paredes de Coprates Chasma e da cratera Palikir - locais onde se sazonalmente se formam linhas de declive recorrentes. O padrão de bandas é consistente com a presença de depósitos de sais hidratados constituídos por uma mistura de perclorato de magnésio (Mg(ClO4)2), clorato de magnésio (Mg(ClO3)2) e perclorato de sódio (NaClO4).

Os percloratos têm a capacidade de absorver a humidade atmosférica e de reduzir significativamente o ponto de congelação da água, pelo que a presença destes compostos favorece a ideia de que a água é absorvida a partir da atmosfera marciana até a um ponto em que se forma um fluído hipersalino na superfície. Este processo denomina-se deliquescência e é responsável pela formação de estruturas muito semelhantes às linhas de declive recorrentes nas encostas frias e áridas dos vales secos de McMurdo, na Antártida.

Apesar de representarem um importante passo na acumulação de conhecimento relativo ao papel da água na geologia de Marte, estes resultados são praticamente irrelevantes no que diz respeito à habitabilidade do planeta. De natureza efémera e corrosiva, estes fluídos são certamente demasiado inóspitos para que a vida tal como a conhecemos possa aí florescer.

Este trabalho foi publicado ontem na revista Nature Geoscience e será apresentado oralmente na próxima sexta-feira, numa das sessões do Congresso Europeu de Ciências Planetárias, a decorrer esta semana em Nantes, em França. Podem ler um pequeno resumo desta apresentação aqui.

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