domingo, 1 de novembro de 2015

A face de um cometa morto

2015 TB145 numa imagem de radar obtida pelo radiotelescópio de Arecibo, a 30 de outubro de 2015 (resolução: 7,5 metros por píxel).
Crédito: NAIC-Arecibo/NSF.

O asteroide que ontem passou nas proximidades da Terra poderá ser na verdade um cometa extinto. Oficialmente conhecido por 2015 TB145, este estranho objeto foi descoberto no passado dia 10 de outubro, pelo projeto Pan-STARRS, e sobrevoou o nosso planeta ontem, pelas 17:01 (hora de Lisboa), a uma distância segura de 486,8 mil quilómetros (aproximadamente 1,27 vezes a distância média que separa a Lua da Terra). Com centenas de metros de diâmetro, 2015 TB145 é considerado um objeto potencialmente perigoso, pelo que os cientistas aproveitaram este evento para estudarem em detalhe as suas características físicas.

Usando uma combinação de observações realizadas através do telescópio de infravermelhos do observatório de Mauna Kea (o IRTF), no Hawai'i, e do radiotelescópio de Arecibo, em Porto Rico, investigadores da NASA descobriram que 2015 TB145 é muito provavelmente um núcleo cometário que se despojou dos seus compostos voláteis após numerosas passagens nas proximidades do Sol. Esta conclusão é consistente com a extrema excentricidade (0,86) e elevada inclinação (39,7º) da sua órbita, que sugerem que este objeto é um antigo cometa da família de Júpiter.

"Descobrimos que este objeto reflete cerca de 6% da luz que recebe do Sol", explicou Vishnu Reddy, investigador do Instituto de Ciências Planetárias, em Tucson, Arizona, nos Estados Unidos, e o responsável pelas observações realizadas em Mauna Kea, no Hawai'i. "Este valor é semelhante ao do asfalto fresco, e embora aqui na Terra consideremos que é [um material] muito escuro, este objeto é ainda assim mais brilhante que um cometa típico, que reflete apenas 3 a 5% da luz. Isto sugere que poderá ter uma origem cometária - mas como não existe uma cabeleira evidente, a conclusão é a de que é um cometa morto."

O objeto 2015 TB145 numa sequência de 7 imagens de radar obtida pelo radiotelescópio de Arecibo, a 30 de outubro de 2015 (resolução: 7,5 metros por píxel).
Crédito: NAIC-Arecibo/NSF.

As primeiras imagens de radar captadas anteontem em Arecibo tinham já demonstrado que 2015 TB145 é um objeto arredondado com um período de rotação de cerca de 5 horas e um diâmetro aproximado de 600 metros. Estas dimensões são consideravelmente superiores às estimativas iniciais (300 a 400 metros), o que sugeria que 2015 TB145 era muito mais escuro que os típicos asteroides com órbitas próximas da órbita da Terra.

As imagens revelaram ainda que este objeto tem uma aparência muito adequada para o dia das bruxas. Duas formações circulares com baixa refletividade ao radar dão a 2015 TB145 um aspecto muito semelhante ao de uma caveira humana. Estas estruturas são muito provavelmente duas grandes crateras formadas por antigos impactos ou pela volatização de gelos na superfície do cometa. "Os dados do IRTF podem indicar que este objeto poderá ser um cometa extinto, mas nas imagens de Arecibo parece que se mascarou com um traje de uma caveira para a sua passagem [pela Terra] na noite das bruxas", disse Kelly Fast, cientista do programa IRTF e um dos responsáveis pelo programa de observações de objectos com órbitas próximas da órbita da Terra da NASA.

A influência gravitacional de 2015 TB145 é ínfima quando comparada com a da Terra, pelo que o encontro de ontem não teve qualquer efeito mensurável na Lua ou no nosso planeta. A aproximação à Terra produziu, no entanto, uma ligeira alteração na trajetória deste pequeno objeto - o suficiente para aumentar um pouco as incertezas nos seus parâmetros orbitais. Seja como for, as observações até agora realizadas permitem excluir qualquer risco de impacto com o nosso planeta para pelo menos os próximos dois séculos.

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