quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Sobrevoando os picos dos Montes Rook

Montes Rook, na orla setentrional de Mare Orientale. Imagem obtida pela sonda Lunar Reconnaissance Orbiter, a 01 de julho de 2016, a uma altitude de 79,3 km.
Crédito: NASA/GSFC/Arizona State University.

Esta imagem mostra uma pequena fração de Montes Rook, duas cadeias montanhosas em forma de anel que rodeiam a planície basáltica de Mare Orientale. Parte de uma extensa bacia de impacto com aproximadamente 930 km de diâmetro, estas montanhas são vestígios silenciosos das forças titânicas que moldaram a superfície da Lua ao longo de milhares de milhões de anos.

domingo, 28 de agosto de 2016

Juno completa com sucesso o seu primeiro encontro com Júpiter

O planeta Júpiter visto pela sonda Juno, a 27 de agosto de 2016, a uma distância de 703 mil quilómetros.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/SwRI/MSSS.

A sonda Juno executou ontem a sua primeira passagem perijoviana desde que entrou na órbita de Júpiter, no início do passado mês de julho. O encontro ocorreu pelas 14:44 (hora de Lisboa), a uma altitude aproximada de 4200 km acima das nuvens coloridas do planeta, e foi o primeiro que a sonda da NASA concretizou com os seus instrumentos científicos em pleno funcionamento. Na altura, a Juno viajava sobre a região equatorial do planeta, a uma velocidade estonteante de 208 mil quilómetros por hora!

"A telemetria recolhida logo após a passagem indica que tudo se encontra a funcionar de acordo com o planeado (...)", disse Rick Nybakken, responsável do projeto no Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, nos Estados Unidos.

"Estamos a receber alguns dados iniciais intrigantes (...)", afirmou Scott Bolton, investigador principal do projeto no Southwest Research Institute, nos Estados Unidos. "Iremos demorar alguns dias para recebermos todos os dados científicos recolhidos durante a passagem e ainda mais alguns para começarmos a compreender tudo aquilo que a Juno e Júpiter nos estão a tentar dizer."

Os primeiras resultados desta passagem só deverão ser disponibilizados dentro de alguns meses, no entanto a equipa da missão espera divulgar durante as próximas semanas uma mão cheia de imagens de alta resolução obtidas pela JunoCam, incluindo os primeiros vislumbres dos polos norte e sul do planeta. "Estamos numa órbita onde nunca ninguém havia estado", disse Bolton, "e estas imagens dão-nos toda uma nova perspetiva deste gigantesco mundo de gás."

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Sobrevoando a planície das vindimas

Terrenos pejados de crateras no interior de Vendimia Planitia, na superfície de Ceres. Composição construída com duas imagens obtidas pela sonda Dawn, a 30 de maio de 2016.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/UCLA/MPS/DLR/IDA/Sérgio Paulino.

Esta composição mostra uma pequena fração do interior de Vendimia Planitia, uma antiga depressão com cerca de 800 km de diâmetro e 3 a 4 km de profundidade, possivelmente formada pelo impacto de um gigantesco objeto na superfície de Ceres. Esta região recebeu o nome da Festa Nacional da Vendimia de Mendoza, na Argentina, um grandioso festival onde se celebra a colheita e produção do vinho.

Logo abaixo do centro temos a cratera Rao, uma estrutura com aproximadamente 12 km de diâmetro.

domingo, 21 de agosto de 2016

Pequeno outeiro em Murray Buttes

Um pequeno outeiro fotografado no interior da cratera Gale pelo robot Curiosity, a 17 de agosto de 2016.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/MSSS/Sérgio Paulino.

Esta imagem mostra um dos muitos montículos e mesas que agora ornamentam a paisagem em redor do Curiosity. Encabeçadas por rochas relativamente resistentes à ação erosiva dos ventos marcianos, estas formações preservam parte de um estrato que originalmente cobria as camadas sedimentares sobre as quais o robot da NASA atualmente viaja.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Titã tem canhões inundados com metano líquido

Os vales profundos de Vid Flumina, junto à costa meridional de Ligeia Mare, num mosaico em cores falsas construído com imagens de radar obtidas pela sonda Cassini.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/ASI.

Em 2012, imagens de radar obtidas pela Cassini revelaram a presença de uma bacia de drenagem com mais de 400 quilómetros de comprimento no extremo sul de Ligeia Mare, um dos três grandes mares de Titã. Na altura, os cientistas deduziram que esta vasta rede de drenagem, agora conhecida por Vid Flumina, teria sido esculpida por hidrocarbonetos líquidos. Contudo, mantinha-se a dúvida se o vale principal e os seus oito tributários permaneciam ainda inundados ou se teriam há muito secado.

A resposta surge agora, graças a um novo trabalho publicado na revista Geophysical Research Letters. Usando observações de radar realizadas pela sonda Cassini em maio de 2013, os autores identificaram, pela primeira vez, evidências diretas de que os vales de Vid Flumina são, na verdade, canhões estreitos preenchidos com hidrocarbonetos líquidos. Os canhões têm menos de 1 quilómetro de diâmetro e são delimitados por paredes com cerca de 40º de inclinação e com um máximo de 572 metros de altitude.

O radar de abertura sintética da Cassini é frequentemente usado como uma câmara capaz de penetrar através da densa atmosfera de Titã e revelar os contornos da superfície da lua de Saturno. No entanto, durante esta passagem, a equipa da missão utilizou o radar como um altímetro, medindo a altitude de diferentes formações na região do polo norte de Titã. A análise destes novos dados, em combinação com imagens de radar obtidas em passagens anteriores, permitiu aos investigadores não só medir a profundidade e inclinação das encostas dos vales de Vid Flumina, como também detetar a presença de áreas com elevada reflexão especular - uma característica típica de superfícies extremamente lisas como as dos mares e lagos de hidrocarbonetos de Titã. Na sua maioria, estas áreas encontravam-se à mesma altitude que a superfície de Ligeia Mare. No entanto, os investigadores identificaram também pequenos tributários com superfícies líquidas a altitudes superiores.

Tais vales com vertentes tão íngremes e profundas poderão ter resultado de uma variedade de processos geológicos, incluindo a elevação dos terrenos em redor e mudanças no nível de Mare Ligeia. "É provável que uma combinação destas forças tenha contribuído para a formação dos profundos canhões", disse Valerio Poggiali, investigador da Universidade de Roma, em Itália, e primeiro autor deste trabalho. "Contudo, neste momento, ainda não é claro até que ponto cada uma esteve envolvida. O que é claro é que, qualquer descrição da evolução da geologia de Titã, terá de ser capaz de explicar como se formaram estes canhões."

Podemos encontrar exemplos destes processos na Terra, ao longo do rio Colorado, nos Estados Unidos. No norte do estado do Arizona, a elevação da crusta terrestre fez com que, durante milhões de anos, o rio rasgasse na paisagem o Grand Canyon, um vale profundo com vertentes inclinadas que serpenteia ao longo 446 km. A montante, na fronteira entre o Arizona e o estado do Utah, a diminuição do nível da água no lago Powell (uma albufeira criada após a construção da barragem de Glen Canyon) intensificou os níveis de erosão nas encostas que ladeiam o rio. "A Terra é [um planeta] quente e rochoso, com rios de água, enquanto que Titã é frio e glacial, com rios de metano", afirmou Alex Hayes, investigador da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, e coautor deste trabalho. "Porém é notável que consigamos encontrar formações tão semelhantes em ambos os mundos."

No futuro, os investigadores irão aplicar o método usado neste estudo a outras bacias de drenagem detetadas pela Cassini na superfície de Titã, de forma a poderem continuar a sua busca por uma melhor compreensão dos processos que moldaram a paisagem deste pequeno mundo na órbita de Saturno.

Podem encontrar todos os detalhes deste trabalho aqui.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Veios minerais no interior da cratera Gale foram formados pela evaporação de antigos lagos

Buracos feitos na rocha John Klein, em Yellowknife Bay, pela broca do robot Curiosity. É possível ver alguns pequenos veios de sulfato na superfície da rocha (escala equivalente a 2 cm).
Crédito: NASA/JPL-Caltech/Malin Space Science Systems.

Uma equipa de investigadores descobriu novas evidências de que os veios minerais observados pelo robot Curiosity em Yellowknife Bay, no interior de cratera Gale, foram criados pela evaporação de antigos lagos marcianos. Usando um modelo computacional que prevê as deslocações do equilíbrio químico entre fluídos aquosos e matrizes rochosas sujeitos a diferentes condições físicas, os investigadores demonstraram que os veios minerais de Yellowknife Bay foram formados quando antigos sedimentos lacustres foram soterrados, aquecidos até a uma temperatura aproximada de 50 ºC e parcialmente corroídos por fluídos subterrâneos ascendentes.

"Com cerca de 20 vezes o teor de sulfato e de sódio da água mineral engarrafada, estas águas subterrâneas marcianas deveriam ter um sabor bastante desagradável", disse John Bridges, professor do Departamento de Física e Astronomia da Universidade de Leicester, no Reino Unido, e um dos coautores deste trabalho. "No entanto, (...) alguns microrganismos terrestres gostam de fluídos ricos em enxofre e ferro, porque podem usar estes dois elementos para produzir energia. Portanto, se tivermos em conta a questão da habitabilidade na cratera Gale, o sabor da água é uma notícia muito emocionante."

De acordo com os investigadores, a evaporação dos antigos lagos teria levado à formação de depósitos ricos em sílica e sulfato. Posteriormente, a dissolução desses depósitos - que os investigadores pensam estarem ainda presentes na série sedimentar da cratera Gale - terá levado à formação de veios de sulfato puro no interior das argilas litificadas de Yellowknife Bay. Os precipitados originais eram provavelmente constituídos por gesso gradualmente desidratado durante o processo de soterramento dos sedimentos lacustres ou por dissecação junto à superfície.

A equipa comparou a composição das soluções aquosas da cratera Gale com a de águas superficiais e subterrâneas terrestres, e a dos fluídos que se pensa terem sido responsáveis pela precipitação de minerais no interior de meteoritos marcianos e de rochas analisadas na superfície de Marte pelos robots Spirit e Opportunity. Os resultados sugerem que os fluídos diagenéticos de Yellowknife Bay eram ligeiramente alcalinos, e com concentrações relativamente mais elevadas de sódio, potássio e silício, e baixos teores de magnésio, ferro e alumínio.

Os investigadores descobriram ainda que as argilas litificadas da cratera Gale apresentam características análogas às de antigos sedimentos lacustres do Período Triásico encontrados em Watchet Bay, na região sudoeste da Grã-Bretanha, o que suporta o modelo de formação dos veios de sulfato usado neste estudo. "Este resultado fornece evidências adicionais da longa e variada história da água na cratera Gale", afirmou Ashwin Vasavada, investigador da missão Curiosity no Laboratório de Propulsão a Jato, nos Estados Unidos. "Devem ter estado presentes várias gerações de fluídos, cada um com a sua química singular, para explicar o que hoje encontramos no registo geológico [no interior da cratera Gale]."

Este trabalho foi publicado na revista Meteoritics and Planetary Science e está disponível aqui.

domingo, 14 de agosto de 2016

Atividade vulcânica em Mercúrio cessou há aproximadamente 3,5 mil milhões de anos

Mercúrio visto pela sonda MESSENGER, a 06 de outubro de 2008.
Crédito: NASA/Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory/Carnegie Institution of Washington/Gordan Ugarkovic.

Um novo modelo baseado na contagem e medição de crateras em planícies vulcânicas de Mercúrio sugere que os principais episódios de atividade vulcânica na superfície do planeta ocorreram pela última vez há aproximadamente 3,5 mil milhões de anos. Este trabalho foi divulgado na semana passada num artigo publicado na revista Geophysical Research Letters e é um importante contríbuto para uma imagem mais nítida da evolução geológica do mais pequeno planeta do Sistema Solar.

Existem dois tipos principais de vulcanismo: o efusivo e o explosivo. O vulcanismo explosivo está associado a magmas muito viscosos e com maior quantidade de gases retidos no seu interior, pelo que resulta com frequência em eventos muito violentos, com produção de grandes quantidades de cinzas e detritos. O vulcanismo do tipo efusivo tem, por seu lado, origem em magmas bastante mais fluídos e com uma pequena quantidade de gases aprisionados, pelo resulta geralmente na formação de edifícios vulcânicos baixos, com produção de extensas escoadas lávicas que se espalham lentamente pela paisagem em redor - um processo que se pensa ser fundamental para a génese da crusta dos planetas telúricos.

A determinação das idades absolutas dos depósitos criados pelo vulcanismo efusivo pode dar aos investigadores mais informações acerca da história geológica de um planeta. Por exemplo, enquanto que a Terra exibe atualmente atividade vulcânica efusiva na sua superfície, este tipo de vulcanismo esteve presente apenas até há algumas centenas de milhões de anos em Vénus, e até há alguns milhões de anos em Marte. Em Mercúrio, a duração da atividade vulcânica efusiva permaneceu, porém, até agora, relativamente desconhecida.

Mapa de Mercúrio com as 9 planícies vulcânicas incluídas neste estudo identificadas a azul escuro. A rosa estão assinaladas grandes planícies (e um pequeno humanóide!) onde em trabalhos anteriores foi analisada a frequência e dimensão de crateras. As áreas assinaladas a azul claro são outras pequenas planícies não incluídas neste estudo.
Crédito: Byrne et al., 2016.

Usando imagens obtidas pela sonda MESSENGER, uma equipa de investigadores liderada pelo geólogo planetário Paul Byrne da Universidade Estatal da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, determinou com precisão o momento em que cessaram os principais fenómenos vulcânicos responsáveis pela formação da crusta de Mercúrio. Uma vez que não existem amostras da superfície do planeta que pudessem ser usadas para datação radiométrica, os investigadores recorreram à análise da frequência e dimensão de crateras em planícies vulcânicas mercurianas para construir um modelo matemático capaz de calcular as idades absolutas dos depósitos vulcânicos efusivos de Mercúrio.

Os resultados sugerem que as principais manifestações de atividade vulcânica na superfície de Mercúrio ocorreram até há aproximadamente 3,5 mil milhões de anos, o que contrasta fortemente com as idades dos depósitos vulcânicos mais recentes identificados em Vénus, na Terra e em Marte.

"Existem enormes diferenças geológicas entre Mercúrio e a Terra, Marte ou Vénus", explicou Byrne. "Mercúrio tem um manto ([a região] onde o decaimento radioativo produz calor) muito mais pequeno que o dos outros planetas, pelo que perdeu o seu calor muito mais cedo. Como resultado, Mercúrio começou a contrair, e a crusta vedou essencialmente quaisquer condutas através das quais o magma poderia alcançar a superfície. Estes novos resultados validam previsões com 40 anos acerca do papel do arrefecimento e contração global na cessação do vulcanismo em Mercúrio. Agora que podemos explicar as observações das propriedades vulcânicas e tectónicas de Mercúrio, temos uma história consistente para a sua formação e evolução, bem como uma nova visão sobre o que acontece quando corpos planetários arrefecem e contraem."

Podem encontrar todos os detalhes deste novo trabalho aqui.

sábado, 13 de agosto de 2016

Simulações sugerem que Vénus poderá ter tido no passado condições favoráveis à vida

Trânsito de Vénus visto pelo Solar Dynamics Observatory, a 06 de junho de 2012.
Crédito: NASA/SDO.

Uma equipa de investigadores liderada pelo Michael Way, do Instituto Goddard para os Estudos Espaciais da NASA, nos Estados Unidos, utilizou um modelo climático criado para o estudo do clima terrestre para simular a evolução das condições ambientais na superfície de Vénus desde há 2,9 milhares de milhões de anos. Os resultados foram divulgados num artigo submetido esta semana à revista Geophysical Research Letters e sugerem que o planeta poderá ter albergado condições favoráveis à vida durante aproximadamente 2 mil milhões de anos.

Vénus é hoje um planeta extremamente hostil. Esmagado por uma densa atmosfera de dióxido de carbono, a sua superfície alcança temperaturas suficientemente elevadas para derreter metais como o chumbo, o estanho e o zinco. Simulações criadas por Way e colegas sugerem, no entanto, que este mundo infernal poderá ter sido no passado radicalmente diferente.

Partindo da hipótese de que, há milhares de milhões de anos, Vénus e a Terra tinham condições ambientais semelhantes, os investigadores criaram quatro possíveis cenários para o futuro do planeta, utilizando um modelo climático desenvolvido para o estudo da evolução do clima terrestre. Cada cenário incluía a presença de um oceano de água líquida cobrindo cerca de 60% do planeta e diferia ligeiramente dos restantes em alguns parâmetros físicos, como por exemplo, a gama de temperaturas superficiais, o fluxo de radiação solar incidente ou o período de rotação de Vénus.

Depois de correrem as simulações, os investigadores descobriram que um dos cenários resulta num planeta com temperaturas suficientemente baixas para suportar a vida tal como a conhecemos. Estas condições incluíam a presença de densas nuvens na atmosfera e a acumulação de neve nas montanhas mais elevadas, e persistiram até há aproximadamente 715 milhões de anos, período em que a Terra era já povoada por organismos eucariotas. As simulações não avançaram além desse período, pelo que não foram identificados os fenómenos que poderão ter sido responsáveis pela formação das condições atualmente existentes. Ainda assim, a comparação entre os diferentes cenários sugere que foi a diminuição do período de rotação o principal responsável pelo rápido aumento das temperaturas na superfície do planeta.

Podem encontrar todos os detalhes deste trabalho aqui.

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Menos um cometa no Sistema Solar

Últimos momentos da vida de um cometa numa sequência de imagens obtidas a 04 de agosto de 2016 pelo coronógrafo LASCO C2 do observatório espacial SOHO. O círculo branco representa os limites do disco solar.
Crédito: ESA/NASA/SOHO/Joy Ng.

Esta animação mostra um pequeno cometa atravessando a coroa solar a uma velocidade vertiginosa de quase 2,1 milhões de quilómetros por hora! Descoberto na passada segunda-feira em imagens obtidas pelo Solar and Heliospheric Observatory (SOHO), este cometa é um membro da família Kreutz, um grupo de cometas com órbitas semelhantes resultante da fragmentação de um único progenitor, há aproximadamente 2500 anos.

Aparentemente, este fragmento não sobreviveu à viagem. Tal como muitos outros cometas rasantes, esta pequena bola de gelo e poeira foi provavelmente esmagada e vaporizada pelo ambiente infernal que rodeia a nossa estrela.

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Sombra de Júpiter provoca o colapso da atmosfera de Io

Io e Júpiter vistos pela sonda Cassini, a 29 de dezembro de 2000.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/Gordan Ugarkovic.

Cientistas observaram o colapso da fina atmosfera de Io durante a passagem da lua joviana pela sombra de Júpiter. A descoberta foi divulgada ontem num artigo publicado na revista Journal of Geophysical Research e sugere que os gases libertados pelos vulcões de Io são diretamente convertidos em gelo quando a lua atravessa a sombra do planeta. "Esta foi a primeira vez que este extraordinário fenómeno foi observado diretamente pelos cientistas", disse Constantine Tsang, investigador do Southwest Research Institute, nos Estados Unidos, e primeiro autor deste trabalho.

Com mais de 400 vulcões activos na sua superfície, Io é o objecto geologicamente mais activo do Sistema Solar. Os vulcões são uma consequência da dissipação do calor de maré produzido pela fricção gerada no interior de Io pela ação concertada das forças gravitacionais de Júpiter e das luas Europa e Ganimedes. Muitos destes vulcões geram gigantescas plumas compostas por dióxido de enxofre (SO2) e materiais piroclásticos, que se elevam até 483 km acima da superfície ioniana.

Usando o telescópio Gemini-norte de 8,1 metros, localizado no Hawaii, os investigadores monitorizaram as alterações nas emissões térmicas dos gases vulcânicos que compõem a fina atmosfera de Io, durante a sua passagem pela sombra de Júpiter. As observações foram realizadas nas noites de 17 e 24 de novembro de 2013, quando Io se encontrava a mais de 676 milhões de quilómetros de distância da Terra. Os eclipses ionianos duram cerca de 2 horas e ocorrem uma vez em cada órbita (Io tem um período orbital aproximado de 42 horas e 28 minutos). Em ambas as ocasiões, os cientistas observaram a lua ao longo de 40 minutos antes do seu ingresso na sombra de Júpiter e de 50 minutos logo após o início do eclipse.

Os dados recolhidos mostram que a pressão de SO2 junto à superfície de Io cai dramaticamente quando as temperaturas descem de -148 ℃ para -168 ℃, logo após o ingresso da lua na sombra do planeta. Estes resultados sugerem que a atmosfera de Io colapsa durante cada eclipse, devido provavelmente à deposição do SO2 atmosférico na superfície da lua sob a forma de gelo, e que volta a pressurizar-se assim que a lua é novamente banhada pela luz solar.

"Isto confirma que a atmosfera de Io está constantemente num estado de colapso e reparação, e mostra que uma grande fração da atmosfera é suportada pela sublimação do gelo de SO2", explicou John Spencer, investigador do Southwest Research Institute, e coautor deste trabalho. "Embora os vulcões hiperativos de Io sejam a principal fonte de SO2, a luz solar controla a pressão atmosférica numa base diária através do controlo da temperatura do gelo na superfície. Há muito que suspeitávamos disto, mas agora pudemos ver finalmente [este fenómeno] a acontecer."

Podem encontrar todos os detalhes deste trabalho aqui.