sábado, 29 de outubro de 2016

Catálogo de asteroides com órbitas próximas da órbita da Terra inclui agora 15 mil objetos!

O asteroide 25143 Itokawa visto pela sonda japonesa Hayabusa, a 01 de novembro de 2005. Itokawa é um NEA com um 535 metros de comprimento.
Crédito: ISAS/JAXA.

São agora conhecidos mais de 15 mil asteroides com órbitas próximas da órbita da Terra (NEAs). Este número corresponde a um aumento de 50% relativamente ao número de NEAs catalogados até agosto de 2013, o que significa que foi alcançada uma média de 30 novas descobertas por semana.

O 15000º NEA recebeu a designação provisória de 2016 TB57 e foi descoberto a 13 de outubro, por membros da equipa do Mount Lemmon Survey, um projeto pertencente ao Catalina Sky Survey, um programa de deteção de asteroides potencialmente perigosos financiado pela NASA. 2016 TB57 tem entre 16 a 36 metros de diâmetro e irá aproximar-se da Terra no próximo dia 31 de outubro, a uma distância de cerca de 2,0 milhões de quilómetros - um valor equivalente a mais de 5 vezes a distância que separa a Lua do nosso planeta.

Os NEAs são asteroides cujas as órbitas têm um periélio inferior a 1,3 UA. Os investigadores estimam que foram já catalogados mais de 90% dos objetos com órbitas próximas da órbita da Terra (NEOs). "O aumento da taxa de descobertas deve-se aos programas dedicados à deteção de NEOs e aos telescópios remodelados que foram integrados na rede nos últimos anos", disse o responsável pelo programa de observação de NEOs da NASA, Kelly Fast. "Contudo, apesar de estarmos a fazer grandes progressos, temos ainda um longo caminho a percorrer."

Pensa-se que foram descobertos apenas 27% da população estimada de NEAs com mais de 140 metros de diâmetro, pelo que a NASA está empenhada em continuar a investir na atualização de telescópios e na sua inclusão nos programas de deteção de NEAs. Estes programas foram já responsáveis pela descoberta de mais de 95% dos NEAs até agora catalogados.

"Embora, até ao momento, nenhum NEO conhecido tenha representado uma ameaça para a Terra nos próximos 100 anos, [a verdade] é que encontrámos principalmente os asteróides maiores", disse o responsável do Gabinete de Coordenação de Defesa Planetária da NASA, Lindley Johnson. "Resta-nos agora encontrar os asteroides mais pequenos, mas ainda assim potencialmente perigosos."

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Uma cicatriz na face de Mimas

A lua Mimas vista pela sonda Cassini, a 22 de outubro de 2016.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/Space Science Institute/Sérgio Paulino.

Esta imagem mostra a lua Mimas e a sua imponente cratera Herschel, uma profunda cicatriz formada pelo impacto de um objeto de grandes dimensões há aproximadamente 4,1 mil milhões de anos.

Com um diâmetro equivalente a cerca de 1/3 do diâmetro de Mimas, Herschel confere à pequena lua de Saturno uma aparência muito semelhante à da Estrela da Morte, a icónica estação espacial da saga cinematográfica A Guerra das Estrelas.

A imagem resulta de uma combinação de fotografias obtidas através de filtros para comprimentos de onda específicos nas regiões do ultravioleta, do verde e do infravermelho, o que permite evidenciar a presença de variações subtis na coloração dos terrenos em redor de Herschel.

domingo, 16 de outubro de 2016

Um longo e sinuoso canal na região de Tharsis

Um extenso canal na região de Tharsis. Imagem obtida pela sonda Mars Reconnaissance Orbiter, a 31 de março de 2016.
Crédito: NASA/JPL/University of Arizona.

A região de Tharsis encontra-se coberta por antigos fluxos de lava, alguns confinados no interior de canais. Alguns destes canais assemelham-se, contudo, a estruturas esculpidas pela passagem de água.

Nesta imagem podemos observar um canal pouco profundo ladeado pelos contornos irregulares do que parece ser um antigo fluxo de lava. Localizada a sul de Olympica Fossae, esta estrutura estende-se por aproximadamente 115 km e mantém um diâmetro mais ou menos consistente de cerca de 500 metros ao longo de todo o seu comprimento.

Uma possível explicação para a sua morfologia é a de que uma torrente de água subterrânea terá fluido violentamente através de um canal de lava preexistente. Outra possiblidade é a de que os fluxos de lava que criaram este canal seriam compostos por lavas com uma viscosidade muito baixa.

Imagens como esta oferecem aos cientistas pistas fundamentais para compreenderem a história vulcânica da região de Tharsis, bem como possíveis interações de fluxos de água provenientes do subsolo com as paisagens vulcânicas do planeta vermelho.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Arcos magnéticos sobre a superfície do Sol

Arcos magnéticos sobre a região ativa 2597. Esta imagem foi obtida pelo instrumento Atmospheric Imaging Assembly do Solar Dynamics Observatory, através de um filtro para o comprimento de onda de 171 Å. Foi incluída uma representação da Terra para dar uma ideia das dimensões destas estruturas.
Crédito: Solar Dynamics Observatory/NASA.

Na semana passada, o Solar Dynamics Observatory obteve um conjunto de espetaculares imagens de um grupo de arcos magnéticos pairando acima da região ativa 2597. Estas regiões são áreas na superfície do Sol com campos magnéticos particularmente poderosos e complexos.

As linhas de campo que se elevam acima das regiões ativas são iluminadas por um intenso tráfego de partículas solares carregadas, o que as tornam particularmente óbvias em imagens como esta, obtida num comprimento de onda específico na região do ultravioleta extremo.

domingo, 2 de outubro de 2016

Rosetta despede-se com um impacto na superfície do cometa 67P/Churyumov–Gerasimenko

Momento em que o sinal da Rosetta começa a desaparecer nos monitores do centro de controlo da ESA.
Crédito: ESA.

A Rosetta terminou anteontem a sua prolífica missão com um impacto controlado na superfície do cometa 67P/Churyumov–Gerasimenko. A confirmação do final da missão foi dada no centro de controlo da ESA, em Darmstadt, na Alemanha, pelas 12:19 (hora de Lisboa), com a perda do sinal da Rosetta no momento do impacto.

A sonda europeia tinha sido colocada numa rota de colisão com o cometa na passada quinta-feira, pelas 21:50 (hora de Lisboa), depois de completar uma última manobra a uma altitude de cerca de 19 km. O alvo escolhido foi uma pequena área junto a um dos poços ativos da região de Ma'at, no lobo mais pequeno do cometa.

A descida deu à Rosetta a oportunidade de estudar os gases, poeiras e partículas de plasma que rodeiam o cometa muito perto da sua superfície, bem como obter várias imagens em alta resolução. Os poços são de particular interesse porque desempenham um papel importante na atividade do cometa e fornecem também uma janela única para desvendar detalhes da sua estrutura interna.

"A Rosetta entrou mais uma vez para os livros de história", disse o diretor geral da ESA, Johann-Dietrich Wörner. "Celebramos hoje o sucesso de uma missão inédita, que superou todos os nossos sonhos e expetativas, e que continua o legado da ESA enquanto pioneiros em cometas."

"Graças a um enorme esforço internacional de longas décadas, conseguimos levar para um cometa um laboratório de ciência de classe mundial para estudar a sua evolução ao longo do tempo - algo que nenhuma outra missão a um cometa se tinha aventurado a fazer", acrescentou o diretor do departamento de ciência da ESA, Álvaro Giménez. "A Rosetta já estava no papel mesmo antes da Giotto, a primeira missão interplanetária da ESA, ter obtido a primeira imagem de um núcleo de um cometa, quando passou junto ao [cometa] Halley em 1986. A missão atravessou carreiras inteiras, e os dados obtidos irão manter ocupadas gerações de cientistas por décadas vindouras."

Última imagem da sonda Rosetta, obtida a aproximadamente 20 metros de distância da superfície do cometa 67P/Churyumov–Gerasimenko (resolução aproximada: 5 mm/píxel).
Crédito: ESA/Rosetta/MPS para a equipa OSIRIS/UPD/LAM/IAA/SSO/INTA/UPM/DASP/IDA.

"Além de ser um triunfo científico e técnico, a incrível viagem da Rosetta e do seu companheiro Philae capturou também a imaginação do mundo, envolvendo novas audiências muito além da comunidade científica", afirmou Mark McCaughrean, conselheiro científico sénior da ESA. "Foi emocionante ter toda a gente a bordo."

Em 2004, a Rosetta partiu para uma viagem interplanetária de quase 8 mil milhões de quilómetros, que incluiu três voos rasantes à Terra e um a Marte, bem como dois encontros com os asteroides 2867 Šteins e 21 Lutécia. A sonda passou 31 meses em hibernação na parte mais distante da sua viagem, antes de acordar em janeiro de 2014 e alcançar, finalmente, o cometa em agosto de 2014. Depois de se tornar a primeira sonda espacial a orbitar um cometa, e a primeira a lançar um módulo de aterragem, a Rosetta continuou a acompanhar a evolução do cometa durante e após a sua passagem periélica.

"Operámos no ambiente inóspito do cometa durante 786 dias, fizemos uma série de sobrevoos dramáticos perto da sua superfície, sobrevivemos a várias explosões inesperadas do cometa, e recuperámos de dois 'modos de segurança' na sonda", disse o gerente de operações Sylvain Lodiot. "As operações nesta fase final desafiaram-nos mais do que nunca, mas [este] é o final apropriado para a incrível aventura da Rosetta."

A decisão de terminar a missão desta forma resulta do facto da Rosetta e do cometa se encontrarem agora, mais uma vez, muito próximos da órbita de Júpiter - uma região onde a radiação solar é demasiado fraca para manter os instrumentos da sonda em funcionamento. Os operadores da missão foram também confrontados com a chegada iminente de um período de um mês em que o cometa se encontra na direção do Sol, o que teria tornado as comunicações com a Terra cada vez mais difíceis.

"Com a decisão de levar a Rosetta para a superfície do cometa, levámos a um novo expoente o retorno científico da missão", disse um dos responsáveis da missão, Patrick Martin. "É um final agridoce, mas no fim foi a mecânica do sistema solar que esteve simplesmente contra nós. O destino da Rosetta foi decidido há muito tempo, mas as suas extraordinárias proezas permanecerão para a posteridade e serão utilizadas pela próxima geração de jovens cientistas e engenheiros em todo o mundo".

A região de Ma'at vista pela sonda Rosetta horas antes do impacto na superfície do cometa. As imagens que compõem este mosaico foram obtidas a uma altitude de cerca de 5,7 km e incluem o local de impacto (área próxima do limite inferior do mosaico).
Crédito: ESA/Rosetta/MPS para a equipa OSIRIS/UPD/LAM/IAA/SSO/INTA/UPM/DASP/IDA/Sérgio Paulino.

Apesar do lado operacional da missão ter sido concluído, a análise científica vai continuar por muitos anos vindouros. Muitas descobertas surpreendentes foram já realizadas durante a missão, incluindo a curiosa forma do cometa, que se tornou evidente durante a aproximação da Rosetta, em julho e agosto de 2014. Os cientistas pensam agora que os dois lobos do cometa se formaram de forma independente, juntando-se numa colisão a baixa velocidade nos primórdios da formação do Sistema Solar.

A monitorização a longo prazo mostrou também o quão importante é a forma do cometa na variações da temperatura na sua superfície, e para explicar as variações medidas na densidade e composição da cabeleira, a "atmosfera" do cometa. Alguns dos resultados mais inesperados estão relacionados com os gases que fluem de núcleo do cometa, incluindo a descoberta de oxigénio molecular e azoto, e de água com um "sabor" diferente do dos oceanos terrestres. Juntos, estes resultados apontam para que o cometa tenha nascido numa região muito fria da nebulosa protoplanetária, quando o Sistema Solar ainda se estava a formar, há mais de 4,5 mil milhões de anos.

Outra questão que os cientistas ansiavam por responder era se os cometas poderiam ter trazido para a Terra ingredientes considerados fundamentais para a origem da vida. A Rosetta não dececionou ao detetar na nuvem de gás e poeira que rodeia o núcleo do cometa 67P/Churyumov–Gerasimenko o aminoácido glicina, o mais pequeno dos 20 aminoácidos que compõem as proteínas, e fósforo, um componente chave do ácidos nucleicos e das membranas celulares. Numerosos outros compostos orgânicos foram também detetados pela Rosetta a partir da sua órbita, e pelo Philae in situ na superfície do cometa.

No geral, os resultados obtidos pela Rosetta, retratam os cometas como antigas sobras das primeiras fases de formação do Sistema Solar, em vez de fragmentos de colisões mais tardias entre corpos de maiores dimensões, dando uma visão sem precedentes sobre o que os blocos de construção dos planetas podem ter sido há cerca de 4,6 mil milhões de anos.

"Tal como a pedra de Roseta, a partir da qual se deu o nome a esta missão, foi fundamental para compreender a linguagem antiga e a história, o vasto tesouro de dados da sonda Rosetta está a mudar a nossa visão sobre a forma como os cometas e o Sistema Solar se formaram”, disse o investigador principal do projeto Matt Taylor. “Inevitavelmente, temos agora novos mistérios para resolver. O cometa não desvendou ainda todos os seus segredos, e há com certeza muitas surpresas escondidas neste incrível arquivo."